
De janeiro a outubro de 2023, a cobertura vacinal da 2ª dose contra tríplice viral foi de 61,5% para 77,3%, representando um aumento de 15,8 pontos percentuais. Além disso, as aplicações da vacina DTP cresceram para 83,2%, com um aumento de 13,1 pontos percentuais em relação a 2022. Destacam-se também os aumentos na cobertura da vacina contra hepatite A, com um aumento de 11,4 pontos percentuais, e da vacina contra febre amarela, recomendada aos 9 meses de vida, que passou de 71,9% no ano passado para 82,9% neste ano, o que representa um acréscimo de 11 pontos percentuais. Tem destaque ainda o crescimento de 30% no número de doses aplicadas da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que desde 2014 estava em queda.

Embora os dados sugiram uma reversão na tendência de queda nas coberturas vacinais no Brasil, vista desde 2016, o pediatra Alexandre Nikolay é cauteloso na interpretação, já que os números são preliminares. "No entanto, acho interessante observar que a queda na cobertura vacinal coincidiu com a retirada do pediatra das unidades básicas de saúde por volta de 2016", comenta. "Até 2015, todos os centros de saúde do DF dispunham de pelo menos um pediatra que fazia a consulta de puericultura e os demais atendimentos" Segundo ele, a partir de 2016, os pediatras foram transferidos compulsoriamente para os hospitais. Desde então, as crianças deixaram de ser atendidas por especialistas em pediatria. "Essa mudança, de alguma forma, coincidiu com a queda da cobertura vacinal", observa o médico, indicando que a nova diretriz foi adotada também em outros estados brasileiros.

Impressões semelhantes foram encontradas por pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar sobre Emergências em Saúde Pública (Niesp), ligado à Fiocruz. Em estudo publicado na edição de março dos Cadernos de Saúde Pública, a equipe liderada por Ester Paiva Souto descobriu que, no contexto da Covid-19, a hesitação vacinal estava relacionada à "descoordenação entre os entes federativos durante a pandemia, a desinformação e as ações do Governo Federal, que descredibilizaram os imunizantes infantis", escrevem os autores. Além disso, a pesquisa com 86 profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) do Rio de Janeiro, Rondonópolis (MT), Feira de Santana (BA), São Paulo e Distrito Federal constatou que o cenário político e social, as opiniões divergentes sobre a importância da vacinação infantil e a grande circulação de informações falsas foram associados à palavra medo nas respostas dos participantes. "Isso nos fez pensar sobre os afetos movidos na campanha de vacinação. O medo, em geral, veio associado à desinformação sobre possíveis efeitos adversos da vacina, ou inexistentes, ou raros", disse a pesquisadora Ester ao blog do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz.

Segundo os autores da pesquisa, esses são fatores cruciais na luta contra o medo e a desinformação sobre as vacinas, especialmente quando os profissionais se dedicam a esclarecer dúvidas sobre as possíveis reações adversas, uma preocupação frequente entre os entrevistados. Werciley Júnior, infectologista e coordenador de Infectologia do Hospital Santa Lúcia, observa ainda, na prática clínica, que a aceitação das vacinas é maior justamente entre aqueles que têm mais acesso à educação e informação. "O nível de instrução facilita a compreensão de que a vacina, quando chega para a sociedade, já passou por pelo menos cinco anos de testes. A exceção foi a da Covid, emergencial. Mas as pessoas ainda têm muitos mitos. Muito da recusa vem do desconhecimento sobre as vacinas, que evoluíram muito nos últimos anos."

Médica infectologista e consultora do serviço de vacinas do Sabin Diagnóstico e Saúde, Ana Rosa dos Santos destaca a importância de conscientizar os pais sobre a segurança e eficácia da vacinação para todas as idades, especialmente bebês e crianças. Ela enfatiza que a imunização não apenas protege individualmente, mas também previne a transmissão e disseminação de doenças em comunidades, promovendo a imunidade coletiva e reduzindo o risco de surtos e epidemias. "A vacinação contribuiu com a queda da mortalidade infantil e diminui o risco de morte por doenças preveníveis, como também custos de saúde de hospitalizações associados ao tratamento de doenças evitáveis", diz. "Além disso, protege grupos vulneráveis, como idosos, portadores de doenças crônicas, pessoas imunocomprometidas e transplantados."