
Frida está hoje por toda parte e arrebata milhões de seguidores "frida-maníacos". Ao longo dos anos, tornou-se mais do que pintora renomada e respeitada. Por causa de diversas intervenções em sua imagem marcante, virou símbolo pop, com estampas em quadros, estêncils, camisetas, bolsas e diversos produtos vendidos mundo afora. Em 2012, a revista Vogue México deixou de lado as modelos e estampou na capa da sua publicação de novembro ninguém menos que a pintora Frida Kahlo, quase 60 anos depois de sua morte.
As flores que ornamentava na cabeça e nas roupas, a maneira como penteava o cabelo, os acessórios inseparáveis e até mesmo seu buço fizeram dela modelo grandiosa e bem peculiar. É muito fácil encontrar produtos com a carinha sobrancelhuda da mexicana. Frida tornou-se inspiração para estilistas, decoradores, artistas e lojistas, que não se cansam de estampá-la. Entra ano e sai ano, o look Frida Kahlo é também usado por foliões de todas as idades e sexos no carnaval. Eles adoram se enrolar em xales coloridos, pendurar colares, brincos e flores, colocar batons vermelhos e emendar sobrancelhas.
Na galeria do artista Rogério Fernandes, na Savassi, a pintora mexicana nunca falta como personagem, em encontros inusitados e fictícios. Depois de fazer a série Frida Imaginária, ela nunca mais saiu de suas exposições. "Eu me apaixonei por ela, pela personagem", diz Rogério. Ele já pintou Frida ao lado de Coco Chanel, Trotski, James Dean, Dalí, Van Gogh e Picasso. E produziu também telas inserindo a mexicana no contexto da bossa nova, com Vinicius de Moraes e Cartola. Nas obras de Rogério, ela aparece também recebendo convidados na Casa Azul (residência de Frida em Coyoacán, sua cidade natal, hoje transformada no Museu Frida Kahlo e um dos pontos mais visitados no México). "Levo minha Frida para passear em vários lugares do mundo", afirma Rogério. E em cada tela ela está com expressão diferente: o artista já pintou a Frida negra, de Hare Krishna e como sereia.

O estilista Ronaldo Fraga é outro fascinado pela pintora. "É a Carmen Miranda do México. Eu acho isso lindo", diz. Ronaldo já fez uma coleção inspirada na Disneylândia Latina, onde colocou a pintora com orelhas de Mickey Mouse. "A minha Minie Mouse tinha cara de Frida Kahlo", afirma. E quanto mais repete a camiseta, mais vende. Ele observa que as pessoas falam pouco da arte da pintora, que acabou ficando em segundo plano. "Além da obra e imagem de Frida, acho importante essa história da cultura mexicana viva."
A irmã de Ronaldo, a gerente comercial Lena Fraga, é outra fã de carteirinha da pintora mexicana e coleciona em casa um arsenal de coisas com a imagem dela: almofadas, camisetas, quadros, bolsas, jogos americanos, sapatos, anéis, colares e até uma sombrinha. "Assim como Frida, adoro badulaques. Estou sempre enfeitada e colorida", afirma. Na maquiagem, Lena está longe de adotar o estilo clean. Usa batons de cores fortes, como vermelho e vinho. Na personalidade, também tem um jeito Frida de ser. "Ela não dava satisfação à sociedade das atitudes e forma de se vestir. Eu sou meio assim", afirma Lena, que planeja ir ao México em 2018 e tirar uma foto no quintal da Casa Azul. "Eu fico até ansiosa em pensar na energia boa que vou sentir", diz.
Frida teve uma vida sofrida. Jovem, sofreu um acidente que a obrigou a usar coletes ortopédicos de diversos materiais. O relacionamento com seu marido, o pintor mexicano Diego Riviera, foi tempestuoso - a relação virou tema de Frida, filme biográfico da artista, que conferiu à atriz Salma Hayek indicação ao Oscar. Mas ela conseguiu transformar a dor em beleza e arte. Frida não só é a mãe da selfie (a maioria esmagadora de sua obra é composta por autorretratos), como também é referência em criatividade, superação e força feminina.

