A obra narra a história de um homem chamado Lauro, que decide fazer uma autobiografia buscando resgatar lembranças de sua trajetória. Assim como nossa memória, o retrato da vida do personagem vem em primeira pessoa e em formato não linear, como se fosse uma espécie de quebra-cabeças onde cada peça é um momento marcante vivido por Lauro.
Segundo Lino de Albergaria, deste modo, vêm à tona, "de forma sutil", questões como individualidade, identidade e as relações estabelecidas ao longo da vida. Isso é demonstrado na narrativa autobiográfica de Lauro, por exemplo, por meio de lembranças de objetos simbólicos como cartas de tarô e um álbum de figurinhas colecionadas pelo personagem em sua infância.
"Eu me inspirei em relatos de situações de morte iminente, mas, na história, o Lauro decide antecipar isso, tentando escrever suas memórias precocemente. Durante a narrativa, ele contracena com diversas personagens, incluindo seu irmão gêmeo, Bruno, e sua filha Isabel", explica Lino de Albergaria. "Aos poucos, ele se revela uma alma delicada, alimentada por uma época em que as pessoas, ao mesmo tempo em que acompanhavam o início da aventura espacial, renegavam as guerras, numa procura da paz, com um olhar mais compassivo e desarmado para o outro", completa o autor.
Ele espera que os leitores se sintam estimulados a conhecer o livro e, a partir da leitura da obra, "reflitam sobre o contraste entre o tempo em que o narrador se situa e o atual, quando as pessoas se fecham, se colocam em posições antagônicas".
Lino de Albergaria deixa um recado para o público, relembrando o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, que afirmou que "as pessoas caminham em massa como sonâmbulos em direção ao desastre". "Gostaria que os sonâmbulos abrissem ao menos um olho, observassem à sua volta e sentissem a necessidade de mais homens e mulheres delicados no cotidiano da humanidade", diz o escritor mineiro.
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