
Se em uma parte do Funcionários o clima era provinciano, a outra ponta era bem mais agitada. A culpa era de uma padaria, a Savassi, na década de 1940, e anos depois de um cinema, o Pathé. Danilo, filho de Hugo Savassi, foi quem sugeriu ao pai o nome da família para estampar a fachada da panificadora. "Já estava tudo pronto, inclusive, os bloquinhos e outros documentos da panificadora. A padaria ia se chamar 13 de Maio", lembra Danilo, hoje, com 94 anos. Indiretamente, ele estava também batizando um dos bairros mais charmosos da cidade. Sem falar que a atual praça Diogo de Vasconcelos, anteriormente chamada 13 de Maio, também ganharia o apelido de Praça da Savassi. Danilo lembra que em 1942, por causa de um navio brasileiro afundado na Segunda Guerra Mundial, a padaria foi saqueada e destruída. De família italiana, a panificadora acabou pagando o pato. "Não sobrou nem uma lata de sardinha", lembra ele. Contudo, o saldo foi positivo e as lembranças são boas. "JK era um de nossos clientes, sempre acompanhado de outros políticos da época. Ela ficava cheia também aos sábados, quando tinha o footing", afirma.

Além da Padaria Savassi, no passado, até o Pirulito deu o ar das graças por lá. Ele teve de ficar provisioriamente no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas com Cristovão Colombo, entre 1963 e 1980, pois a área central passava por ampla reforma. Quando o obelisco deixou a Savassi, a região já ganhava ares modernos, com prédios e muito trânsito. Em 1991, o lugar foi oficialmente delimitado como região, mas ainda fazia parte do Funcionários. No final da década seguinte, foi, de fato, desmebrada e se transformou em bairro.

Após a revitalização da região, concluída em 2012, lojistas passaram a reclamar dos altos custos para manter lojas e escritórios no bairro. Por isso, o que se viu foi um mar de placas de "aluga-se". Esse é um dos problemas que a Savassi Criativa quer atacar. Natalie revelou que um acordo foi firmado, em julho, com a Câmera do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi) para trazer mais negócios e reter os que já existem. "Sabemos que segurança não é apenas problema de polícia. Se tivermos mais movimento, com um comércio forte, isso pode dificultar a ação de criminosos", diz Natalie, dona de um armazém contemporâneo na rua Antônio de Albuquerque. Outra batalha é pela reabertura do Cine Pathé, fechado desde 1999. Atualmente, ainda com os cartazes de filmes, o imóvel abriga um estacionamento. O projeto para transformá-lo em um espaço cultural já existe, mas ainda está sendo avaliado para ser submetido à secretaria de regulacao urbana.

E assim a vida segue na região. Os ares interioranos do Funcionários se dissiparam, embora ainda seja possível curtir a feirinha do Colégio Arnado, hoje com produtos segmentados dependendo do dia da semana. O cruzamento da Getúlio com Cristovão é bem diferente de outrora. O charme, entretanto, ainda persiste. "Savassiar", como dizia o escritor Roberto Drummond, ainda é possível.