"Eu digo para as pessoas: se uma comida cair no chão, por favor, pegue e coma", afirma a dermatologista americana Meg Lemmon, especializada em alergias e doenças autoimunes, em matéria publicada no jornal The New York Times na última quarta, dia 12 de março. Apesar de parecer algo nojento, a recomendação da médica inclui ainda a possibilidade de "tirar meleca e comer".
Na verdade, o que a especialista quer é que as pessoas deixem o sistema imunológico trabalhar e, para isso, é preciso ter contato com sujeira e possíveis agentes infecciosos menos agressivos. "Esqueça os sabonetes bactericidas. Imunize-se! Se uma nova vacina surgir, corra e tome. Eu imunizei meus filhos contra tudo que existe. E está tudo bem se eles comerem terra", comenta a polêmica dermatologista ao periódico. Ela ainda completa: "Você não deve apenas cutucar o nariz, mas comer a meleca".
Meg Lemmon usa essa situação constrangedora – mas que é feita às escondidas por muita gente – para alertar que, se o sistema imunológico humano não for forçado a trabalhar pelo meio externo, pode se enfraquecer de forma drástica. "Nosso sistema imune precisa de trabalho. Nós evoluimos por milhões de anos para ter uma defesa natural contra ataques externos. Mas, agora, ele não tem nada para fazer", alerta a médica americana.
Justamente durante a evolução da espécie humana (Homo sapiens), o contato com agentes infecciosos do meio-ambiente ajudou a criar resistência contra inúmeras doenças. É o que muitas avós chamam de "vitamina s" (sujeira). Tanto é que grande parte das populações nativas das Américas morreram não em conflitos contra os europeus invasores, mas em decorrência das doenças trazidas pelos colonizadores.
A teoria levantada pela especialista é a de que existe uma relação entre o excesso de higiene e o aparecimento de reações alérgicas.
O problema é ainda mais sério quando se trata do uso abusivo de antibióticos. De acordo com o cientista janponês Keiji Fukuda, que trabalha na Organização Mundial de Saúde (OMS), deixamos de estar protegidos quando tentamos eliminar todos os "perigos" do ambiente. O problema é tão grave que a OMS estima que 700 mil pessoas morram todos os anos em decorrência das superbactérias (resistentes aos medicamentos). Existem três espécies de bactérias que lideram o "ranking" de resistência a antibióticos: Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae. Todas são ligadas à infecção hospitalar.
"Devemos esquecer a ideia de que é preciso aniquilar as ameaças do meio-ambiente. Isso tem a ver apenas com o medo", comenta o pesquisador ao The New York Times.
Outro dado que chama a atenção é o número de pessoas vítimas de algum tipo de alergia. De acordo com a OMS, existem cerca de dois bilhões (30%) de alérgicos no mundo.
Claro que as recomendações feitas por Meg Lemmon são extremas e não devem ser feitas em público, mas o que ela quer dizer, conforme o jornal americano, é que a vontade de cutucar o nariz pode ser uma estratégia primitiva do ser humano, atuando como uma forma de "mandar mensagem" para o sistema imunológico sobre os micróbios existentes à nossa volta. Com isso, ele fica mais vigilante e "treinado".
Só é preciso cuidado também para evitar danificar os microvasos sanguíneos presentes no interior do nariz e não deixar que esse "hábito" se torne um vício.