Revista Encontro

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Ele joga no ataque

Pabline Félix
Sebastião Bomfim Filho em uma de suas nove lojas distribuídas por BH - Foto: Geraldo Goulart, Maíra Vieira, Divulgação

Energia e inteligência: essas são as principais características dos centauros, seres mitológicos cujo corpo é metade homem, metade cavalo. A alcunha desses personagens fantasiosos é emprestada à maior rede de artigos esportivos da América Latina, a Centauro, nome forte do Grupo SBF – leia-se Sebastião Bomfim Filho –, e reflete um paralelo que vai além da nomenclatura. A união entre a inteligência, convertida em um planejamento meticuloso, e a energia de uma equipe motivada é a grande chave para o sucesso, como define Sebastião Bomfim Filho, dono e fundador da marca.

 

As duas qualidades centaurinas podem também ser atribuídas ao próprio empresário. Com espírito empreendedor, enxergou no surgimento da cultura fitness, no início dos anos 1980, e no potencial de crescimento dos shopping centers a combinação ideal para investir e diferenciar a Centauro das lojas de esportes até então existentes. Hoje, a rede é a maior locadora de espaços em centros de compras – são mais de 180 mil metros quadrados distribuídos em 222 lojas em todo o Brasil – e cultiva um crescimento médio de 30% nos últimos 11 anos.

 

Além da visão apurada para boas oportunidades de negócios, o vigor dedicado ao trabalho é outra marca de Sebastião Bomfim. “Ele é um guerreiro, só para de pensar no trabalho quando chega em casa. Tem muita força de vontade para conseguir o que quer. Acho que o fato de ter enfrentado muitos obstáculos dá uma nova forma de olhar as conquistas, uma maneira de ver as coisas com muito mais valor”, elogia Cláudia Mota, mulher do empresário.

 

Sandro Sanches, gerente da megastore do BH Shopping e há 17 anos no grupo: a Centauro vende de calçados a bicicletas
 

 

Apesar de ter cursado administração, a escola que ensinou Bomfim Filho a fazer negócios é outra.

Foi com o pai, o comerciante Sebastião Bomfim, que ele aprendeu a amar o varejo. “Meu pai era um homem muito sábio, que ensinou muita gente a fazer comércio em Caratinga, nossa cidade natal. Teve loja de tecido, empresa de ônibus, loja de artigos para caça e pesca, além de uma fazenda. Mas era um homem centralizador. Quando morreu, passamos por uma grande dificuldade porque não estávamos inteirados dos negócios”, conta. A lição nunca mais foi esquecida: a capacidade de distribuir tarefas e gerenciar pessoas passou a fazer parte do seu estilo de gestão.

 

A experiência adquirida nos negócios da família levou à criação do primeiro empreendimento: um escritório de representação de balanças mecânicas usadas para pesar bovinos. Os bons resultados incentivaram Bomfim a investir na produção própria de balanças e, aos 24 anos, ele já comandava 60 funcionários e vendia para todo o estado. “Achei que fosse ser um dos maiores industriais do Brasil. Conheci 80% das cidades do interior de Minas Gerais, visitando feiras agropecuárias e exposições bovinas. Mas, aos 27 anos, me descuidei do fluxo de caixa, uma coisa que é mortal numa empresa, e falimos. Às vezes, prejuízo não mata uma empresa. Já um fluxo de caixa errado...”, diz.

 

Com a venda dos equipamentos e dos estoques, Bomfim saldou as dívidas e reuniu uma quantia equivalente a US$ 10,5 mil. Este foi o capital investido na primeira Centauro, que, na época, era acompanhada do slogan ‘artigos esportivos finos’.

“Percebi que a preocupação com a saúde era uma questão que estava ganhando atenção. Além disso, achava muito prazeroso entrar em loja de esporte e sentir aquele cheirinho de uniforme novo, de bola de couro. Investi tudo o que tinha nessa primeira loja, nas proximidades da Savassi, mas com o aluguel mais barato. Nossa opção foi projetar um local limpo, que não tivesse camiseta pendurada na porta com fio de nylon, bola por todos os lados, aquelas coisas. E isso agradou ao público”, conta.

