Conhecido por ter a capacidade de reproduzir sons e falas humanas, o papagaio-comum (Amazona aestiva) também possui algumas características cognitivas similares às dos humanos. Um estudo descobriu que essa ave supera até mesmo alguns primatas em algumas medidas de inteligência, o que pode se configurar como promissor modelo experimental para elucidar a base genética da cognição do Homo sapiens.
O sequenciamento do DNA desse papagaio brasileiro propiciou a descoberta de novos genes relacionados à cognição. Isso faz parte de uma pesquisa que foi publicada no final do ano passado na revista científica Current Biology. O trabalho é fruto de estudo realizado em cinco anos de colaboração entre pesquisadores da UFMG e outras instituições brasileiras e estrangeiras, como as universidades de São Paulo (USP), do Oregon (EUA) e das federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Pará (UFPA).
Embora os cientistas já soubessem que o Amazona aestiva apresentava habilidades cognitivas, comunicação vocal altamente desenvolvida e vida longa em comparação com outras aves de tamanho semelhante, a base genética dessas características permanecia desconhecida.
"As descobertas trazem novos insights sobre a genética e a evolução da longevidade e da cognição, além de fornecerem novos alvos para exploração de hipóteses sobre o funcionamento do cérebro e o desenvolvimento cognitivo na espécie humana e nos demais vertebrados", comenta o cientista Fabrício Santos, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, um dos autores do artigo, em matéria divulgada pelo portal da universidade mineira.
Os pesquisadores observaram várias características genômicas únicas em papagaios, incluindo novos genes específicos e sequências reguladoras de genes conhecidos. Foram identificados no cérebro das aves alguns genes com funções conhecidas no desenvolvimento neural ou circuitos cerebrais de aprendizagem vocal.
Foram identificadas também informações genéticas comuns com as de outras quatro espécies de psitacídeos (família dos papagaios) e o que é exclusivamente do Amazona aestiva.
Fabrício Santos lembra que os vertebrados (incluindo aves e mamíferos) têm em torno de 25 mil genes, e que o desafio é identificar quais genes estão associados a características complexas específicas, como cognição e longevidade. "Ainda não conhecemos bem o cérebro. Por evidências indiretas, sabe-se de algumas áreas relacionadas à cognição, à fala e à compreensão, mas não se sabe exatamente como se dão os processos, por exemplo, de memória e raciocínio", afirma o pesquisador à reportagem da UFMG.
Vida longa
Em relação à longevidade, a pesquisa identificou genes previamente associados à determinação do tempo de vida e várias centenas de novos genes candidatos. Segundo o estudo, eles dão suporte a uma gama de funções, incluindo controle de proliferação celular, câncer, imunidade e mecanismos anti-oxidantes e atividade da telomerase, isto é, de reparo de danos no DNA.
Os papagaios são bem conhecidos por terem uma vida considerada "longa".
(com portal da UFMG).