Estado de Minas ENTREVISTA

Secretário de Turismo fala sobre a importância da gastronomia no DF

Para Cristiano Nogueira Araújo, opções gastronômicas regionais e contemporâneas têm conquistado visitantes e moradores da cidade


postado em 29/10/2024 10:09

(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)
Seja a trabalho, seja a lazer, quem vai conhecer uma nova cidade pensa quase que imediatamente no que poderá experimentar durante sua estada no destino. Natureza, arte e, claro, gastronomia estão no centro das opções de passeios dos viajantes. Nem é preciso dizer que o turista que vem a Brasília é muito bem servido. Conhecida tradicionalmente por sua arquitetura e pontos de interesse, a cidade cresceu – e muito – nos últimos anos, passando a abrigar restaurantes com culinárias tão diversas que em nada fica a dever aos principais destinos gastronômicos do mundo. "Churrascarias, casas de massas, docerias, cafeterias e bares são alguns dos muitos ambientes que têm feito sucesso. É uma infinidade de possibilidades e isso conquista as pessoas", afirma Cristiano Nogueira Araújo, secretário de Turismo do Distrito Federal. Pelo papel importante na política do país, a capital federal recebe uma série de visitantes constantemente, e esse público tem se encantado com as possibilidades do polo gastronômico brasiliense. "Vemos que os espaços de culinária têm recebido mais eventos e se tornaram uma plataforma para confraternizações e reuniões diversas", diz o secretário.

Araújo ressalta que um dos pontos mais fortes de Brasília é oferecer desde a chamada baixa gastronomia, encontrada, por exemplo, em feiras como a da Ceilândia, até restaurantes mais requintados, com culinárias internacionais como a francesa e a portuguesa. Apesar da boa oferta atual, o secretário acredita que a cidade tem espaço para crescer. Ele reforça a importância da capacitação dos profissionais do setor, um dos grandes geradores de empregos da cidade, e da valorização de produtos característicos do cerrado, que estão sendo explorados constantemente pelos chefs da região em suas criações. “Quando você viaja, quer conhecer um pouco da identidade de onde vai, e os profissionais tem aproveitado essa oportunidade”, afirma. Na entrevista a seguir, Araújo também ressalta a importância de incentivos para o setor.

  • Quem é: Cristiano Nogueira Araújo, 40 anos

  • Origem: Brasília (DF)

  • Carreira: Formado em administração de empresas, elegeu-se deputado distrital em 2006, quando foi o mais novo e o mais votado deputado no DF. Atuou como membro titular da Comissão de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo; na Comissão de Segurança; e também como presidente da Comissão de Assuntos Fundiários e vice-presidente da Comissão de Educação de Educação e Saúde. Já atuou como Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, de Turismo e de Desenvolvimento Econômico do DF. É secretário de Turismo do Governo do Distrito Federal (GDF).

ENCONTRO GASTRÔ – A gastronomia de Brasília é um importante atrativo da capital?

CRISTIANO ARAÚJO – Com certeza. Ela está diretamente ligada ao turismo. Nos tornamos um importante segmento gastronômico, temos um polo muito diverso, com opções como churrascarias, restaurantes franceses até as comidas nordestinas, que encontramos nas feiras, principalmente. Essa diversidade atrai públicos distintos, entre eles muitos estrangeiros que vivem visitando nossa cidade. A capital é um campo repleto de possibilidades para quem vem conhecer a região e também para eventos de trabalho, já que recebemos muitas comitivas durante o ano todo. É uma cidade que disponibiliza um roteiro bem diverso, principalmente quando falamos em alimentação.

Qual é o peso da gastronomia para o crescimento turístico da cidade?

É difícil definir um percentual, mas podemos dizer que o interesse pelo que se vai comer durante uma viagem pesa bastante, e está entre as três prioridades. Quando se escolhe um destino pensamos no que ele oferece de passeios, como belezas naturais, museus e centros de lazer; o motivo da nossa viagem, seja por negócios ou prazer; e também o que temos como possibilidades para comer naquele lugar. O que queremos degustar vai estar sempre entre as prioridades. Acredito que esse é um conceito universal, vale praticamente para todas as pessoas, o que reforça a importância da gastronomia para a área de turismo.

