Um estudo descobriu que apenas 41% das crianças e adolescentes, entre 7 e 17 anos, são capazes de identificar a diferença entre uma arma de fogo e uma de brinquedo. A pesquisa foi apresentada em outubro do ano passado durante a Conferência Nacional da Academia Americana de Pediatria.
Segundo os autores, uma das descobertas mais impactantes foi a facilidade com que tutores e crianças podem confundir armas reais e de brinquedo – no caso os simulacros, cada vez mais realistas. Além disso, os pesquisadores descobriram que os proprietários de armas tinham quase o dobro de chances de permitir que os filhos brincassem com simulacros. Ainda conforme os cientistas, o armazenamento seguro do armamento dentro de casa é considerado crítico.
A pesquisadora Kiesha Fraser-Doh, da Universidade Emory, nos Estados Unidos, líder do estudo, juntamente com outros colegas, entrevistou 297 pais e crianças que frequentavam emergências pediátricas no sudeste americano em 2017. Os tutores que possuíam armas de fogo representavam 25% dos entrevistados e eram mais propensos a permitir que os filhos brincassem com armas de brinquedo (51%, em comparação com 26% dos não proprietários de armas).
Entre os proprietários de armas, menos da metade (34%) armazena em local fechado, descarregada e separada da munição, conforme recomendação da Academia Americana de Pediatria. Além disso, entre as crianças que relataram ter uma arma em casa, 53% sabiam onde ela estava guardada e 45% sabiam onde a munição estava armazenada.
No Brasil
A posse de armas voltou a ser tema no Brasil após a publicação do Decreto 9.685, de 2019, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armamentos e munição. Na avaliação do pediatra Moises Chencinski, "a questão não está na discussão sobre a ideologia ou da liberdade da posse ou não de arma pelos adultos, mas nos riscos potenciais impostos às crianças e adolescentes, conforme mostram os estudos".
A ONG Criança Segura, que faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide, faz constantes alertas informando que as crianças são curiosas e exploradoras, procurando por qualquer objeto escondido, mesmo os perigosos. "Por isso, temos a orientação sobre cuidados com a guarda de medicamentos, produtos de limpeza, objetos cortantes, como facas e tesouras. E as armas de fogo também se enquadram nesse grupo de risco. Assim, ao mesmo tempo em que se discute a ideologia e a legislação sobre a liberação da posse de armas, tão ou mais importante é o debate que deve determinar os cuidados, o acesso e a segurança da presença de armas de fogo em casas com crianças e adolescentes", defende o pediatra.