Pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, analisaram amostras de fezes de moradores de oito países (Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Finlândia, Reino Unido e Áustria) e descobriram que todos estavam contaminados com microplásticos. A equipe identificou até nove tipos diferentes desse material que polui rios e oceanos, incluindo polietileno e tereftalato de polietileno (PET), em tamanhos que variaram de 50 a 500 micrômetros (mil vezes menor que um milímetro).
"É o primeiro estudo desse tipo a comprovar o que suspeitávamos havia muito tempo: os plásticos acabam atingindo o intestino humano", afirma o cientista Philipp Schwabl, principal autor do estudo, em entrevista ao jornal Correio Braziliense. Os resultados foram apresentados em outubro de 2018 no Congresso Europeu de Gastroenterologia, realizado em Viena.
A questão, agora, é entender como se dá a ingestão dos microplásticos. O pesquisador Ji-Su Kim, do departamento de Ciência Marinha da Universidade Nacional Incheon, na Coreia do Sul, juntamente com outros colegas, analisaram 39 marcas de sal marinho procedentes de 21 países. Apenas três delas não continham vestígios do material: uma da China, uma de Taiwan e outra da França. "Nossa descoberta mostra que os plásticos que descarregamos no ambiente retornam proporcionalmente. Ainda não conhecemos bem os riscos disso. No entanto, considerando a nossa estimativa, a ingestão de sal parece ser um pequeno contribuinte para o consumo global de microplásticos", comenta Kim, no artigo que foi publicado em outubro na revista científica Environmental Science and Technology.
Outra forma de consumo indireto de plástico é por meio da água. Pesquisadores americanos analisaram 159 amostras retiradas de torneiras de diferentes países e identificaram resíduos em 81% delas. "Uma das descobertas surpreendentes foi que, juntas, as nações desenvolvidas tinham densidade de microplásticos por litro de água encanada igual à de cada uma das nações em desenvolvimento", revela Mary Kosuth, pesquisadora da Universidade de Minnesota (EUA) e autora do estudo, em conversa com o Correio.
Segundo a cientista, faltaram elementos para explicar a diferença de concentração entre os países. "Precisamos analisar outros fatores, como a densidade populacional, a fonte, os métodos de filtragem, o uso de plástico e a coleta e reciclagem, para entender como eles contribuem para esse resultado", diz Kosuth.
Para a especialista, a melhor coisa a se fazer para controlar o problema de contaminação é reduzir o consumo de itens plásticos descartáveis de uso único, como canudos e copos. "Não temos pensado na consequência quando os jogamos fora. Se você for para casa e encontrar o ralo entupido, a torneira funcionando e a pia transbordando, não vai pegar o esfregão. Provavelmente, vai desligar a torneira. Precisamos resolver o problema diretamente na fonte. Também devemos dar uma boa olhada nas alternativas de polímeros verdadeiramente biodegradáveis", afirma a cientista americana.