Na última quinta, dia 11 de outubro, a novela Segundo Sol, da faixa das 21h da Rede Globo, exibiu as cenas da personagem Rosa, vivida pela atriz Letícia Colin, se embriagando num bar. Apesar de grávida, Rosa estava "afogando" as mágoas ao lembrar de uma conversa que teve com Valentim (Danilo Mesquita). Depois de várias doses de cachaça, a moça acabou deitando no chão do bar e foi socorrida por Ícaro (Chay Suede). Apesar de parecer apenas mais um capítulo do folhetim global, as imagens levaram a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a enviar um ofício ao escritor Silvio de Abreu, do Núcleo de Dramaturgia da Globo, na última segunda (15), com um pedido de reparação por parte da emissora em relação à ingestão de grande quantidade de bebida alcoólica por uma personagem grávida.
No documento, assinado pela pediatra Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP, são detalhados os problemas relacionados ao consumo do álcool durante as gestações e a importância da prevenção. "Nesse sentido, pede-se à TV Globo que dentro da mesma novela seja oferecido o devido esclarecimento e estimuladas as práticas preventivas que podem evitar o aparecimento de manifestações da Sindrome Alcóolica Fetal, diretamente decorrente dessa ação. A SBP recomenda ainda à emissora que, de forma geral, ao tratar de temas que tenham relação com a infância e a adolescência, em todas as suas fases, orientem seus autores à responsabilidade de abordá-los em acordo com práticas saudáveis ou, então, apontando caminhos para superação de eventuais problemas", informa a entidade médica em comunicado enviado à imprensa.
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, mesmo sendo uma obra de ficção, uma novela, como Segundo Sol, ao mostrar cenas como da embriaguez de Rosa, pode "confundir e influenciar a população, estimulando posturas impróprias, com graves consequências para a saúde e o bem-estar dos fetos e recém-nascidos".
No texto enviado a Silvio de Abreu, autor de novelas como Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata e Sassaricando, a SBP reitera que o consumo de álcool por mulheres gestantes é totalmente desaconselhado em qualquer fase da gestação e em qualquer quantidade de bebida. Segundo os especialistas, estudos científicos comprovam que essa prática aumenta de modo considerável o risco de o bebê apresentar malformações congênitas, como alterações faciais, atraso no crescimento, alterações em diferentes órgãos, sistemas e aparelhos, principalmente no sistema nervoso central e desordens de comportamento.
Os pediatras explicam que esse conjunto de alterações é denominado Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), cuja ocorrência faz com que as crianças atingidas possam ter dificuldades na aprendizagem, de memória, na fala, na audição e a incapacidade de resolver problemas, dentre outros. Já quando adolescentes e adultos podem apresentar desordens psiquiátricas e resistência à seguir normas, inclusive legais.