
Consumidoras de todo o país vêm a Belo Horizonte atrás dos vestidos com os quais vão reinar em formaturas, casamentos e bailes de debutantes, ou seja, nos tapetes vermelhos nacionais. "Tem gente que pega um avião com uma lista de marcas para visitar em um só dia, porque sabe que em BH vai encontrar o vestido perfeito para qualquer evento", diz Georgiana Mascarenhas, de 42 anos, diretora de criação da Barbara Bela, que atende principalmente mulheres vindas de Brasília, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e do interior mineiro. Ela tem uma loja aqui e outra em São Paulo. Na casinha rosa incrustrada no meio de Lourdes, fica uma infinidade de modelos longos, curtos, bordados, estampados. A cada coleção são criadas pelo menos 110 peças-referências, sendo 95% vestidos – com preços que variam de 1.900 a 12.900 reais. A Barbara Bela é uma das pioneiras no mercado e conquistou gente famosa, como as atrizes Tais Araújo, Juliana Paes, Carolina Dieckmann e a apresentadora Luciana Gimenez. Fundada pela mãe de Georgiana, Helen de Carvalho, de 73 anos, ela está no mercado há mais de quatro décadas. Desde o início, a marca apostou em um estilo romântico, usando linho e entremeios de rendas. Mais tarde, entrou o bordado com pedrarias. Muito envolvida com o mercado, Helen também foi uma das integrantes do Grupo Mineiro de Moda, responsável por colocar a capital mineira no mapa da moda nacional.

O Grupo Mineiro de Moda foi o embrião de todos os movimentos que surgiram no setor desde então, inclusive o atual Minas Trend, que atrai compradores de vários estados. Um dos maiores nomes do Grupo Mineiro, o estilista Renato Loureiro estava na linha de frente quando, em 2007, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) resolveu criar o então Minas Trend Preview. "O evento aconteceu em novembro, antes das outras mostras do país. Muitas marcas, então, levaram vestidos para as festas de final de ano. Os compradores enlouqueceram e fizeram as encomendas para serem entregues 15 dias depois", conta Renato. A notícia se espalhou. No ano seguinte, muitos lojistas já chegaram a BH procurando pelos vestidos para o réveillon. "Mesmo as marcas que não faziam esse tipo de roupa acabaram desenvolvendo uma linha festa", diz Renato.
Uma dessas marcas era a Mabel Magalhães, que também fez parte do Grupo Mineiro de Moda. Tendo como uma das características a alfaiataria, a grife foi fundada há 38 anos por Mabel. Sempre teve como alvo principal uma mulher feminina e sofisticada. Nas araras da loja de 400 metros quadrados, no Funcionários, as clientes encontram de roupas para o dia, tubinhos e camisas, até vestidos fluidos de seda ou inteiramente rebordados. Hoje comandada pela filha da fundadora, Claudia Magalhães, de 46 anos, a empresa resolveu focar na consumidora final, deixando de vender no atacado. "A nossa ideia foi resgatar o atendimento de ateliê, o mais personalizado possível", diz Claudia. "Eu tenho a obrigação de dar continuidade ao trabalho no qual minha mãe sempre acreditou. Padrão de qualidade, bom acabamento e modelagem perfeita. É isso que nos faz diferentes." Ela chega a fazer 220 modelos por coleção, com preços que variam de 400 a 8.900 reais. "Roupa com bom corte não acaba, atravessa os anos", diz ela. Entre suas clientes famosas estão as atrizes Andreia Horta, Claudia Ohana e Agatha Moreira, além da cantora Claudia Leitte.

