

A rua Além Paraíba, principal via e onde fica a paróquia Nossa Senhora da Conceição, tem um trânsito confuso. O corredor é estreito, ainda sim é permitido trânsito nos dois sentidos e estacionar em um dos lados. Detalhe: com circulação de linhas de ônibus. Edificações que remontam ao início do século passado estão descaracterizadas, pichadas e degradadas pelo tempo. Mesmo a rua Itapecerica, famosa por seus antiquários e mestres restauradores, não é nada convidativa para compras, aliás, não é raro ouvir recomendações de não circular pelo local, sobretudo à noite, em razão da insegurança. Não é difícil encontrar usuários de crack transitando por lá ou mesmo morando na rua.

Leonardo Castriota, professor da Escola de Arquitetura da UFMG, conhece bem as carências do bairro. Na década de 1990, ele esteve envolvido em projetos de revitalização da região, que não vingaram. Há quatro anos, junto à universidade e ao Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável (Ieds), Castriota evidencia novamente o bairro como objeto de pesquisa e de ação. "Estamos montando um projeto de revitalização para fortalecer os negócios locais", diz. Para o professor, não há como pensar em revitalização sem antes fortalecer a cultura e a economia da Lagoinha. Por isso, está em curso um projeto de oficina para transmitir o saber-fazer tradicional do bairro, como a arte de restaurar. A oficina deve ser instalada no Mercado Popular da Lagoinha, onde já são ministrados cursos profissionalizantes.


Agora, antigos moradores e frequentadores esperam que o bairro recupere a vitalidade cultural que inspirou poetas e escritores. Torcem também para que, com o passar dos anos, não seja lembrado apenas pelo famoso "copo Lagoinha", na verdade o copo americano, que durante muitos anos só era encontrado por lá, mas ainda hoje recebe dos belo-horizontinos o carinho apelido.
