Os pesquisadores Leonardo Almeida, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, além de outros astrônomos brasileiros, descobriram um exoplaneta gigante – 13 vezes maior do que Júpiter – que orbita duas estrelas (sistema binário). O fenômeno pode ser considerado "exótico", já que, até pouco tempo atrás, os astrônomos questionavam a existências de planetas com dois sóis. Os resultados da observação, que durou seis anos, foram publicados na revista científica The Astronomical Journal.
Para Augusto Damineli, em entrevista ao Jornal da USP, o exoplaneta pode ser considerado de segunda geração. "Se fosse de primeira geração teria nascido junto com as duas estrelas, mas não é esse o caso, já que no sistema binário em questão, uma das estrelas está morta", afirma o cientista. Segundo ele, um planeta de segunda geração nasce, em geral, após a morte de uma das estrelas do sistema binário, que se torna anã branca.
A localização do planeta gigante se deu graças à sonda espacial Kepler, lançada em 2009 pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), e por observações feitas com telescópios do observatório Isaac Newton, localizado nas Ilhas Canárias, na Espanha. "Hoje sabemos que é possível existir planetas ao redor de duas estrelas. Mas os sistemas descobertos, até então, eram compostos por estrelas vivas e que ainda queimam o hidrogênio em seu núcleo", explica Leonardo Almeida ao Jornal da USP. E foi aí que surgiu mais uma questão para os astrônomos nos últimos anos: os exoplanetas sobreviveriam às fases eruptivas da evolução de duas estrelas? E eis que, de acordo com Almeida, a resposta é, enfim, positiva! "Desde 2009, alguns sistemas foram propostos como possíveis candidatos a hospedar exoplanetas", afirma o astrônomo da UFRN.
O novo sistema foi denominado KIC 10544976. As observações permitiram medir os períodos dos eclipses entre as duas estrelas e que, de acordo com os astrônomos, podem evidenciar a existência do planeta gigante gasoso. "Ele não pode ser visto", alerta Damineli, mas as comprovações obtidas por meio das observações dos ciclos de atividades magnéticas e de seu período orbital permitem concluir a existência do exoplaneta.
"O período orbital entre as duas estrelas é o espaço de tempo que uma leva para girar ao redor da outra", explica Leonardo Almeida. E quando uma passa na frente da outra, e vice-versa, ocorrem os eclipses em tempos bem determinados. "Mas, se ao redor das estrelas tivermos um planeta, os eclipses acontecerão com avanços e atrasos", completa o pesquisador.
Mas, conforme o cientista da UFRN, tal constatação não é suficiente para se afirmar a existência do exoplaneta. "Há outra explicação para tais variações", diz Almeida ao Jornal da USP. Essa explicação se baseia no ciclo de atividade magnética. "O nosso Sol apresenta variação de sua atividade magnética evidenciada pelas manchas solares, com período ao redor de 11 anos, e as outras estrelas também devem passar por isso", estima o astrônomo, lembrando que "essa variação da atividade magnética também gera uma variação aparente do período orbital num sistema de duas estrelas próximas".
(com Jornal da USP)
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