Revista Encontro

PERFIL

Conheça a história de Juscelino Pereira, dono do Piselli

Ele transformou uma safra estragada em alavanca para escrever uma carreira de sucesso como restaurateur

Carolina Daher
Juscelino Pereira, dono do Piselli, lembra de quando deixou de ser empregado para abrir empreender: "Ganhava bem, mas achava que podia mais. Peguei um caderno e comecei a desenhar um negócio próprio" - Foto: Agência Mentha/Divulgação
Foi seu avô, Vicente, mais conhecido como Tavico, que determinou que seu nome fosse Juscelino. O senhor, nascido no Sul de Minas Gerais, era fã do presidente Juscelino Kubitschek. Além de plantar café, andava pelo interior mineiro e paulista comercializando gado. Podia estar no meio do caminho, debaixo de sol e chuva, que parava tudo o que estava fazendo para ouvir as palavras de JK. Acabou virando um especialista não na biografia do político, mas também sobre a construção de Brasília. "E ele me escolheu para carregar o nome de um homem que admirava profundamente. Acho que foi uma profecia, já que assim como JK – que saiu de Diamantina e se tornou presidente – eu também sairia do interior para conquistar meu espaço e ser um vencedor", diz Juscelino Pereira, de 55 anos, dono do Piselli, restaurante que nasceu em São Paulo há quase duas décadas e aparece na lista de recomendados no tradicional Guia Michelin. Atualmente, são quatro unidades, contando com uma em Brasília, no Shopping Iguatemi.
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A história do Piselli passa também pela própria história de seu fundador. Nascido em Joanópolis, no interior de São Paulo, Juscelino cresceu em um sítio, vendo os pais, Otávio e Elsa, trabalharem com a terra. Agricultor, o casal plantava feijão, milho e algumas hortaliças. Quando tinha 10 anos, o menino passou a ajudar o pai também em uma pequena venda, que ofertava de tudo um pouco. "Sempre tive o empreendedorismo na minha vida de uma forma natural", diz Juscelino. Aos 17 anos, quando já tinha suas próprias hortas, lhe bateu uma angústia se queria continuar na roça ou ir para a cidade ganhar a vida. Foi quando teve a ideia de plantar algo com o que nenhum outro produtor da região trabalhava. Investiu tudo o que tinha em ervilha. Foi até Bragança Paulista pegar as sementes, preparou a terra e viu a planta brotar. Foi até São Paulo e conseguiu garantir a venda dos 400 quilos de ervilha que colheria em breve. "Voltei no ônibus numa alegria sem fim. Com o dinheiro daria para comprar um fusca", lembra.

. O Piselli de Brasília, no Shopping Iguatemi, inaugurado em junho de 2021: foco na gastronomia Toscana - Foto: Ligia Skowronski/DivulgaçãoSeis meses depois, reuniu a família para o grande dia: a colheita. Foi no caminhão de um tio que pegou a estrada em direção à Ceagesp. Assim que chegou no primeiro comprador, veio a notícia: as ervilhas estavam todas estragadas. "Eu fiquei paralisado. Senti um soco no estômago", diz. Foi então que o produtor descobriu que tinha plantado ervilha torta, uma espécie que deveria ter sido colhida um mês antes.
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O rapaz resolveu dar uma guinada na vida. A frustração o levou para a capital. Foi trabalhar no bar Casarão, no bairro Casa Verde, zona norte de São Paulo. Ali, fazia de tudo um pouco: lavava chão, servia a clientela e preparava sanduíches. Caiu no gosto dos frequentadores, que logo lhe alertaram que ele tinha futuro como garçom. "Falaram que eu tinha jeito para atender o público e que eu deveria tentar trabalhar nos Jardins, bairro em que davam boas gorjetas", lembra. Ficou ainda na Casa Verde durante dois anos, quando pediu demissão e foi trabalhar como auxiliar, garçom e maître. Foi parar em um restaurante francês na sede do Jockey Club. "Era muito sofisticado, com uma adega imensa. Uma boa escola", define ele, que passou a se dedicar ao estudo de vinhos. Além dos livros, fez curso de sommelier da Associação Brasileira de Sommeliers, ABS.
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Duas opções que fazem sucesso na casa brasiliense: ravioli alla piemontese (grandes ravioles recheados de queijo Taleggio, aspargos e gema de ovo, com creme de trufas brancas) e pesce livornese (peixe marinado de alcaparras, ervas e azeitonas pretas com purê de batatas e limão) - Foto: Helena de Castro/DivulgaçãoAcabou indo parar no  Fasano. Entrou como segundo sommelier e foi galgando até se tornar braço direito da família. Virou maître-sommelier do Gero da rua Haddock Lobo e passou a viajar pelo mundo para conhecer vinícolas e restaurantes. Tudo indo de vento em popa. Mas algo ainda o incomodava. "Ganhava bem, mas achava que podia mais. Peguei um caderno e comecei a desenhar um negócio próprio", conta. Foram alguns meses até conseguir pedir demissão, já que tinha um vínculo real com o grupo. O dono, Gero Fasano, inclusive, lhe sugeriu ser sócio em um dos restaurantes. Preferiu seguir sua intuição. Achou um imóvel nos Jardins e começou as obras. Faltava, no entanto, o nome. Foi então que, durante uma aula de italiano, o professor falou a palavra piselli. E quando soube que a tradução era ervilha, não pensou duas vezes, tinha encontrado o nome para seu novo negócio.
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Uma Itália para cada restaurante

A rede é italiana, mas cada unidade se especializou em uma região do país. O primeiro restaurante, nos Jardins, em São Paulo, tem como pano de fundo Piemonte. Já o localizado no Shopping Iguatemi da capital paulista, vai em direção ao sul da Bota, com mais peixes e frutos do mar. O que funciona no último andar da Associação Comercial de São Paulo, no Centro, tem um perfume milanês. E o de Brasília, inaugurado em junho de 2021, segue uma gastronomia toscana. Entre os pratos principais, destaque para o Tonno Arabo, atum com crosta de especiarias, redução de vinho Marsala, babaganoush defumada e coalhada seca. "Foi muito especial estar aqui. Sinto que estar em Brasília é homenagear meu avô, que sabia que eu chegaria lá."
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