A cantora mineira morreu precocemente, aos 40 anos, deixando um imensurável legado para a MPB. Foi a primeira artista a alcançar a marca de 100 mil discos vendidos no Brasil. Essa consagrada carreira passa, também, pela paixão de Clara Nunes pela Portela. A sambista desfilou na escola por diversas vezes; foi madrinha da velha-guarda; e regravou dois sambas-enredos da agremiação carioca, que se tornaram grandes sucessos em sua voz. São eles: Ilu Ayê – Terra da Vida, de 1972; e Macunaíma, Herói de Nossa Gente, de 1975. Além disso, a versão mais famosa do samba-exaltação Portela na Avenida ficou marcada com a interpretação da artista mineira, sendo uma das músicas mais ouvidas do penúltimo disco lançado por Clara, em 1981.
Segundo Luis Carlos Magalhães, presidente da escola de samba de Madureira, a importância de Clara Nunes para a Portela é inestimável. "Ela alcançou e formou apaixonados pela Portela em lugares onde ninguém imaginava.
Além disso, Luis Carlos revela que a ideia de homenagear Clara Nunes na Marquês de Sapucaí em 2019 vem de uma exigência antiga dos próprios portelenses. Aproveitando a comemoração dos 95 anos da Portela, completados em abril deste ano, e a lembrança dos 35 anos da morte da cantora mineira, no mesmo mês, o pedido da comunidade foi atendido pela diretoria da agremiação carioca.
O presidente da Portela fala, ainda, sobre a expectativa pela conquista do 23º título do Carnaval do Grupo Especial do Rio de Janeiro: "Tenho certeza de que faremos um belo desfile, pois o enredo está tendo uma repercussão que nunca vi em toda a história do Carnaval. Desde que anunciamos que iríamos falar de Clara, fomos abraçados, não só pelos portelenses, mas também por toda a comunidade do samba".
Desfile
Em relação aos fatos da vida de Clara Nunes que a escola pretende levar para a Sapucaí, no desfile de 2019, Luis Carlos Magalhães diz que a ideia não é fazer uma remontagem bibliográfica da carreira da cantora mineira, mas sim, mostrar "o quanto ela representa a cultura brasileira". O dirigente portelense lembra que essa "brasilidade" dela está diretamente relacionada com o bairro de Madureira, local que despertou na sambista a ligação com a cultura popular e com a religiosidade: Clara passou a ser devota das religiões afro-brasileiras e se converteu à umbanda. Ela, que jamais escondeu a fé nos orixás, passou a ser frequentadora assídua de um terreiro de umbanda no Morro da Serrinha, no Rio, a partir da década de 1970.
A infância da cantora, no interior de Minas Gerais, e sua paixão pela Portela também estarão destacadas no desfile, garante Luis Carlos Magalhães.
História
Clara Nunes nasceu no município de Caetanópolis (MG), cidade localizada a 96 km de Belo Horizonte, em 12 de agosto de 1942 – na época, o município era distrito de Paraopeba. Durante a juventude, morou na capital mineira, onde trabalhou na fábrica de tecidos da Cedro e começou a cantar na rádio Inconfidência. Em pouco tempo, sua voz marcante e extremamente afinada chamou a atenção.
Ela ganhou um concurso de canto e, como prêmio, foi contratada pela gravadora EMI-Odeon. Nos anos 1970, partiu para o Rio de Janeiro, berço de grandes artistas brasileiros da época. Foi na capital fluminense que se aproximou do samba e construiu a carreira gloriosa, tornando-se um dos ícones da MPB.
Para tristeza dos fãs, depois de dar entrada na clínica São Vicente, no Rio, no dia 2 de abril de 1983, para fazer uma simples cirurgia de varizes, Clara Nunes acabou sofrendo de choque anafilático devido à anestesia. Pouco depois, sua morte foi anunciada e causou comoção nacional, pondo fim à carreia, que estava em pleno auge.
Mate a saudade da voz de Clara Nunes com o samba-exaltação Portela na Avenida: