Uma pesquisa da Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro, descobriu que o bagaço da uva, um dos resíduos da indústria de vinhos no Brasil, pode gerar insumos de alto valor agregado, especialmente para a indústria alimentícia. Ingredientes funcionais, corantes naturais e nanocristais de celulose são alguns dos produtos criados a partir dos subprodutos da fruta.
O processo de aproveitamento integral dos resíduos da produção de vinhos, espumantes e sucos de uva pode ser implantado na linha de produção industrial com equipamentos simples e de baixo custo, conforme a Embrapa. A primeira etapa inclui a extração de compostos antioxidantes (como as antocianinas) da casca da uva – sem as sementes.
Como a presença desses compostos fenólicos é abundante, o processo resulta em ingredientes funcionais e corantes naturais de alta qualidade. Em seguida, pode se realizar um processo simples de extração aquosa a quente de fibras alimentares, que ainda carregam compostos antioxidantes em sua estrutura, resultando em um ingrediente rico em fibras antioxidantes.
O extrato em pó proveniente do bagaço de uva pode ser considerado um insumo agroindustrial com grande potencial funcional. Para avaliar a sua funcionalidade, a pesquisadora Karina Olbrich, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), em parceria com a professora Kátia Sivieri, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), desenvolveu um estudo laboratorial para analisar o impacto na microbiota intestinal do consumo de uma bebida à base de leite de cabra e que recebeu o extrato e o suco de uva.
Os resultados observados na pequisa demonstram que as bebidas probióticas de leite de cabra enriquecidas com extrato de uva continham altas quantidades de fibra alimentar e compostos fenólicos, que são considerados biologicamente ativos. A análise da composição e da atividade metabólica da microbiota intestinal simulada in vitro indicou que o consumo dessa bebida enriquecida com o extrato de uva pode trazer benefícios para a saúde.
"A bebida promoveu um aumento substancial de ácidos graxos de cadeia curta, muito benéficos à saúde do intestino e que favorecem o controle de microrganismos causadores de doenças, reduzindo o pH intestinal", conta Karina Olbrich, que trabalha no desenvolvimento de produtos lácteos caprinos com potencial funcional.
Também foi observado o aumento da população intestinal de bactérias como lactobacilos e bifidobactérias, que têm efeito positivo para a saúde. Por essas diversas funcionalidades, a bebida enriquecida com extrato de uva pode ser considerada um produto multifuncional. E há ainda mais uma vantagem. "Agrega-se funcionalidade e cor naturalmente, dispensando o uso de corantes artificiais", completa a cientista.
O consumo de produtos derivados de leite de cabra pode ser uma boa opção para a produção de alimentos funcionais, particularmente para indivíduos que não podem ingerir produtos lácteos bovinos devido a alergias proteicas. A bebida láctea fermentada probiótica adicionada de suco e extrato do bagaço de uva foi avaliada sensorialmente por 112 consumidores potenciais na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, em Araraquara. O teste de aceitabilidade indicou que a bebida obteve aprovação para todos os atributos sensoriais avaliados.
(com Unesp Agência de Notícias)
CIÊNCIA
Resíduo da produção de vinho pode ser usado em bebida funcional
Pesquisa da Embrapa deu novo uso para o bagaço da uva
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