
1) Espelho
Em quatro capítulos, 'Adolescência' funciona como um espelho das nossas vidas no ambiente familiar, social, escolar. Em algum momento, o espectador vai se identificar com aquela família tão comum, de relacionamentos cordiais, que vive uma tragédia ao ter a casa invadida na manhã de um dia normal e ver o filho, Jamie (Owen Cooper), levado pelos policiais. Onde erraram, se perguntam? Onde 'nós' estamos errando? A questão persiste na nossa mente muito depois que os créditos finais sobem.
2) Internet
A série nos leva a um dia a dia cheio de pontas obscuras e ao horror de percebermos quão pouco conhecimento temos da vida dos nossos filhos e tão pouco controle temos sobre o que eles fazem ou vivenciam no celular. Descobrimos sobre os Incels (uma abreviação em inglês de 'celibatários involuntários', jovens que culpam as mulheres pela incapacidade de manter relações sexuais), sobre influenciadores mundiais misóginos, sobre códigos/emojis, em princípio inocentes, mas que carregam uma mensagem cruel e devastadora. A ira contra as mulheres, a misoginia, é ponto central da trama, que foi inpirada por duas reportagens sobre o assassinato de meninas cometidos por adolescentes no Reino Unido.
3) Bulliyng
O ambiente escolar é um dos cenários centrais. E a série mostra como a instituição falha miseravelmente em proteger seus alunos. O bullying está presente em toda parte, sob os olhos de profissionais totalmente despreparados para lidar com a questão. O sofrimento é normalizado e os problemas, ignorados. Não apenas o garoto Jamie sofre, mas o filho do investigador sofre, a própria vítima do crime, que praticava o bulliyng, também sofria - era alvo de ataques e teve uma foto íntima exposta.
4) Um debate aberto
'Adolescência' termina sem um desfecho fechado. Mas aberta a todo o tipo de discussão. A série instiga pais, professores, parentes e amigos a conversarem sobre os grandes desafios atuais da contemporaneidade, como a misoginia e o bullying, mas também sobre pequenos sinais, dores silenciadas, isolamentos cada vez maiores. Sobre julgamentos, responsabilidades e autoperdão. Será possível assistir à série e deixarmos tudo seguir como sempre foi?