Há cerca de 1,2 mil anos, uma tribo que vivia na região onde hoje é a Bolívia usava um recife no meio do lago Titicaca, o mais alto do mundo, como repositório de "valiosas" oferendas. Em 2013, esse esconderijo foi desenterrado por arqueólogos marinhos. Seis anos depois, finalmente os pesquisadores acreditam ter descoberto o significado desse ato, que evidencia uma religião que ajudou o antigo estado de Tiwanaku a se tornar uma força dominante na região. A informação foi divulgada pela revista americana National Geographic.
Os resultados fo estudo forma publicados no periódico científico Proceedings of National Academy of Sciences na última segunda, dia 1º de abril.
Os arqueólogos encontraram dois medalhões de ouro com a representação da divindade com face de raios de Tiwanaku e placas de metal que retratam um mítico híbrido de puma-lhama, além de pedras semipreciosas e queimadores de incenso em meio ao recife de Khoa, que está localizado perto da Ilha do Sol, no Titicaca, lar de vários locais sagrados dos povos de Tiwanaku. Os mergulhadores também recuperaram os restos de animais reais, incluindo os ossos de pelo menos três jovens lhamas fruto de sacrifício.
Como mostra a National Geographic, cientistas ainda estão tentando entender a formação da religião que ajudou a tornar o estado de Tiwanaku, que existiu entre os anos 500 e mil da Era Cristã, e em seu auge se estendeu até o Chile e o Peru. Essa civilização não deixou rastros significativos de poder militar, e acredita-se que o estado tenha acumulado influência religiosa e comercial. Embora os arqueólogos tenham descoberto muitas evidências relacionadas à religião de Tiwanaku, ainda querem entender os significados das divindades para esse povo e como podem ter contribuído para a expansão da civilização.
Outro achado surpreendente no Titicaca foram cinco itens feitos de conchas de Spondylus e uma concha completa. Os moluscos eram importantes para as primeiras culturas andinas, mas são nativos do oceano Pacífico, e não do famoso lago boliviano. O fato de essas conchas estarem a dois mil km do local de origem indica tanto as relações comerciais do povo Tiwanaku quanto o grande valor desse material.
Por que os adoradores dos Tiwanaku deixariam valiosos objetos no alto de um lago dos Andes? De acordo com o antropólogo José M. Capriles, professor da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, um dos autores do artigo, citado pela revista, seriam uma evidência de uma tradição religiosa em formação, o que ajudou o estado de Tiwanaku a crescer e florescer. Usando materiais valiosos e desejáveis %u200B%u200Bnos ritos, os adoradores de Tiwanaku mostraram o compromisso com as novas tradições religiosas, diz Capriles. "Essas divindades que as pessoas estavam criando se tornaram instituições que governavam o comportamento", completa o pesquisador à National Geographic.
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