

Depois da canalização do córrego começaram a brotar no Lourdes os casarões mais chiques da cidade. As fachadas seguiam a arquitetura eclética e de influência neoclássica, estilos vigentes à época, sobretudo na Europa. É o que conta o livro Escavar o Futuro (2014), da Fundação Clóvis Salgado: "A retificação e canalização do córrego do Leitão foram empreendidas na segunda metade da década de 1920, ao mesmo tempo que eram instalados os emissários de esgotos em sua margem direita. A área que compreende o bairro de Lourdes foi reservada pelo poder público para ser ocupada por famílias mais abastadas da cidade".

Essa, entre outras histórias, interessa a Jeferson Rios, presidente da associação de moradores do bairro de Lourdes (Amalou). Ele está vasculhando a trajetória da região para usá-la na festa de aniversário de 74 anos da praça João Luiz Alves, mais conhecida como Marília de Dirceu, em setembro. "JK foi quem inaugurou a praça e o desejo dele era de que este lugar se transformasse em um cartão-postal do bairro", diz Jeferson. O desejo do político se cumpriu. A praça foi eleita por duas vezes (2011 e 2013) a melhor de BH pelo projeto da PBH Adote o Verde. E não é difícil entender o sucesso. Adotada pela Amalou, ela recebe manutenção diária, oferece caixinhas para os moradores descartarem as fezes dos animais de estimação, sistema de irrigação que aproveita a água de nascentes e um projeto de leitura que incentiva a troca de livros.

A tranquilidade da praça se estende para outras ruas arborizadas de Lourdes. De acordo com Jeferson Rios, há 60 rádios comunicadores espalhados no bairro. Os aparelhos ficam com os porteiros dos edifícios, sempre prontos a comunicar à Polícia Militar - com sede fixa na praça Marília de Dirceu - algo suspeito. Outra preocupação da associação é o trânsito movimentado, sobretudo, à noite. Nas rotatórias há sempre o aviso para que o motorista respeite a sua vez e os pedestres.

Angela Randazzo Antunes também aponta a poluição sonora como a grande dor de cabeça de quem vive por lá. Contudo, ela afirma que com diálogo o problema pode ser resolvido. Ela é dona de um dos poucos antiquários que ainda restam na rua Marília de Dirceu. "Lourdes já foi o ponto dos antiquários", diz Angela, que faz também parte do grupo Divas de Lourdes, criado há um ano. Cerca de 60 mulheres se reúnem regularmente para tratar das questões da comunidade. "Tudo que nós pedimos, conseguimos." A questão da poluição sonora está na fila.
O maior IDH
Estudo recente da UFMG apontou que o bairro de Lourdes, ao lado do Santo Agostinho, possui o Índice de Desenvolvimento Humano mais elevado da cidade. A medição é feita pelos mesmos critérios do IDH Global: longevidade, educação e renda. Quanto mais próximo de 1, significa que o bairro, a cidade ou o país está alcançando padrões de qualidade máxima. Conforme a pesquisa publicada pela revista eletrônica Transite, o índice de 0,955 registrado no bairro é maior que qualquer outro país do mundo.
Primeiro veio a igreja
