O verde e o concreto se misturam na paisagem do Vila da Serra e do Vale do Sereno: moradores e construtoras elogiam o crescimento ordenado da região - Foto: Ronaldo Dolabella/EncontroNem o mais otimista dos especialistas em engenharia poderia imaginar que a dupla Vila da Serra e Vale do Sereno, em Nova Lima, se transformaria na menina dos olhos de investidores, construtores e comerciantes. Nem mesmo um dos homens que semeou isso tudo, há mais de 30 anos. "Meu pai não pensou que essa região viraria o que virou. Naquela época não havia nada, nem no Belvedere. Tudo era longe", lembra o engenheiro Luiz Hélio Lodi, diretor da Vila da Serra Empreendimentos e filho de Hélio Lodi, falecido há 10 anos. Seu pai era dono de uma mineradora e, nos anos 1980, teve de dar uma guinada nos negócios, quando a extração na região já não era mais economicamente viável. "Ele contratou então a construtora Mendes Júnior para fornecer toda a infraestrutura necessária para os bairros serem habitados", diz Luiz.
Entretanto, a ocupação só veio mesmo a partir dos anos 2000. O motivo era o vizinho Belvedere, que começava a ficar saturado.
A partir de 2006 veio o boom. "O Vila da Serra passou a receber inúmeros empreendimentos", afirma o engenheiro. A principal avenida do bairro, a alameda Oscar Niemeyer, a antiga Seis Pistas, passou a fervilhar.
Mas esse crescimento todo não foi desordenado. Novos hospitais, escolas, prédios comerciais e residenciais, além de um corredor de lojas e restaurantes, brotaram para atender o mesmo perfil de moradores e visitantes: com alto poder aquisitivo. "As primeiras construções usavam terrenos de 4 mil metros quadrados, sendo que no Belvedere eram lotes bem menores, com 500 metros quadrados", diz Luiz. Como resultado, começaram a surgir prédios espaçosos e com grande área de lazer.
O bairro Vila da Serra na década de 1990: apesar de oferecer infraestrutura, região só viria a ser ocupada, de fato, nos anos 2000 - Foto: Eustáquio Soares /EMO cardiologista Mário Vrandecic foi o responsável pela inauguração do primeiro empreendimento na região, o Biocor Instituto. O especialista escolheu o lugar ainda no final da década de 1970. "Inauguramos o Biocor em 1984, com especialistas dedicados à pesquisa, prevenção, diagnóstico e tratamento clínico e cirúrgico nas especialidades de cardiologia e cirurgia cardiovascular", diz. Vrandecic sentiu-se atraído também por outro aspecto da região. "Há mais de 30 anos, o encanto ficava por conta da beleza natural, hoje temos um centro de excelência empresarial e um polo residencial com forte apelo numa proposta de melhor qualidade de vida."
Em seu sexto mandato, o prefeito de Nova Lima, Vitor Penido, conhece bem o crescimento dos bairros. "Além do Biocor, a vinda dos hospitais Vila da Serra, Doutor Ricardo Guimarães e da faculdade Milton Campos consolidou a região e ajudou a trazer mais investidores", diz. Aos poucos, os bairros começaram a ser alvo de um problema recorrente nas grandes cidades: a mobilidade. Sobretudo nos horários de pico, transitar por ali é uma tarefa espinhosa.
De acordo com Penido, a solução está sendo pensada em conjunto com o prefeito de BH, Alexandre Kalil. "Já iniciamos as conversas, pois entendemos que o problema não é apenas da nossa cidade", diz. Entre as possíveis soluções está o projeto chamado de Via Estruturante, que pretende ligar o centro de Nova Lima à rodovia BR-356, na altura do Anel Rodoviário. Seria utilizada a via férrea desativada Águas Claras.
A estudante de direito Luiza Gusmão: "Aqui é bem completo, tem hospitais, serviços e bons restaurantes. Minha reclamação é a dificuldade de acesso" - Foto: Ronaldo Dolabella/EncontroO tema mobilidade também está na mira da Associação Villa Monteverde e da União das Associações e Condomínios do Vila da Serra e MG-030, a Univiva. Criada em março deste ano, a entidade mantém diálogo com o prefeito Vitor Penido e com empreendedores. "Muitas construtoras já estão revendo projetos e estudando o impacto no entorno", afirma o tradutor Paulo Antônio Barbosa, um dos integrantes da Univiva. A estudante Luiza Gusmão está na torcida para que o gargalo no trânsito seja aliviado. Ela cursa direito na faculdade Milton Campos, mora no bairro Serra, em BH, e gasta quase duas horas para ir e voltar da faculdade. "Aqui é bem completo. Tem hospitais, serviços e bons restaurantes.
Minha reclamação é o acesso", diz a estudante.
Além da boa oferta de serviços e apesar do grande número de prédios, os moradores do Vila da Serra se dizem privilegiados pelo ar puro que vem da mata do vizinho Vale do Sereno, que acaba por se confundir com o Vila da Serra. É até complicado encontrar alguém que saiba quais são os limites entre um e outro. A administradora de empresas Márcia Aparecida Moura mora no Vale do Sereno e garante que, apesar da região adensada, ainda é possível aproveitar o clima vindo da natureza. "Viver próximo à mata e a poucos minutos do comércio é raro hoje em dia", diz.
E a Torre? Torre AltaVila Center Class: erguido em 2005 para ser centro de entretenimento, atualmente prédio abriga apenas uma empresa de consultoria - Foto: Ronaldo Dolabella/EncontroEm qualquer lugar que você esteja no bairro Vila da Serra, dá para avistá-la. Sempre imponente e de arquitetura futurista, a torre AltaVila Center Class, que fica na rua Senador Milton Campos, é um dos símbolos da região. Contudo, a sua aparência contrasta com sua trajetória. Inaugurada em julho de 2005, como um dos empreendimentos mais ousados da época, a torre de 101 metros e quatro andares ainda não mostrou a que veio.
Ela foi criada para ser um centro de entretenimento, abrigando 72 lojas, mas a previsão não se concretizou. O prédio já chegou a ser ocupado pela Hard Rock Café, mas a casa de shows fechou as portas em 2014, diante do fraco movimento. O restaurante japonês Hoshi, inaugurado em 2007, também não resistiu. Atualmente, o movimento no prédio é gerado por aproximadamente mil funcionários da empresa de consultoria Accenture, que funciona no terceiro andar desde 2014. O salão de festas, no quarto andar, ainda está aberto a locações. Procurados pela reportagem, a administração e os proprietários do empreendimento não quiseram dar entrevistas..