Um par de estrelas "próximas" da Terra passará a ser visível a olho nu dentro de poucos anos. Um estudo liderado pelo astrônomo Augusto Damineli, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, descobriu que a nuvem de poeira cósmica que encobre a visão de Eta Carinae, um sistema binário formado por duas estrelas ligadas entre si, está se dissipando e deve desaparecer por completo em aproximadamente 10 anos.
O artigo sobre a descoberta foi publicado na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society em 4 de janeiro deste ano.
Damineli conta ao Jornal da USP que a Eta Carinae possui "fãs" no mundo todo. O par de estrelas fica a 7,5 mil anos-luz da Terra, na Constelação de Carina. "Em 1845 aconteceu uma grande erupção, que aumentou seu brilho e a tornou visível até durante o dia. Essa mesma erupção lançou uma nuvem de poeira cósmica que dificultou sua observação. A estrela principal continuou a brilhar escondida atrás da poeira com uma potência de cinco milhões de sóis, o que está no limite teórico, um pouco mais que isso ela evapora. Nos últimos 20 anos, astrônomos detectaram um aumento do brilho da Eta Carinae, que se fosse dela mesmo já teria ultrapassado esse limite. Com isso, surgiu a hipótese de que ela explodiria dentro de algumas décadas", revela Daminelli.
O professor coordenou uma equipe de 17 pesquisadores do Brasil, Argentina, Alemanha, Canadá, e Estados Unidos, que analisou todos os dados de observação disponíveis sobre a Eta Carinae dos últimos 80 anos. O conjunto principal de dados vem de mais de 60 mil observações, a maioria feita por estudantes de Astronomia no telescópio da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, entre 2003 e 2015. "Elas foram comparadas com os dados do telescópio espacial Hubble [da Nasa], que corrigiram as distorções das observações do solo e proporcionaram imagens de qualidade excepcional da Eta Carinae, separando-a da nebulosa do Homúnculo que a cerca", diz o astrônomo brasileiro.
Augusto Daminelli calcula que em cerca de 10 anos a nuvem de poeira se dissipará por completo. "Ainda não é possível determinar uma data com precisão, pois só quando se constata o efeito é possível monitorar de forma mais detalhada sua realização, mas o processo deverá terminar até 2032. É como quando se vê o Sol aparecer por entre as nuvens em um dia dublado. Você pensa que o Sol está mais brilhante, mas na verdade ele continua com brilho igual", comenta o professor ao Jornal da USP.
Sem a nuvem, a visibilidade da Eta Carinae será semelhante a uma das estrelas da Constelação do Cruzeiro do Sul. "Por mais de meio século os cientistas acreditaram que a Eta Carinae era 'malcomportada', cheia de 'tiques' e que vivia 'aprontando'. No entanto, daqui a alguns poucos anos será possível constatar que as estrelas são comportadas e com brilho estável, e que o meio interestelar ao redor dela é que causava uma aparente anormalidade".
Ainda de acordo com o cientista, a importância da descoberta é que o fenômeno permitirá um mapeamento completo da Eta Carinae. Durante um período de cinco anos após o fim da nuvem de poeira ela terá um brilho oscilante, causado pela colisão entre os ventos das estrelas companheiras, e calcula-se que em 2036 ele ofuscará completamente a nebulosa onde está localizada.
(com Agência Brasil)