Brasília tem recebido muitos turistas?

Somos um local bastante procurado, porque temos muitos eventos na capital, como na área da política, que é o forte da cidade, mas também de outros estilos, como os diversos shows internacionais que vêm ocorrendo por aqui, além dos jogos de futebol, entre tantos outros. Outro ponto importante são os espaços voltados para os eventos, que contam com uma estrutura diferenciada, como no caso do Centro de Convenções, por exemplo. Temos muitas possibilidades, e com isso atraímos mais turistas, que buscam também locais para comer.

"As possibilidades culinárias de Brasília estão crescendo, vemos pratos muito criativos, temos vários tipos de cozinha, de origens diversas, e com sabores ricos"

Cristiano Nogueira Araújo, secretário de Turismo do DF

O que o GDF tem feito para ajudar os empresários do setor?

Estamos trabalhando constantemente em conjunto com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), além de outros parceiros que buscam a qualificação de profissionais na área, como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). É um setor que sofreu muito durante a pandemia de covid-19. As casas ficaram fechadas por muito tempo, pessoas foram demitidas e ficaram paradas por longos períodos. Então, devido a essas dificuldades, temos ajudado esses empresários a se recuperar, o que tem sido feito aos poucos. Hoje, o governo busca, por meio dessas parcerias que citei, ajudar a preparar melhor quem quer trabalhar na área, como baristas, garçons, chefe de cozinha, entre tantos outros profissionais.

Outras áreas do GDF também têm trabalhado com esse objetivo?

Sim, até porque, como sempre digo, esse é um trabalho que vai muito além da nossa secretaria. A atuação de vários setores do governo é importante. Por exemplo, precisamos que as licenças para funcionamento sejam fornecidas em tempo hábil, para que os restaurantes possam funcionar da forma que planejam e na área que querem. Outro ponto essencial são os serviços necessários para o cotidiano, como o fornecimento da água, que é feito pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), e que precisa ocorrer da forma correta. Todos esses setores têm um papel importante para que os empresários consigam que suas atividades funcionem a todo vapor e dentro da regularidade. É um trabalho em conjunto extremamente necessário.

O que mais pode ser feito para incrementar o setor?

Sempre tem algo que pode melhorar, e isso vale para a gastronomia e outros setores também. Como já citei, a qualificação é uma dessas preocupações constantes para nós e que pode ser aprimorada ainda mais. Temos muitas empresas que estão buscando aperfeiçoar serviços que já funcionam bem, mas que querem alçar a excelência, e isso em diversas áreas que compõem as casas, como na limpeza, na administração e, claro, também dentro da cozinha. Essa é uma das nossas maiores preocupações e vamos continuar em busca de incentivos para ela.

O senhor acredita que esse aprimoramento pode ser incentivado?

Com certeza. As competições e os prêmios de gastronomia, como este da revista Encontro, são algumas ferramentas que ajudam a estimular os empresários da cidade. Nós queremos estimular a competição saudável, esse é um dos caminhos que gera sucesso. Além disso, muitos restaurantes buscam reciclar profissionais, atualizar eles para os novos desafios que surgem. Acho que isso deve se manter nos próximos anos. Outro ponto positivo das premiações e disputas é que elas estimulam a criatividade no setor. A partir dela, outras ideias surgem e temos ainda mais opções de pratos, novas experiências. Inovar é qualificar, e tudo isso é bastante significativo para o setor da gastronomia.

A gastronomia é um importante mercado de trabalho em Brasília. O que isso significa para o aumento do índice de empregos no DF?

