A pesquisadora explica que o risco está associado principalmente às carnes vermelhas "bem passadas". Isso porque, durante o preparo em altas temperaturas, são formados compostos carcinogênicos (indutores das mutações que causam o câncer) nas partes mais escuras da carne, onde ela esquenta até quase queimar. Tais substâncias são compostos orgânicos nitrogenados chamados amino-heterocíclicos. "Quanto mais bem passada a carne, maior o teor delas", afirma Aline Carvalho.
A metabolização dessas substâncias (amino-heterocíclicos) pelo fígado gera os famosos radicais livres, que podem dar origem ao estresse oxidativo. De acordo com a nutricionista, trata-se de um processo que acontece em nosso corpo toda vez que a quantidade gerada desses radicais é maior que a nossa capacidade de neutralizá-los. "Esse excesso pode gerar danos a proteínas, lipídeos e ao nosso DNA. Quando não há reparação desses danos, pode-se aumentar o risco de doenças", diz a pesquisadora.
Pesquisa semelhantes, que mostram in vitro ou em modelos animais a relação entre o consumo destes compostos, o estresse oxidativo e o desenvolvimento de tumores já haviam sido feitas.
Prevenção
A recomendação é que deve-se consumir a carne cozida ou, antes de levar ao fogo, mariná-la no limão, alho e cebola. Colocá-la no microondas por três minutos também pode ajudar. Aline explica que "marinar a carne no limão, alho e cebola previne a formação destes compostos, possivelmente em função dos compostos bioativos presentes no limão, no alho e na cebola". Aquecer no microondas também reduz a formação dos amino-heterocíclicos, pois a pessoa tende a deixar a carne menos tempo no fogo.
É importante ressaltar que apesar da carne bem passada aumentar o risco de doenças, não se recomenda o consumo de carne mal passada, pois esta também está associada ao surgimento de parasitoses. "O ideal é reduzir o consumo de carne total, uma vez que ele é muito elevado no Brasil. Quando for consumir, optar pela carne cozida ou utilizar as técnicas recomendadas para reduzir a formação destes compostos", recomenda Aline Carvalho.
(com Jornal da USP).