 

Fachada da primeira loja, na praça ABC, fundada na década de 1980: hoje são apenas três filiais fora de shoppings em BH
 

 

Para Eugênio Foganholo, especialista em varejo e sócio da consultoria Mixxer, um ponto forte da marca, e que certamente foi um dos fatores de sucesso, foi a decisão reunir artigos para diversas modalidades em um só lugar. “O mercado de material esportivo sempre foi muito pulverizado. Havia, e ainda há, lojas que se especializam em algumas categorias. Nesse sentido, a Centauro soube inovar, pois foi a primeira a oferecer solução completa aos clientes”, diz Foganholo.

 

A primeira loja foi fundada em 1981, na praça ABC, no encontro das avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena, bairro Funcionários, em Belo Horizonte. Dois anos depois, o empresário inaugurava a terceira Centauro Esportes, já no BH Shopping. “Naquela época, estava começando no Brasil o mercado dos shoppings.

Hoje, todas as nossas lojas estão nestes centros, exceto por três unidades pequenas aqui em Belo Horizonte”, diz Sebastião Bomfim. As três lojas de rua são da marca ByTennis e estão nas avenida Getúlio Vargas e avenida Afonso Pena e na rua Tupis.

 

Somam-se a estas mais seis lojas distribuídas pelos maiores shoppings de Belo Horizonte.
Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), destaca a importante contribuição de Bomfim para o setor: “Homens como ele foram fundamentais para o desenvolvimento dos shoppings. Ele está sempre na vanguarda e é muito admirado entre os executivos, porque entende do ramo e, mais do que isso, gosta dele”, diz Sahyoun. “Ele é um visionário. Conseguiu de maneira notável enxergar uma demanda existente e oferecer um espaço que contempla produtos para a toda a família. A Centauro é um parceiro muito importante para nós”, completa Giovani Decker, vice-presidente e general manager da Asics Brasil, uma das grifes mais vendidas na rede.

 

 

 

Mas não é só de shoppings que vive a Centauro. Outro setor que recebe investimentos pesados é o e-commerce. Mais do que um espaço adicional, o comércio na internet passou a ser visto desde 2009 como novo negócio e, por isso, demanda ações específicas, bem como uma estrutura administrativa própria. Decisão acertada? A venda da centauro.com em 2009 foi de R$ 10,7 milhões. Já em 2010, o resultado pulou para R$ 37 milhões. De 2010 para 2011, saltou para R$ 120 milhões e, para este ano, a previsão é de que chegue a R$ 220 milhões. “Em todo negócio tem de haver o senso de oportunidade”, define Bomfim. O investimento na web se faz imprescindível não só para aproveitar o interesse crescente dos consumidores nessa modalidade de compra,  mas também para enfrentar concorrentes pesados como a Netshoes, fundada em 2000 e que em 2010 faturou R$ 400 milhões.

 

O gosto por desafios é outro traço da personalidade de Bomfim. “Não gosto de perder nem uma partida de tênis! Claro que dentro das regras. Mas tenho ‘sangue na boca’ por vencer”, conta. Competidor por natureza, a meta dele é “crescer, crescer e crescer”. Talvez por isso Belo Horizonte tenha se tornado pequena para a Centauro, que desde 2008 tem sua sede na capital paulista. De lá, partem as ações que afetam lojas de norte ao sul do país. “A capilaridade é um dos pontos fortes da empresa: eles chegam em lugares onde muitas grandes firmas não vão, e sem perder a identidade. O layout diferenciado das lojas é reconhecido e reproduzido em qualquer lugar”, analisa Fernando de Andrade Marchesini, coordenador do curso de gestão de negócios em comércio e vendas da Fundação Getúlio Vargas/IBS Business School.

