- Foto: FreepikFoi-se o tempo em que as adegas eram exclusividade de porões escuros feitos de pedras. Com o avanço da tecnologia e da arquitetura, hoje é cada vez mais comum que elas integrem o projeto arquitetônico de uma casa. E, em alguns casos, podem se transformar em apostas de ambientes. Os amantes de vinho sabem bem diferenciar bons rótulos, assim como reconhecem a importância de uma adega personalizada, algumas delas apropriadamente climatizadas, para manter temperatura e umidade adequadas para conservação das garrafas. As condições mínimas de cuidado com as garrafas exigem distância da luz direta, além de temperatura amena. Resguardado esse cuidado, sala, cozinha, cômodos específicos e até quartos podem abrigar uma adega. Mas o toque do arquiteto é indispensável para deixar a atmosfera charmosa e aconchegante.
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O Brasil é um dos principais mercados de vinho da América Latina e, nos últimos anos, assistiu a uma ascensão no consumo da bebida, segundo dados de entidades do segmento, como a Organização Nacional da Vinha e do Vinho (OIV). O Distrito Federal, por sua vez, vem expandindo áreas de vinhedos e comercializando rótulos próprios. Segundo o arquiteto Matheus Mendes, o brasileiro, assim como o morador da capital, está mais consciente do consumo de vinhos. “As pessoas estão mais preocupadas tanto em ter um lugar para manter esses rótulos como também diferenciar os tipos. Há um maior protagonismo desse tipo de bebida na mesa do brasiliense”, diz.
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A seguir, Encontro Gastrô te convida para um passeio por cinco adegas projetadas por arquitetos da cidade.
Personalidade e versatilidade - Alf Arquitetura – André Alf e Marina Lage
- Foto: Edgard César/DivulgaçãoLocalizada em uma região cercada pela natureza e com uma rica área verde ao redor, a residência que abriga esta adega foi projetada sob a perspectiva de trazer esses mesmos elementos para o interior, com foco na conexão com o mundo externo. Os arquitetos André Alf e Marina Lage apostaram em diferentes pedras para compor a proposta. A adega, por exemplo, é revestida em pedra travertino, que confere ainda mais personalidade ao espaço e, escolhida estrategicamente, ajuda a manter a temperatura ideal no ambiente. Essa mesma pedra foi usada no piso de boa parte da casa. As pedras naturais podem ajudar a manter a temperatura, pois são isolantes térmicos eficientes e regulam o calor. “Nos projetos do escritório buscamos sempre opções que sejam coerentes com o ambiente e, claro, desejos do cliente. Nesse caso, nosso cliente não só apreciava vinhos como tinha uma grande coleção deles, o que exigiu não só um espaço especial e único na sua residência, como um espaço planejado e feito sob medida”, afirma André Alf. “Tudo foi pensado para que os vinhos se tornassem os protagonistas. Para isso, unimos ainda a versatilidade de uma marcenaria planejada e a climatização necessária para o espaço que conta com aproximadamente 20m2”, diz Marina.
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Integração e exuberância - Rysc Arquitetura - Yasodhara Chaibub e Ricardo Secunho
- Foto: Plinio Ricardo/DivulgaçãoA adega desta residência é coberta de vidro, o que permite uma integração com o espaço da sala de estar. Projetada pelos arquitetos Yasodhara Chaibub e Ricardo Secunho, da Rysc Arquitetura, a estrutura aposta em estantes mais vazadas, feitas de estrutura metálica, com o objetivo de realçar os rótulos. As esquadrias de vidro permitem ainda que a parede de fundo, feita de pedra, apareça, compondo a decoração. Além de embelezar o ambiente, ela ajuda a manter a temperatura. A escolha da marcenaria mais leve, segundo os arquitetos, também é intencional, ao fugir do convencional, mais pesado, na qual “aparece mais a madeira que o vinho”. A dupla explica ainda que a ideia pode ser reproduzida tanto em espaços maiores como mais reduzidos, no caso de um apartamento. “Independentemente da possibilidade do cliente, podemos, sim, realizar o sonho de uma adega particular. Nossa dica é sempre pensar de acordo com as possibilidades, mas sem abrir mão dos sonhos e paixões que cada um tem e gostaria de explorar em sua casa”, afirma Yasodhara. “Fora isso, é um exemplo de espaço de relaxamento, recepção e desconexão com os dias corridos de trabalho. É um lazer, um hobby e uma paixão que merecem espaço em casas e até mesmo escritórios e restaurantes, por exemplo”, diz Secunho.
