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Superbactéria descrita na China em 2015 já circulava no Brasil

Isso consta de estudo recém publicado


postado em 01/03/2019 14:46 / atualizado em 01/03/2019 15:08

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Segundo um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP), a superbactéria Klebsiella pneumoniae, que é muito resistente a antibióticos, já circulava pelo Brasil em 2011, quatro anos antes de ser descrita por pesquisadores da China. A pesquisa da USP foi publicada na revista científica Bone Marrow Transplantation.

O estudo levou em conta dados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e aponta que, de 1.042 pacientes que se submeteram a transplantes de medula entre 2008 e 2015, 12 foram infectados pela superbactéria. Desse total, 10 acabaram falecendo.

A Klebsiella pneumoniae é uma bactéria presente no trato gastrointestinal de humanos e animais. Ela pode ser encontrada também no meio-ambiente, na água, nos alimentos e no sistema de esgoto. Eventualmente pode ser identificada nas mãos de profissionais da saúde, em equipamentos e no ambiente hospitalar, como na cama do paciente, por exemplo. Ela pode causar diferentes tipos de infecção – como urinária e do sangue – que podem levar à morte.

Essa resistência a antibióticos do micro-organismo foi descoberta na China em 2015. Na época, os cientistas analisaram cepas de Klebsiella com mecanismo de resistência à colistina [um antibiótico que é usado como último recurso no tratamento de infecções bacterianas]. Até então, esse mecanismo era desconhecido no mundo.

Depois que a China divulgou o estudo, outros países começaram a investigar seus bancos de dados e, em muitos deles, foram notados a existência do mesmo mecanismo de resistência, como ocorreu no estudo recente da USP. Isso demonstra que os genes de resistência já circulavam no mundo antes da comunidade científica identificar o problema.

"Quando surge um novo mecanismo de resistência no mundo, nós pesquisamos em amostras que estão armazenadas no hospital", comenta a pesquisadora Silvia Figueiredo Costa, professora da USP e uma das autoras do estudo, em entrevista à Agência Brasil. "Quando a China verificou esse mecanismo de resistência, todos no mundo fizeram isso. Todos foram pesquisar, nas bactérias que estavam guardadas, sobre esse gene de resistência. Foram encontrados também na Ásia, na Europa, na Argentina, aqui no Brasil", completa.

Antibiótico

O que pode ter provocado essa resistência, de acordo com a cientista, é o uso indiscriminado do antibiótico colistina em animais de criação. Em humanos, o uso desse medicamento é controlado, ou seja, só pode ser vendido sob prescrição médica. No caso específico da colistina, seu uso em humanos é ainda mais restrito: só ocorre dentro de hospitais.

"Esse antibiótico é mais usado em animais de grande porte e que servem de alimentação, como suínos, do que em humanos. Mas na última década, como as bactérias foram ficando mais resistentes, começou-se a usar esse antibiótico também em humanos. Já existe um esforço para não usar tanto esse antibiótico na veterinária. Alguns países proibiram o uso", afirma Silvia Costa à Agência Brasil.

(com Agência Brasil)

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