Estado de Minas POLÊMICA

Especialistas comprovam que o peixe panga é seguro

A espécie típica do sudeste asiático vem causando polêmica no Brasil


postado em 27/10/2017 10:20

Parente do peixe-gato e do bagre, o panga, por se alimentar de quase
Parente do peixe-gato e do bagre, o panga, por se alimentar de quase "tudo", incluindo animais mortos no fundo do rio, acabou gerando o boato de que sua carne seria imprópria (foto: Guiapescado.wwf.pt/Reprodução)
Pertencente ao gênero Pangasius, ele é parente do peixe-gato e do bagre, e vem gerando muita dúvida nos consumidores brasileiros. Estamos falando do famigerado peixe panga, que é típico do vale do rio Mekong, que corta o Laos, a Tailândia, o Vietnã e o Camboja, no sudeste asiático. Este é um dos maiores cursos d'água do mundo, com mais de 4,3 mil km de extensão. O panga é consumido não apenas nessa região da Ásia, mas em todo o mundo. Exportado para a União Europeia, Estados Unidos, Rússia, entre outros, seu consumo, no Brasil, ganhou destaque nas redes sociais nos últimos anos, já que boatos dizem que sua carne seria imprópria, supostamente infestada de vermes e metais pesados.

"O panga, em alguns rios do Vietnã, possui verme, mas, quando é criado em cativeiro, isso não ocorre. A gente não precisa se preocupar com o consumo dele no Brasil, porque a importação passa por inspeção federal. Toda carne que entra aqui no nosso país é livre de qualquer contaminante", esclarece Leonardo Boscoli Lara, professor de nutrição e produção de animais silvestres e exóticos da UFMG. A principal empresa que importa esse peixe no país garante que seus fornecedores vietnamitas criam o panga apenas com ração. O especialista compara os boatos relacionados ao pescado asiático com a história que circula há anos sobre o nosso frango supostamente ser cheio de hormônios. "Nunca existiu frango 'bombado' no mercado. Ele é resultado da ciência, por meio do cruzamento de raças, para agilizar o crescimento do animal. É mais perigoso comer um peixe pescado num rio, do que o panga, que passa por inspeção", completa o professor da UFMG.

Na verdade, o risco que existe é o consumo de de peixe cru, já que muitas espécies costumam ser infectadas por vermes. Quem consome esse tipo de carne in natura, quando não há comprovação de procedência ou não é feito o devido resfriamento – não é o caso do atum, do salmão e do pescado branco usados em restaurantes japoneses –, pode ser vítima da difilobotríase, que é uma infecção causada por um parasita, conhecido como a tênia dos peixes. Porém, os especialistas explicam que o simples ato de cozinhar a carne já elimina qualquer organismo impróprio.

No caso do panga, o que pode ter gerado essa confusão e, respectivamente, os boatos, é o hábito alimentar desta espécie. Por ser onívoro e até necrófago, o peixe asiático come qualquer coisa que esteja disponível, incluindo restos de animais mortos no fundo do rio. Portanto, a captura de um exemplar diretamente no rio Mekong, pode, sim, representar risco à saúde humana, como qualquer outro peixe que se alimenta "de tudo".

"O Ministério da Agricultura já fez três inspeções no Vietnã, desde 2009, e não encontrou absolutamente nada de errado. O panga é totalmente seguro para alimentação e exportação", diz Lilian Viana Teixeira, professora do departamento de tecnologia de inspeção em produtos de origem animal da UFMG. Para ela, os boatos estão mais relacionados à questão comercial, já que o panga, no Brasil, chega a custar menos que o peixe mais barato do mercado – neste caso, a merluza. "Devido aos boatos, podemos ter esse peixe sendo vendido como outra espécie, para ter maior aceitação entre os brasileiros. Porém, seu sabor é um pouco mais forte que o da tilápia", afirma a especialista.

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