É uma área muito importante para a cidade, sempre foi, e que cresce dentro do setor gastronômico. Com o surgimento de novos negócios e a diversificação da área nós temos mais profissionais surgindo. O melhor exemplo é o sommelier. Os restaurantes todos agora viram a necessidade de ter um profissional que entenda de vinhos. Esse é um cargo que se tornou comum, e que não conta com muitas pessoas com experiência na área. Essa qualificação é uma das que se mostrou mais necessária, além de outras que acabam surgindo com o tempo e com o crescimento da área. Cuidamos para que quem quer se especializar tenha essas opções.

A valorização dos produtos do cerrado nos restaurantes e bares é notória. Há projetos para ampliar essa demanda?

É muito bacana ver os restaurantes valorizando os produtos da cidade. Isso faz muito sentido, já que quando escolhemos uma região para visitar nós queremos experimentar o forte dela, o que faz parte das suas principais características, o que a faz ser lembrada. Se vamos para Itália, por exemplo, queremos comer uma massa. Isso está sendo estimulado por nós e por todos do governo. Em um evento recente, o presidente Lula falou sobre isso, que ao ir em uma área específica você quer comer peixe daquela região, e isso precisa ser explorado mais. No DF, temos uma série de produtos que já estão sendo bastante utilizados quando comparamos com o cenário gastronômico do passado.

"É muito bacana ver os restaurantes valorizando os produtos da cidade. Isso faz muito sentido, já que quando escolhemos uma região para visitar nós queremos experimentar o forte dela"

Cristiano Nogueira Araújo, secretário de Turismo do DF

Pode citar um exemplo de produto típico da gastronomia do cerrado?

Recentemente, tivemos um evento em que um chef ousou com uma mistura de pão de queijo, que é originalmente de Minas Gerais, com o pequi, um produto típico do cerrado, e ele acertou, pois fez muito sucesso entre todos que estavam lá. As possibilidades culinárias de Brasília estão crescendo e não devemos nada a grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Vemos pratos muito criativos, temos vários tipos de cozinha, de origens diversas, e com sabores ricos.

O senhor tem algum prato ou lugar favorito na cidade?

Gosto muito de rabada, que é um prato nordestino e que encontramos na feira de Ceilândia. É uma opção que também remete às pessoas que vieram de outras regiões e ajudaram na construção da cidade. Acho essa relação que se manteve por todos esses anos muito bonita. Mas eu também frequento diversos lugares, como as churrascarias, que acredito ser uma das favoritas de muitos dos estrangeiros que visitam a cidade, e também os restaurantes internacionais. Acho que experimentar é uma das melhores coisas a se fazer, e sempre é bacana estar aberto ao que está surgindo dentro da gastronomia.

O que destacaria como experiência tipicamente brasiliense na gastronomia?

Temos muitas opções realmente. Essa coisa da baixa gastronomia, ir em feiras de cidades como Ceilândia, Guará, é algo muito nosso. Mas acho que um outro ponto muito forte e que foi sendo incorporado durante toda a história da cidade são os bares e restaurantes com música ao vivo, que oferecem uma experiência muito típica da cidade. Sempre teremos essa possibilidade de poder ir beber ou experimentar petiscos em algum ambiente e ainda aproveitar a experiência cultural que o espaço proporciona. Isso é algo muito característico da cidade, e que está atrelado à identidade de Brasília.

Qual espaço da cidade o senhor recomendaria para conhecer?

Recentemente nos inauguramos a Casa de Chá, que estava desativada há anos. Ela agora está com outra proposta e fica localizada bem na praça dos Três Poderes, que é um símbolo da cidade. Nós fizemos uma inauguração muito bacana. O projeto é uma parceria com o Senac, que também é nosso parceiro em outras empreitadas. Colocamos em prática esse projeto que resgata um espaço muito rico e interessante. É mais uma opção para quem quer conhecer melhor a cidade e aproveitar para comer algo, em um lugar que é um símbolo para nós. Acredito que muitos brasilienses também ainda não conseguiram ir lá e curtir essa nova experiência.

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