Em estudo publicado na última quinta, dia 4 de abril, na revista científica The Lancet, cientistas afirmam que até o consumo moderado de álcool pode elevar a pressão arterial e o risco de um acidente vascular cerebral (AVC). A pesquisa contesta a ideia amplamente difundida de que uma taça de vinho por dia pode teria um efeito benéfico para a saúde e não encontrou evidências de efeitos positivos do consumo de bebidas alcoólicas. A informação foi divulgada pela emissora estatal alemã Deutsche Welle.
Os pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China acompanharam mais de 500 mil chineses durante uma década, registrando os históricos médicos e avaliando se eram ou não fumantes, se faziam exercícios e a quantidade de álcool que consumiam.
Conforme a Deutsche Welle, a China foi escolhida para o experimento porque muitas pessoas de ascendência asiática possuem variações genéticas que limitam a tolerância do corpo ao álcool. Como consequência, elas não costumam beber. Para a equipe de cientistas, seria "impossível" fazer a mesma pesquisa com populações ocidentais, uma vez que as variações genéticas de intolerância ao álcool são praticamente inexistentes.
Ainda assim, as conclusões do novo estudo valem para todas as pessoas em qualquer lugar do mundo, afirmam os pesquisadores.
Dos participantes da pesquisa, cerca de 160 mil adultos chineses tinham as variações genéticas que os levam a optar por não consumir álcool, ou consumir muito pouco, por causa de efeitos desagradáveis, como dor de cabeça ou náuseas. Assim fica mais fácil para os cientistas saberem se alterações na saúde estão de fato relacionadas ou não ao consumo de álcool e não a outros fatores.
A conclusão do estudo, como mostra a emissora alemã, é que as pessoas que bebem moderadamente (de uma a duas doses, ou no máximo 20 gramas, de álcool por dia) aumentam de 10% a 15% o risco de sofrer um AVC. Para os que bebem quatro ou mais doses diárias, a pressão sanguínea aumenta significativamente, e o risco de derrames cerebrais aumenta em 35%.
"A mensagem é que, ao menos no que diz respeito aos derrames, não há efeito de proteção por beber moderadamente. As provas genéticas mostram que o efeito de proteção não é real", comenta o pesquisador Zhengming Chen, da Universidade de Oxford, um dos líderes do estudo, citado pela Deutsche Welle.
A ocorrência de infarto entre os participantes foi considerada baixa, o que não permitiu que se chegasse a alguma conclusão sobre riscos ao coração associados ao consumo de álcool.
"Utilizar a genética é um meio inovador para se descobrir se o consumo moderado de álcool pode realmente proteger ou se é levemente danoso. Nossas análises nos ajudaram a entender a relação entre causa e efeito", afirma a epidemiologista Iona Millwood, da Universidade de Oxford, que coliderou o estudo, também citada pela emissora.
(com Deutsche Welle)
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