Dona da loja de presentes, doces e chocolates Frau Bondan, a empresária Paula Bondan lançou sua primeira coleção de Frida há três anos, no Dia dos Mortos. Começou com a imagem da pintora em latas, além de cactos, caveiras de chocolate e trufas de tequila e sal. Hoje Frida está em sacolas, bolsas e nécessaires térmicas. "Fez muito sucesso. Toda vez que tentava tirá-la das prateleiras, os consumidores pediam para voltar", afirma Paula. Os pedidos foram acatados. A Frau Bondan buscou os detentores dos direitos autorais da marca e oficializou a Frida como parceira. O lançamento da nova coleção está saindo do forno com mais produtos em novas estampas: almofadas, bonecas, toalhas de mesa e cadernetas. "Ela é um ícone, com história de superação de vida através da arte", analisa Paula.
Quem coloca Frida em suas marcas parece mesmo que não volta atrás. A estilista Virgínia Barros, dona da loja de calçados e roupas homônima, começou a vender produtos com a imagem da Frida há 12 anos. De lá para cá, a pintora não saiu da loja, em itens como sapato, caixa de madeira, lenço, colar e boneca. "É uma forma de trazer a arte da pintura para o sapato", diz Virgínia. Na Patrícia de Deus Ideias e Papéis, os produtos com a Frida chegaram há três anos. São almofadas, capas de livros, de agendas, bonecas, quadros diversos e garrafas de flores com o rosto da mexicana. "Tudo que chega sai muito rápido", afirma Patrícia Diniz de Deus, dona da loja.

Histórico da pintora
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasce em 6 de julho de 1907, em Coyoacán, que na época era uma pequena cidade nos arredores da Cidade do México.
Filha de pai alemão, o nome da pintora foi escrito inicialmente com um "e" - Frieda - à moda alemã. Mas foi alterado no final da década de 1930, quando ela abandona a letra por causa da ascensão do nazismo na Alemanha.
Fiel ao seu país, a pintora gostava de declarar-se filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Em 1925, aos 18 anos, sua vida mudou de forma trágica. O ônibus (novidade da época) em que Frida estava chocou-se com um trem. A pancada foi no meio do ônibus, onde ela estava sentada. Frida foi varada por um ferro que lhe atravessou o abdome, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias e ficou muito tempo presa em uma cama. O acidente a prendeu aos coletes ortopédicos por toda a vida.
Nessa dolorosa convalescença, Frida começa a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Na maioria de suas obras ela pinta a si mesma.
Comunista desde cedo, Frida conhece Diego Rivera e com ele se casa em 1929. O pintor e muralista mexicano exerce grande influência sobre sua obra e eles vivem um tumultuado amor, cheio de casos extraconjugais.
Frida amargou muitas amantes do marido, seu grande amor e reconhecido mulherengo. Mas ela também viveu romances paralelos, o mais famoso com o revolucionário russo León Trotski.
Embora tenha engravidado, Frida nunca teve filhos por causa de sequelas do acidente, o que ficou claro em muitos dos seus quadros.
Por complicações de uma forte pneumonia, Frida morre em 13 de julho de 1954, aos 47 anos. Em seu diário, deixou as últimas palavras: "Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais."
10 frases marcantes de Frida
1 | "Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?"
2 | "Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor"
3 | "Por que o chamo meu Diego? Nunca foi, nem será meu. É dele mesmo"
4 | "Tentei afogar minhas dores, mas elas aprenderam a nadar"
5 | "Me parece que a coisa mais importante na Gringolândia é ter ambição e se tornar ‘somebody’, e francamente, não tenho a menor ambição de ser ninguém.’’ (Frida não gostava dos EUA, a quem chama sempre de Gringolândia. Achava que os ‘gringos’,
como dizia , eram ‘arrogantes de nascença’.)
6 | "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."
7 | "A dor é parte da vida e pode se tornar a própria vida."
8 | "Doutor, se você me deixar tomar tequila, prometo não beber no meu funeral"
9 | "É tão absurda e fugaz a nossa passagem pelo mundo, que o que me deixa tranquila é saber que tenho sido autêntica, que tenho conseguido ser o mais próxima de mim que tenho podido"
10 | "Onde não puderes amar, não te demores."