Se estampa não é o forte da Vivaz, é o que define as criações de Victor Dzenk, de 48 anos. Reconhecido como um mestre na área de estamparia, ele tem uma equipe para criar desenhos exclusivos em sua fábrica, em Lagoa Santa. "A mulher que veste a marca tem uma identidade forte, não tem medo de ousar nas cores. Ela não quer passar batido em um evento", afirma. Suas peças custam entre 150 (um lenço) e 6 mil reais. Com lojas próprias em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, o estilista define sua moda como uma fusão do espírito das duas cidades. "Tem o ar da montanha, mas também um spray litorâneo. É chique, mas descolada", diz ele, eleito queridinho de estrelas como a apresentadora Ana Hickmann e as atrizes Paola de Oliveira, Cleo Pires e Luiza Brunet. Com o tal miniwedding – ou seja, casamentos menores, voltados para amigos e normalmente realizados em casa, na praia ou fazenda – em alta, Victor viu as encomendas de vestido de noiva crescerem muito nos últimos quatro anos. Atualmente, faz cerca de um por mês, com preços que começam em 10 mil reais. "Os meus vestidos são mais leves, esvoaçantes. Quando vejo que a noiva deseja uma roupa para catedral, muito armada e estruturada, indico outro estilista", diz ele, que assinou o look da empresária mineira Ana Gutierrez em seu casamento em Trancoso, em 2012. No momento, Victor está fazendo 25 vestidos para madrinhas de um mesmo casório. Todos em dois tons de nude. "A tendência americana de ter um altar monocromático está chegando ao Brasil", diz. "As fotos ficam mais bonitas."

Da nova geração destaca-se Patrícia Bonaldi, de 35 anos, que começou na moda de um jeito surpreendente. Morando em Uberlândia, a 470 quilômetros da capital, ela largou a faculdade de direito e resolveu investir em um negócio próprio. Abriu então uma loja multimarcas. "Mas aos poucos percebi que não oferecia o que as clientes queriam e comecei a fazer vestidos sob medida", conta. Em 2003, nascia a grife batizada com seu nome. Em pouco tempo, a estilista conquistou o coração das brasileiras com suas criações marcadas pelo bordado e caimento perfeito. A cantora Ivete Sangalo virou cliente, assim como a apresentadora Sabrina Sato e as atrizes Adriana Birolli, Sophia Abrahão e Marina Ruy Barbosa. Até a top Gisele Bündchen se derreteu com a delicadeza do trabalho da estilista. A modelo número 1 do mundo escolheu um vestido de franjas e canutilhos em dois tons de prata para usar durante o lançamento de um creme dental, em 2013. "Ficou lindo, e é uma imagem que vou guardar para sempre. Fiz dois vestidos e Gisele quis ficar com eles", diz Patrícia. Em 2012 ela criou uma segunda marca, a PatBo, que tem como público-alvo uma turma mais fashionista, fã de roupas ousadas, alegres e cosmopolitas. Suas criações já desfilaram nos corpos de Bruna Marquezine, Mariana Rios e da blogueira Thássia Naves. Neste ano, ela abriu, em Belo Horizonte, o Nohda – grupo que reúne as marcas Patricia Bonaldi, PatBo, Apartamento 03 e Lucas Magalhães (adquiridas por Patrícia em 2014) em um único espaço. Além das lojas próprias em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, suas criações podem ser encontradas em mais de 200 pontos de venda espalhados pelo Brasil. O sucesso, no entanto, extrapolou as fronteiras brasileiras. Hoje, Patrícia está em mais de 50 endereços no exterior, incluindo a tradicional Harrods, em Londres. "A moda festa, para dar certo, precisa valorizar o corpo e tem de deixar a mulher se sentindo a mais especial do evento", afirma.

De salto alto, ora elegante e discreta ora ousada e colorida, a moda mineira atravessa gerações. "É importante reforçar que isso não aconteceu por acaso. Com a fundação de Belo Horizonte nasceu também a nossa tradição em moda", diz a coordenadora do Centro de Referência da Moda, Marta Guerra. Da inauguração da fábrica de tecidos Renascença, em 1936, passando pela imigração dos italianos – que trouxeram consigo a arte na fabricação de sapatos – até a formação do Barro Preto, bairro que concentra um dos maiores centros atacadistas de roupas do Brasil, BH vem construindo uma história bonita entre sedas, cetins e rendas. Das grandes fábricas aos pequenos ateliês, os vestidos de festa são reinventados a cada estação. E, talvez exatamente por isso, estamos sempre prontos para encarar qualquer tapete vermelho.