 

A convivência com empresas maiores e com mais tradição que a Centauro é, para Bomfim, uma das vantagens de estar em São Paulo, pois permite que práticas de governança e estratégias de negócio sejam naturalmente “absorvidas”, o que, segundo ele, não é desleal, mas característica do varejo e etapa fundamental do processo de desenvolvimento do comércio. “Aprendi com Sam Walton, criador da rede Walmart, que o administrador não pode ter orgulho e desprezar as boas práticas adotadas em outros lugares. O varejo é uma eterna cópia. É isso que ajuda a aprimorar, que causa a evolução no mercado, porque vemos as boas ideias, mas somos obrigados a pensar na realidade de cada empresa e adaptar”, diz.

 

O sistema de gestão da empresa conta, hoje, tanto com executivos experimentados em outras companhias quanto com “pratas da casa”, que podem se orgulhar de dizer que fizeram parte do processo de crescimento da empresa pelo Brasil. Desde o surgimento, faz parte da política da Centauro valorizar o esforço pessoal e abrir oportunidades para aqueles que estejam dispostos a vestir a camisa da empresa. Esse foi o caso de Sandro Sanches, atual gerente da megastore do BH Shopping e há 17 anos na companhia. “Comecei a trabalhar como operador de caixa, em 1994, e, para mim, aqui não é só um emprego. Eu faço parte da família SBF. Minha escola de vida foi aqui dentro. Eu não nasci gerente; me tornei um líder porque a empresa ofereceu essa oportunidade”, diz Sanches.

 

O tenista mineiro Marcelo Melo, atleta patrocinado pelo grupo: apoio a um dos esportes preferidos de Bomfim
 

 

A meritocracia é ‘martelada’ dentro da empresa quase como um mantra, conta Bomfim, que, sempre que possível, acompanha a inauguração de novas lojas e conta aos novatos casos internos de sucesso profissional como forma de motivar a equipe. Se a média anual de abertura de lojas é de 35, não é pouco trabalho. “O sucesso da gestão de qualquer empreendimento hoje em dia está nas pessoas. Sebastião Bomfim sabe despertar o envolvimento pessoal do funcionário com a Centauro, e isso gera crescimento para a empresa. No ramo de negócios, costumamos dizer que pessoas que trabalham felizes geram lucro, e as infelizes, prejuízo. É por isso que a Centauro cresce tanto”, afirma Marchesini.

 

A mudança para São Paulo não foi de todo mal. Permitiu a Bomfim ficar perto das filhas Rizza, produtora de eventos na cidade, e Larissa, estudante de administração na Insper, uma das principais escolas de negócios do país. Na rotina familiar, o jantar das segundas-feiras é dedicado à reunião com Larissa, Rizza, a mulher Cláudia e o enteado Lucas. A filha mais velha, Andressa, é casada e trabalha como atriz em Nova York (EUA). Na capital paulista, ele também construiu um sólido grupo de amigos que, entre outras coisas, o iniciaram no golfe. Apesar de se considerar um ‘atleta medíocre’, ele também pratica esqui e tênis, sua paixão, e segue os campeonatos de automobilismo. “Esquio há mais de 20 anos, adoro a adrenalina que dá. Sou aficionado por velocidade. Já corri de kart durante um breve período, mas foi minha única experiência em pistas de corrida. Sou um amante do esporte. Mas meu preferido é, certamente, o tênis. Sempre viajo para acompanhar os torneios de Roland Garros e o US Open”, conta.

 

O amor de Bomfim pelo esporte se traduz no apoio ao tenista Marcelo Melo e seu técnico Daniel Melo, e ao piloto Guilherme Silva, que atualmente compete na categoria de base do automobilismo pela Renault. O foco do suporte da marca, todavia, está sobre eventos de promoção à prática esportiva: em 2012, a empresa contribui para a realização de oito eventos coletivos de diversas modalidades, como mountain bike, atletismo, tênis, futebol e rali. Ou seja, esporte é com ele mesmo.

 

 
 
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