
O trabalho manual é riquíssimo e somente bons artesãos conseguem criar esses "guti-guti" tão perfeitos, os reborn babies - ou renascidos. A onda desses bebês começou nos Estados Unidos, atingiu a Europa e Austrália e chegou como febre ao Brasil. Brinquedo, principalmente, de gente grande, essas criaturas têm conquistado variedade grande de pessoas: mulheres sem filhos ou maternais demais, do tipo mãe que quer eternizar os primeiros meses dos filhos. Ou, simplesmente, colecionadores, que chegam a pagar 8 mil reais - ou até mais - por boneca.
As artistas produtoras, conhecidas pelas clientelas como cegonhas, têm trabalhado em ritmo acelerado para atender à demanda. E não conseguem. Para ter uma reborn, é preciso pegar senha, entrar na fila e esperar pelo menos três meses. No caso das mais raras, essa fila pode chegar a um ano.
Lorena Barsand, de 27 anos, é publicitária e fanática por reborn babies. E apresenta a "prole": Pedro, Layla, Miguel e Flora. Lorena tem, na verdade, sete bebês reborn. A publicitária é caprichosa tanto na escolha dos nomes como das roupas. "Não visto qualquer coisa neles. E não gosto de colocar a roupa de um em outro", diz. No seu quarto, tem um berço reservado para os bonecos, assim como um espaço considerável do guarda-roupa.

O frisson causado pelos bebês leva as "cegonhas" a produzirem dia e noite. Em Contagem, a artista plástica Ana Paula Guimarães, de 29 anos, deixou a área financeira de uma multinacional para dedicar-se ao artesanato, principalmente à produção de bonecas. "Não é brinquedo, é uma peça de arte para colecionador", diz Ana Paula. Ela conta que alguns clientes chegam a comprar até duas bonecas por mês. Com mais de 15 clientes na fila de espera, só aceita encomendas para 2016. A produção é frenética: das 8h às 21h. Para ajudar no atendimento, ela conta com a ajuda da mãe, Maria Lúcia, e do irmão, Victor Hugo. "Não estamos dando conta das encomendas", diz. Victor, que era projetista em multinacional, também deixou o emprego em função das reborns.
As bonecas produzidas por Ana Paula já foram parar na Espanha, Austrália, Estados Unidos, México, Itália e Alemanha. Os bebês são feitos a partir de moldes importados de vinil ou silicone, em que são aplicadas camadas de tintas especiais para chegar à tonalidade da pele humana. Uma arte que exige dias de dedicação e paciência. Os cabelos são implantados com pelo de ovelha, cabra ou lhama. "As pessoas ficam encantadas com a perfeição dos detalhes", diz Ana Paula.

Antes de fazer as encomendas, as clientes fazem descrição detalhada das características que querem no bebê: podem ser loiras, negras, asiáticas, com síndrome de Down. As idades também variam e podem chegar até a 7 anos. Há a opção ainda de fazer bonecas personalizadas, com réplicas de crianças reais. "É um bebê por aproximação. Pegamos um molde parecido com a criança e aplicamos a característica", explica a artista Cássia Robini Pimenta, de Belo Horizonte.
Foi o que fez a administradora de empresas Bia de Souza Sá, de 41 anos. Ela tem em casa duas réplicas do filho Glayson Júnior, que hoje tem 12 anos. Uma réplica foi feita tendo como referência fotos de Glayson com 20 dias de nascido e outra tentou reproduzir o garoto com 1 ano de idade. Mas os dois não são os únicos "bebês" de Bia. Em sua casa no bairro Jardim Riacho das Pedras, em Contagem, ela coleciona mais de 200 bonecos, todos acomodados em um único quarto. Detalhe: ela já encomendou outros 26, entre eles, a réplica do príncipe George, filho do príncipe William e de Kate Middleton.

Ainda não há estudos sobre os efeitos que um reborn pode causar em uma mulher adulta. Mas a psicóloga Marisa Sanabria ressalta que as mulheres costumam colecionar objetos como caixinhas de músicas, panos de bordados e até bonecas que remetem à atitude feminina de conservar, guardar e resguardar. "Isso pode representar a necessidade de resgatar desejos ou mesmo frustrações e impossibilidades da pessoa", explica ela.
O assunto, certamente, dá margem a controversias, mas o que ninguém pode negar é que os bonecos, de fato, parecem bebês de verdade. E dá mesmo vontade de cuidar.