A sommelière Natália Cacioli, do site eVino, aproveita para desbancar alguns mitos que ainda causam dúvidas no mundo da enologia:
Quanto mais velho o vinho, melhor
Provavelmente você já ouviu aquela frase "assim como o vinho, fico melhor com o passar dos anos". A especialista esclarece que a maior parte da produção de vinho é pensada para atender à demanda de consumo imediato. "São vinhos de safras mais recentes, até cinco anos, frutados, macios, fáceis de beber. Uma parcela bem pequena de vinhos é feita para envelhecer, como os famosos barolo, brunello de montalcino ou um pinot noir de um grande produtor da Borgonha [na França]. São rótulos bem caros e que precisam de um longo tempo de amadurecimento para atingir seu ápice", diz a sommelière.
Garrafa pesada é sinal de qualidade
Ainda existem aqueles que acreditam que se a garrafa foi produzida com bastante vidro, ela é mais cara e de qualidade. "Vinhos de guarda usam garrafas espessas para reduzir a incidência de luz e para ser resistente, já que o rótulo ficará guardado por muito tempo. Para vinhos de consumo imediato a espessura da garrafa não faz diferença", comenta Natália Cacioli. Ela lembra que o produtor pode escolher uma garrafa mais simples para reduzir o custo final do produto.
O fundo côncavo da garrafa indica que o vinho é fino e ajuda na hora de servir
A especialista alerta que este é o mesmo caso da garrafa pesada. "Não sei de onde saiu o mito do fundo côncavo. Já perguntei para diversos produtores da Itália, do Chile e da Argentina o que isso significa e todos eles me disseram: 'nada'. É apenas uma característica da linha de produção, mas, seguramente, não é para colocar o dedo", orienta. Ela indica que, na hora de servir, o melhor é segurar no corpo da garrafa, que dá maior firmeza e não "esquenta" a bebida, como algumas pessoas acreditam.
Vinho fechado com rosca ou rolha sintética não presta
"Dá para escrever uma tese de mestrado sobre este assunto", brinca a sommelière. Natália lembra que a cortiça é um material natural, retirado de uma árvore chamada sobreiro, presente principalmente em Portugal e que precisa de 25 anos para estar pronta para a primeira extração. Ou seja, ela é cara e limitada. "A cortiça é um tipo de material que permite uma pequena troca de oxigênio entre o líquido na garrafa e o ambiente externo, processo importante para vinhos de guarda. Se você comprou o vinho e vai tomá-lo hoje ou semana que vem, a cortiça não faz diferença". A especialista lembra ainda que rolhas sintéticas e tampas de rosca são mais sustentáveis e baratas.
Vinho tinto é mais complexo que o branco
"São estilos diferentes mas cada um com suas maravilhas e momentos. A principal diferença do vinho tinto para o branco é que o primeiro tem propriedades que vêm da casca da uva: cor e tanino, que é aquela sensação de adstringência que 'seca' a boca". A presença de tanino, diz Natália Cacioli, é um fator que ajuda na conservação natural da bebida, aumentando sua longevidade. Os rótulos brancos são mais frescos, devido à acidez, e, apesar de serem vinhos feitos para consumo mais imediato, alguns têm grande potencial de guarda.
Carne vermelha combina com vinho tinto e peixe, com branco
"Harmonização é muito pessoal. Existem orientações básicas, mas não regras. Vinhos tintos têm taninos e a gordura ajuda a disfarçar essa sensação, daí a harmonização com carnes vermelhas. Já vinhos brancos e rosés costumam ser mais leves, por isso normalmente são indicados para carnes brancas e outros pratos igualmente leves", esclarece a somemlière. Ela lembra que a harmonização não é "ciência exata" e você pode associar a bebida com o que tiver vontade.