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Elegante e convidativo - Vivian Maia Associados – Vivian Maia e Brenda Carvalho
- Foto: Edgard César/DivulgaçãoÁreas compactas também podem abrigar ambientes próprios para armazenagem de vinhos tão bem projetados e charmosos quanto de áreas mais amplas. Esse é o caso da adega deste apartamento em Brasília. Especialista em arquitetura de alto padrão residencial, o escritório Vivian Maia e Associados – das arquitetas Vivian Maia e Brenda Carvalho – assina a proposta. A estrutura, integrada a uma cristaleira, é refrigerada e focada na exibição das garrafas. Um projeto que otimiza espaço sem perder a elegância. A adega está localizada na cozinha da residência e serve ainda como elemento decorativo, já que também exibe um projeto de iluminação. Bem à frente da adega há uma versátil bancada, que convida o expectador a apreciar o vinho sem sair do lugar. A estrutura para armazenar as bebidas conta com cinco prateleiras na parte superior com capacidade para 30 rótulos. Já na parte inferior, na adega elétrica, é possível selecionar outras 54 garrafas. Apesar de ocupar pouco espaço, é possível, sim, ter por perto muitos rótulos especiais.
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Integração em cena - Hersen Mendes Arquitetura
- Foto: Edgard César/DivulgaçãoUm brinde à integração. Essa é a proposta do loft que abriga esta adega. Nele, além da cozinha, há uma área de jantar e de estar conjugadas. A proposta foi montada na mostra CasaCor Brasília 2024 pelo escritório Hersen Mendes Arquitetura, dos sócios Anastácia Hersen e Matheus Mendes. Com inspiração na arquitetura clássica, a composição exibe vários arcos, também muito presentes em adegas. “Todo o ambiente dentro da mostra busca uma reflexão não só pela alimentação do corpo como também da mente e da alma. Portanto, esse é um local para leitura, contato com as artes e contato com as pessoas. E o vinho acaba fazendo parte de todos esses momentos”, explica o arquiteto Matheus Mendes. Além de local para guarda de vinhos, os arquitetos posicionaram uma champanheira integrada à ilha, feita numa pedra esculpida e com um dreno para escoamento da água. Um ponto interessante é que a adega, com capacidade para 48 garrafas, é integrada ao louceiro e as estruturas são modulares. “Eles são intercambiáveis, o que permite uma certa flexibilidade. Se a pessoa quiser tirar o módulo da adega de um lado e passar para outro, em algum momento, isso é possível. Além da praticidade, a adega é composta por portas de vidro para fácil visualização e o acesso”, afirma Mendes. É possível ainda acrescentar módulos ou reorganizá-los, ampliando a capacidade da adega para 144 rótulos.
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Prazer das memórias - Ney Lima e Walléria Teixeira
- Foto: Edgard César/DivulgaçãoO arquiteto Ney Lima afirma que as adegas são pré-requisitos em projetos de alto padrão. “Em casas maiores, em que os clientes são amantes dos vinhos, são montados ambientes consideráveis, exclusivos, próprios para degustação e para receber os amigos”, explica. “O básico são adegas elétricas, embutidas na parede. Mas muitos pedem lounges do lado de fora ou cave, que é um espaço maior, com mesas na parte interna.” Foi pensando nesse público que ele e a arquiteta Walléria Teixeira projetaram essa adega na mostra CasaCor 2024. Com desenho exclusivo, ela compõe o ambiente de 130 metros quadrados, inspirado no cotidiano, em viagens e em memórias afetivas dos dois. Nesse contexto, segundo os arquitetos, o objetivo foi transpor no ambiente a experiência de apreciar um bom vinho. Obras de arte, eletrodomésticos, iluminação e novas padronagens na marcenaria também marcam a proposta.
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