O estudo da USP relacionou as mudanças estruturais da pectina (fibra solúvel encontrada em frutas e vegetais) e seus efeitos nas células cancerosas. A partir do amadurecimento do mamão, os pesquisadores observaram que as pectinas diminuíram a interação entre as células malignas e as proteínas da matriz extracelular.
Com isso, os cientistas concluíram que a maioria das células cancerosas morreu por necroptose, um tipo de morte programada que foi provocada pela ação da pectina. Conforme o estudo, os resultados foram satisfatórios para o mamão amadurecido após o terceiro dia de colheita.
"Enquanto outros pesquisadores modificam quimicamente as pectinas, nós deixamos o mamão fazer esse papel. Isso nos abre possibilidade para pensar em outros mecanismos de ação benéfica da ingestão de frutos com alta quantidade de polpa e, principalmente, monitorar o amadurecimento dessas frutas para que o efeito benéfico seja o maior", explica o farmacêutico João Paulo Fabi, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) da USP, um dos autores do teste, em entrevista para o Jornal da USP.
O cientista, no entanto, alerta que a região de produção, o tipo de solo e até os fertilizantes utilizados no cultivo do mamão podem alterar a qualidade e a característica das pectinas. No estudo da USP foram utilizadas amostragens específicas de mamões cultivados no Espírito Santo.
A próxima etapa dos testes com as células cancerosas deve ser feito em camundongos. "Será um cenário mais complexo, com digestão, fermentação pela microbiota intestinal dos ratos e a interação direta nessas estruturas com as células de câncer", avalia a nutricionista Samira Prado, também do FoRC e co-autora do estudo.
(com Jornal da USP).