Um estudo publicado na revista científica Nature na última segunda, dia 5 de março, apresenta o segundo suposto caso de cura da Aids no mundo. Trata-se de um homem que apresentou remissão sustentada do vírus HIV-1 (fase da doença em que não há sinais de atividade dela).
O caso é registrado mais de 10 anos após a primeira confirmação de um paciente que teria se curado da infecção depois de um transplante de células-tronco na Alemanha. O americano Timothy Ray Brown, conhecido como o "paciente de Berlim", passou pelo procedimento há 12 anos e ainda está livre do vírus.
Até agora, o caso de Brown era o único que aparentemente resultou na cura da doença. Os transplantes de células-tronco, considerados de alto risco, não apresentaram resultados em outros pacientes. No caso mais recente – o homem foi identificado apenas como o "paciente de Londres" – já se passaram 19 meses sem que a presença do vírus tenha sido constatada.
Os dois casos de remissão do vírus HIV estão relacionados ao transplante de medula óssea para o tratamento de câncer no sangue com células-tronco de doadores com uma rara mutação genética que impede a disseminação da infecção no organismo.
"Ao conseguirmos a remissão em um segundo paciente utilizando a mesma técnica, demonstramos que o paciente de Berlim não foi uma anomalia", afirma o pesquisador Ravindra Gupta, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, chefe do estudo, em entrevista à emissora estatal alemã Deutsche Welle.
Os cientistas, porém, alertam que o transplante de medula óssea não é uma opção viável para o combate à Aids. Ainda assim, afirmam que o segundo caso de remissão e provável cura poderá ajudar nas pesquisas para futuras estratégias de tratamento.
O "paciente de Londres" foi diagnosticado como portador de HIV em 2003 e iniciou o tratamento com medicamentos em 2012. Naquele ano, ele acabaria desenvolvendo um linfoma de Hodgkin (câncer do sistema linfático). Em 2016, aceitou realizar um transplante com células-tronco.
A equipe médica optou por buscar um doador com a rara mutação genética que confere resistência natural ao vírus HIV. Essa mutação ocorre em 1% de descendentes de pessoas do norte da Europa que a herdaram de ambos os pais e são praticamente imunes ao HIV.
O transplante transmitiu ao "paciente de Londres" a mutação genética do doador e modificou seu sistema imunológico. Segundo Ravindra Gupta, trata-se de um "evento improvável". Após a cirurgia, o paciente suspendeu o tratamento com medicamentos e aguardou para ver se o vírus reapareceria.
A Sociedade Internacional para a Aids, em comunicado à imprensa, afirma que o caso do "paciente de Londres" significa uma validação do conceito de que a Aids tem cura. "A esperança é que isso possa levar a uma estratégia segura, econômica e fácil para atingir esses resultados através da tecnologia genética e ou de técnicas relacionadas aos anticorpos", diz a entidade.
(com Deutsche Welle)
.