Qual foi a inspiração para o livro?
A inspiração para o livro surgiu numa viagem que fiz pela África, há uns anos. Foram dois meses silenciosos numa travessia de caminhão por lugares tão remotos quanto potentes em uma força de síntese, de despojamento. Me marcou muito observar as crianças, sem brinquedos fabricados ou construídos, numa lógica de posse e de relação com os objetos radicalmente distinta da nossa, em constante - e fascinante - brincar com o corpo, com a dança, com a música e com as coisas da natureza. Comecei a pensar e rabiscar ali alguma espécie de atravessamento de infâncias - da história, da vida humana coletiva e singular de cada um. Nesta espécie de tempo antes do tempo... Os enigmas da origem na realidade sempre me espantaram e de algum modo acabam costurando também algum trajeto na minha vida - da biologia, à ilustração, à literatura infantil.
Qual é a diferença entre ilustrar um livro de outro autor e um que você também escreveu?
Pergunta difícil! Acho que em grande parte a experiência de criar um livro em parceria ou sozinha é bastante parecida pra mim, pois mesmo quando me cabe apenas a ilustração, eu me preocupo e me esforço profundamente em criar uma narrativa própria, que conte alguma outra história para além do texto verbal. Ainda que somente dentro do campo da visualidade, existe sempre um trabalho árduo em busca de poesia, sequência, ritmo, argumento, que se aproxima de alguma forma da escrita. Mas estar sozinha traz também mais liberdade e risco, torna a teia entre texto e imagens mais espontânea, intuitiva e aberta.
O livro fala de infância... mas é um livro infantil?
É definitivamente um livro sem tempo, para todas as idades.
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