
Na Apac de Itaúna, a primeira do estado, inaugurada em 1997, os recuperandos se dividem em três regimes: fechado, semiaberto e aberto. A rotina é a mesma para todos e não há divisão por delito cometido. Até porque, como diz uma das inúmeras frases pintadas nas paredes da unidade, "Aqui entra o homem e o delito fica lá fora". "Os recuperandos são chamados pelo nome. Eles não são apenas números", afirma Wellington Alves de Sousa, inspetor de metodologia da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac), entidade responsável pela implantação do método, criado pelo advogado Mário Ottoboni, em 1979, em São José dos Campos (SP). Wellington fez uma clara referência às penitenciárias tradicionais, onde os detentos são identificados por números e todos vestem uniformes. Na Apac, os recuperandos usam roupas comuns e não são obrigados a raspar o cabelo.

No corredor do regime fechado, as celas são limpas e organizadas. Em nada lembram a superlotação das penitenciárias, sempre prestes a explodir em rebeliões ou motins, como aconteceu em janeiro em quatro estados brasileiros. No final desse corredor há o que seria a solitária, chamada de cela-forte, cuja ventilação é restrita. Ela é usada como capela e, diferente das outras, está sempre aberta.

Todo esse trabalho não é convertido em remuneração, mas em remissão de pena. Cada três dias trabalhados significa um dia a menos na prisão. É o caso de Wagner da Silva Rodrigues, de 29 anos, que atua na horta e vai deixar a Apac em julho. "Aprendi muito aqui. Quem diria que isso seria possível durante o cumprimento da pena?", diz. Rangel Nogueira, de 37 anos, há seis na Apac de Itaúna, atua na serralheria e se diz pronto para recomeçar a vida. "Cheguei aqui sem saber ler e escrever. Hoje, estou no 7º ano", afirma.

Maurílio Pedrosa, gestor do Instituto Minas pela Paz, que reúne 40 empresas parceiras com a missão de reintegrar egressos do sistema prisional à sociedade, ressalta que as Apacs dão dignidade aos apenados. "Os recuperandos perdem o direito de ir e vir, mas não o de serem pais, tios ou irmãos", diz Maurílio, que ainda destaca o preconceito em relação aos recuperandos quando deixam as unidades. "Por isso, estamos sempre em constante aproximação com as empresas e em busca de novas parcerias", diz. Quase 1,2 mil egressos das Apacs do estado já foram reinseridos no mercado de trabalho entre 2009 e 2016, por intermédio do instituto.

Tiago, o porteiro, apesar de estar a um passo, literalmente, da tal liberdade, diz que, comparada a outras prisões, se sente livre na Apac. "Aqui posso estudar, ter uma alimentação digna e receber minha família sem revistas constrangeadoras", diz Tiago, a poucos minutos de se despedir da reportagem e fechar o portão.
