Com o uso cada vez mais amplo das redes sociais, é natural que as emoções se tornem mais exacerbadas, podendo inclusive afetar as amizades e os relacionamentos. É o caso da raiva, que acaba atrapalhando o discernimento dos fatos. Segundo a neuropsicóloga Thaís Quaranta, sentir raiva é normal. Mas, quando a emoção é constante e fica fora de controle, é um sinal de alerta.
"No dia a dia podemos sentir raiva em diversos momentos, o que é natural. Uma bronca do chefe; uma briga com o namorado; uma fechada no trânsito. Entretanto, se a raiva é constante e passa de uma irritação para uma fúria intensa, é preciso cuidado. Isso porque uma raiva mais intensa pode levar a pessoa a se envolver em brigas e agressões físicas, por exemplo. Além disso, nessas discussões sobre política, pode até mesmo acabar com amizades ou afetar o relacionamento familiar, quando há pontos de vistas diferentes sobre o assunto", comenta a especialista.
Se por um lado ter explosões de raiva e partir para violência física não são atitudes adequadas, reprimir o sentimento também pode fazer mal à saúde. "A expressão das emoções é aprendida ao longo da vida. Há fatores que influenciam como cada pessoa lida com seus sentimentos, entre eles podemos citar a educação, a religião e a cultura", afirma a psicóloga.
Thaís lembra que existem pessoas que aprenderam a reprimir a raiva porque foram ensinadas de que se trata de um sentimento negativo: "Assim, acabam não sabendo expressá-la de uma forma funcional. O que nem todo mundo sabe é que a raiva reprimida pode se transformar em vários outros sentimentos, como culpa, remorso, rejeição, frustração e até mesmo em doenças físicas e psiquiátricas".
A explicação, segundo ela, é que a raiva desperta processos fisiológicos no corpo que precisam de uma resposta final. "Quando sentimos raiva, há uma série de efeitos fisiológicos, como aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e liberação de adrenalina e de noradrenalina, hormônios que dão energia e disposição. Em resumo, o corpo fica pronto para resolver a situação que gerou a raiva", completa a especialista.
A psicóloga explica que o organismo se prepara para o combate e espera voltar ao normal depois disso. "Mas, uma pessoa que reprime a raiva, ou seja, que literalmente 'engole o sapo', priva o corpo de voltar à sua normalidade, ou seja, de encerrar esses processos desencadeados pela raiva. Com o tempo, se isso for constante, é possível que essa pessoa desenvolva o estresse crônico, por exemplo", comenta Thaís Quaranta.
O problema é que o estresse crônico pode levar ao enfraquecimento do sistema imunológico, aumentando o risco para o sistema cardiovascular, além de ser poder levar à depressão e à ansiedade.
Vale lembrar que a raiva é um sentimento e a agressão é um comportamento. Assim, conforme a neuropsicóloga, é possível trabalhar a emoção para que a resposta à raiva seja diferente por meio da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). "Trata-se de uma abordagem da psicologia que parte do princípio de que um pensamento gera um sentimento que gera uma ação. Assim, a TCC atua para modificar os padrões de pensamento que levam às emoções, modificando assim o comportamento", diz Thaís.