Revista Encontro

Consumidor

Será que você está realmente comprando polaca do alasca?

Especialista conta que muitas vezes esse peixe é substituído pela merluza, que tem gosto mais forte e é, normalmente, importada da Rússia

Vinícius Andrade
Quando alguém compra um cacho de uva, é esperado que esteja querendo consumir uva.
A frase pode parecer óbvia, e até mesmo tola, mas, quando o assunto é peixe, ela gera controvérsia. É comum os estabelecimentos mudarem os nomes das espécies e você acabar pagando por um produto e levando outro. Um exemplo disso é o polaca do alasca, peixe vendido nos supermercados como opção mais barata, mas que, frequentemente, é trocado pela merluza, importada da Rússia.

Segundo a veterinária Lilian Teixeira, professora de Inspeção e Tecnologia de Pescado da UFMG, é praticamente impossível notar as diferenças entre os peixes, principalmente quando são vendidos sob forma de filé congelado. A troca pode ser por uma questão de má fé ou até mesmo por falta de conhecimento. "Antigamente, o polaca do alasca era conhecido como merluza do alasca. O nome científico é Theragra chalcogramma. Porém, a merluza corresponde a outra espécie", explica a especialista.

A professora não vê motivos econômicos para as trocas nos supermercados.
Segundo ela, o preço dos peixes é parecido. No entanto, ela confirma que a merluza é mais disponível na natureza e tem menos aceitação no mercado se comparada ao polaca do alasca. "Este é mais atraente para o consumidor. A merluza é mais comum. É uma questão de status, mas com uma diferença econômica muito pequena", afirma Lilian.

Ela ressalta que o nome popular pode variar. Alguns estabelecimentos podem se referir ao Theragra chalcogramma como merluza do alasca ou polaca do alasca, mas, o importante é o consumidor estar atento ao nome da espécie, que deve ser indicado pelo supermercado. O gosto dos peixes também é parecido, porém, a merluza tem o sabor e o cheiro um pouco mais fortes.

O surubim ou pintado também é um peixe que, segundo a especialista, costuma ser substituído por outra espécie no comércio de Belo Horizonte - Foto: Letrassaborosas.com.br/Reprodução

Fraudes recorrentes

O polaca não é o único exemplo. A professora da UFMG conta que uma fraude muito comum é em relação ao hadoque, peixe marinho que pode ser encontrado nas regiões costeiras do oceano Atlântico e tem alto valor comercial. Uma pesquisa realizada na Noruega mostrou que 80% dos estabelecimentos vendiam peixes similares ao hadoque, para "enganar os consumidores".

Outro caso recorrente envolve o surubim. Lilian realizou um estudo em Belo Horizonte há três anos e constatou que todos os filés que supostamente eram vendidos como surubins, na verdade, tratavam-se de outros peixes..