Seja no Facebook, seja no Instagram: desde a quarta, dia 16 de janeiro, as redes sociais estão saturadas de publicações (posts) de pessoas fazendo o desafio chamado "#10yearschallenge" em que se publica uma imagem de 2009 e outra de 2019, como efeito de comparação da passagem do tempo.
O desafio dos 10 anos, que pode ser até considerado um meme (humor em forma de imagem) e acabou gerando discussões acerca da segurança da informação e a proteção de dados pessoais. A consultora americana Kate O'Neill, autora de livros sobre tecnologias digitais, publicou questionamentos nas redes sociais e na renomada revista Wired, especializada em tecnologia, apontando até que medida as imagens publicadas não poderiam estar sendo usadas para "treinar" o sistema do Facebook que realiza o reconhecimento facial dos usuários.
Quando uma foto é publicada na rede social criada por Mark Zuckerberg, a identificação é feita automaticamente. Esta funcionalidade aparece, por exemplo, quando ela "sugere" a marcação do usuário ou de amigos nas fotos. Anteriormente, apenas o usuário realizava tal marcação.
Contudo, a plataforma passou a realizar esses "escaneamento" em toda as imagens e "avisa" a pessoa quando uma foto foi publicada. Contudo, a implantação desse recurso gerou críticas. O Facebook reagiu e configurou a funcionalidade como uma opção que pode ser desativada pelo usuário.
O reconhecimento, mesmo com esse dispositivo de regulagem, é feito por meio de uma tecnologia que "aprende" como melhorar esse procedimento à medida que ela recebe mais dados ou mais fotos. Daí surgiu o questionamento de Kate O'Neil e de outros especialistas acerca de como tais imagens de 10 anos atrás poderiam estar "alimentando" o banco de dados do Facebook e "treinando" seus sistemas (algoritmos).
Com a repercussão da polêmica, a rede social emitiu um comunicado público se posicionando sobre o assunto: "Esse é um meme criado pelos usuários das nossas plataformas e que viralizou espontaneamente. O Facebook não começou essa onda e o meme geralmente usa fotos que já estão no Facebook. Nós não ganhamos nada com esse meme – além de nos lembrar das tendências questionáveis de moda de 2009. Como lembrete, vale dizer que as pessoas no Facebook podem escolher se querem deixar o reconhecimento facial ativo ou não a qualquer momento".
A analista de políticas Veridiana Alimonti, da Eletronic Frontier Foundation, organização mundial de direitos digitais, citada pela Agência Brasil, pondera que independentemente da empresa se beneficiar ou não a respeita da brincadeira, a polêmica em torno do desafio foi benéfica por colocar em debate os riscos do reconhecimento facial.
Sua entidade, a EFF, realizou estudos apontando as ameaças, como o uso malicioso de dados biométricos, o compartilhamento sem transparência entre poder público e empresas privadas ou até mesmo prejuízo a pessoas por uma identificação errada de quem ela é.
Veridiana acredita que debates como esse podem ajudar o cidadão a ficar mais consciente de como disponibiliza suas informações em redes sociais como o Facebook. "Se essa discussão chama a atenção para isso, que seja um alerta para como as pessoas estão lidando com as plataformas em relação às informações que elas possuem e quais usos elas fazem", diz a ativista.
(com Agência Brasil)