Revista Encontro

Neurologia

Cérebro 'idoso' ainda produz neurônios, aponta novo estudo

Descoberta inédita pode ajudar no diagnóstico de doenças como Alzheimer

João Paulo Martins
- Foto: CancerQuest/Reprodução

Pela primeira vez na história, pesquisadores conseguiram provar que o cérebro é capaz de produzir novas células nervosas mesmo em idosos acima de 90 anos. Anteriormente, acreditava-se que neurônios não eram renovados após uma certa idade e que a quantidade deles decaía de forma rápida. Agora, cientistas acreditam que a descoberta pode abrir caminho para pesquisas relacionadas a doenças neurodegenerativas, como demência relacionada à idade e Mal de Alzheimer. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Nature Medicine no dia 25 de março.

A equipe de pesquisadores espanhóis, liderada pela Universidade Autônoma de Madri, observou a produção de novas células nervosas na região do hipocampo no cérebro, que está ligada à memória, ao humor e a funções cognitivas. Eles classificaram esse fenômeno como neurogênese hipocampal adulta. De acordo com o estudo, a taxa de neurogênese do hipocampo adulto diminui rapidamente quando uma pessoa é diagnosticada com Alzheimer, mesmo durante os estágios iniciais da doença.

Os cientistas analisaram o tecido de cadáveres adultos que tiveram um cérebro saudável no momento da morte e que tinham de 43 a 87 anos. María Llorens-Martín, neurocientista da Universidade Autônoma de Madri e pesquisadora sênior da equipe, afirma no artigo recém publicado que cérebros saudáveis apresentavam neurônios "recém-nascidos" e à medida que ocorria o envelhecimento, o declínio desses neurônios foi modesto, mesmo nos cérebros "idosos". Nos cadáveres entre 40 e 70 anos foi encontrado um declínio de neurônios de cerca de 40 mil a 30 mil por m³ na região do giro denteado do hipocampo.
As taxas caíram acentuadamente entre os pacientes com Alzheimer de 52 a 97 anos. Eles observaram que novos neurônios ainda estavam presentes nos cérebros de pessoas com mais de 90 anos.

Para Llorens-Martín, isso levanta uma "tentadora possibilidade de que deter ou reverter esse declínio pode ajudar a retardar o Alzheimer". A doença, como se sabe, acelera radicalmente a taxa de perda das células nervosas e a nova pesquisa fornece evidências convincentes de que também limita a criação de novos. "Estudos maiores são precisos para confirmar os achados e entender se eles podem abrir o caminho para um teste precoce para sinalizar aqueles que correm maior risco de contrair a doença", comenta a pesquisadora espanhola no artigo publicado an Nature Medicine.
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