Um caso comovente ocorrido em Portugal está chamando a atenção de todo o mundo: um bebê nasceu saudável após ter sido mantido dentro do corpo da mãe que teve morte cerebral oficializada em dezembro do ano passado. A portuguesa Catarina Sequeira sofreu uma grave crise de asma enquanto estava grávida de três meses e foi levada para o Hospital de Santos Silva, na cidade de Gaia, quando entrou em coma profundo. Pouco depois, com 19 semanas de gestação, os médicos declararam a morte cerebral da paciente. A informação foi divulgada pelo periódico português Jornal de Notícias.
Com a autorização do marido e da família, Catarina foi levada para o Hospital de São João, no Porto, onde os médicos a ligaram ao equipamento de suporte artificial de vida para que conseguisse manter a gravidez até poder dar à luz por volta das 32 semanas. Os médicos avisaram a família de que a jovem de 26 anos seria uma espécie de "incubadora humana".
De acordo com o jornal, o parto do pequeno Salvador estava previsto para esta sexta, dia 29 de março, mas foi antecipado para a última quinta (28) devido a algumas complicações. O bebê, que vem sendo chamado de "milagre", ocorreu na 31ª semana de gestação, por meio de uma cesariana de urgência. Apesar de ter nascido com dificuldades respiratórias, o Jornal de Notícias afirma que o estado de saúde de Salvador está evoluindo bem. Ele pesa 1,7 kg e mede 40 cm.
Apó a morte cerebral de Catarina foi declarada no dia 26 de dezembro do ano passado e ela ficou 92 dias ligada aos aparelhos para a manutenção do corpo e dos órgãos vitais. "Isso para garantir a estabilidade hemodinâmica, respiratória e metabólica e evitar os problemas decorrentes da morte cerebral como as disfunções hipofisárias que causam graves distúrbios metabólicos", comenta a médica Teresa Honrado, do Hospital de São João, citada pelo periódico português.
Como nasceu com o sistema respiratório pouco desenvolvido, Salvador precisou ser ventilado. Segundo a médica, ele passou pelos mesmos procedimentos de qualquer bebê que nasce prematuro e "está se comportando como um bebê de 32 semanas".
O Jornal de Notícias lembra que o caso gerou uam discussão ética a respeito da necessidade de se manter uma pessoa com morte cerebral com o corpo funcionando por tanto tempo. Para Filipe Almeida, diretor da comissão de ética do Hospital de São João, citado pelo jornal, quando há uma razão muito forte, como uma gravidez, é legítimo manter um cadáver ligado às máquinas. Apesar de ser uma decisão difícil, o caso de Catarina não causou problemas porque o pai da criança e a equipe médica tiveram o mesmo posicionamento.
O corpo de Catarina foi enterrado nesta sexta (29) e o bebê deve ter alta daqui a um mês, segundo previsão dos médicos.
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