"O panga, em alguns rios do Vietnã, possui verme, mas, quando é criado em cativeiro, isso não ocorre. A gente não precisa se preocupar com o consumo dele no Brasil, porque a importação passa por inspeção federal. Toda carne que entra aqui no nosso país é livre de qualquer contaminante", esclarece Leonardo Boscoli Lara, professor de nutrição e produção de animais silvestres e exóticos da UFMG. A principal empresa que importa esse peixe no país garante que seus fornecedores vietnamitas criam o panga apenas com ração. O especialista compara os boatos relacionados ao pescado asiático com a história que circula há anos sobre o nosso frango supostamente ser cheio de hormônios. "Nunca existiu frango 'bombado' no mercado. Ele é resultado da ciência, por meio do cruzamento de raças, para agilizar o crescimento do animal. É mais perigoso comer um peixe pescado num rio, do que o panga, que passa por inspeção", completa o professor da UFMG.
Na verdade, o risco que existe é o consumo de de peixe cru, já que muitas espécies costumam ser infectadas por vermes. Quem consome esse tipo de carne in natura, quando não há comprovação de procedência ou não é feito o devido resfriamento – não é o caso do atum, do salmão e do pescado branco usados em restaurantes japoneses –, pode ser vítima da difilobotríase, que é uma infecção causada por um parasita, conhecido como a tênia dos peixes. Porém, os especialistas explicam que o simples ato de cozinhar a carne já elimina qualquer organismo impróprio.
No caso do panga, o que pode ter gerado essa confusão e, respectivamente, os boatos, é o hábito alimentar desta espécie. Por ser onívoro e até necrófago, o peixe asiático come qualquer coisa que esteja disponível, incluindo restos de animais mortos no fundo do rio. Portanto, a captura de um exemplar diretamente no rio Mekong, pode, sim, representar risco à saúde humana, como qualquer outro peixe que se alimenta "de tudo".
"O Ministério da Agricultura já fez três inspeções no Vietnã, desde 2009, e não encontrou absolutamente nada de errado. O panga é totalmente seguro para alimentação e exportação", diz Lilian Viana Teixeira, professora do departamento de tecnologia de inspeção em produtos de origem animal da UFMG. Para ela, os boatos estão mais relacionados à questão comercial, já que o panga, no Brasil, chega a custar menos que o peixe mais barato do mercado – neste caso, a merluza. "Devido aos boatos, podemos ter esse peixe sendo vendido como outra espécie, para ter maior aceitação entre os brasileiros. Porém, seu sabor é um pouco mais forte que o da tilápia", afirma a especialista.