


O prédio, além de heliponto, tem conceito inteligente, com sistema de refrigeração ultramoderno, fachada de vidro que possibilita aproveitar a iluminação natural e que resulta numa economia de energia de 26%. Nas áreas comuns foram usadas portas automatizadas e sensores de presença e iluminação. Os elevadores contam com sistema de antecipação de chamadas que gera economia de até 30% na energia utilizada, em relação ao sistema tradicional. Os colaboradores contam ainda com vestiário, academia de ginástica, esmalteria e banco.

Eugenio não perdeu as habilidades que deixavam o pai orgulhoso. Tem os números da companhia na ponta da língua e é conhecido por ser rápido na hora de agir, traçar metas ambiciosas para seus liderados e cobrar resultados permanentemente. Seu perfil e o do irmão, Salim, são muito diferentes, mas complementares. Salim é o intuitivo. Carismático e comunicador nato, foi um líder importante quando a empresa precisava desbravar mercado e crescer. Já Eugenio é o organizador da casa. Aquele que pegou a empresa grande, mas que precisa planejar o futuro e desenhar a estratégia para não cair no comodismo.

Generosidade é a palavra que define o presidente da Localiza, na opinião de Estevão. "Ele gosta de ajudar. Muitas vezes, faz isso sem que a própria pessoa saiba que está sendo ajudada por ele", afirma. A turma, formada em 1975, é unida e costuma fazer viagens anuais, nas quais levam esposas e filhos. "Já teve vez que fretamos três ônibus", lembra Estevão. Eugenio sempre fez questão de ir, mesmo que chegue de última hora. Tenta também estar presente nos encontros semanais da turma, toda quinta-feira, numa pizzaria no Sion. "Temos admiração recíproca. Só não podemos falar muito de futebol", afirma o ex-tenista e atleticano Estevão. Eugenio é cruzeirense roxo e costuma ir ao estádio para ver seu time. Ele praticava futebol, como hobby, até os 55 anos e era juiz de campeonatos femininos da Localiza.

O jogo de cartas ocorre todos os domingos à noite há cerca de 10 anos, na casa de campo de Eugenio. "Nosso grupo é muito unido e ninguém gosta de faltar aos jogos", afirma o empresário Marco Antônio Patrus, um dos donos da transportadora que leva o nome de sua família e amigo de Eugenio há 25 anos. "É um momento antiestresse." No jogo de cartas dos amigos, o perdedor da primeira rodada ouve a seguinte frase em coro: "Volta pra casa! Vai ver Fantástico!". Eugenio dificilmente é alvo da brincadeira, segundo Patrus. "Além de estrategista, ele tem muito controle emocional", diz o amigo. "Ele ganha com muita frequência."

O perfil sociável do empresário também é destacado por Camila Mattar, com quem é casado há 18 anos. "Ele faz questão de comparecer aos eventos para os quais é convidado", afirma Camila. O casal tem dois filhos: Daniel, de 16 anos, e Felipe, de 13. Eugenio tem mais duas filhas do primeiro casamento: Gabriela, de 29, e Raquel, de 27. Aos domingos, costuma receber os irmãos e a mãe, Alzira Coutinho Mattar, de 101 anos, para almoçar. "Ele é zeloso com a família e rigoroso com as notas dos filhos. Como sempre foi muito estudioso, tem cobrança e expectativa grande", afirma Camila.

Para tocar seu negócio, a grife de roupas femininas que leva seu nome, Raquel Mattar também se inspira no pai. "Tento levar minha empresa com a mesma dedicação que enxergo nele", afirma a mãe de Clemente, de 7 meses, o primeiro neto do empresário. Mas, ao contrário do que fez Eugenio, ela não seguiu o conselho paterno. Ele almejava para Raquel um curso mais tradicional, como administração de empresas. Ela até tentou, mas largou depois do primeiro período. "Não gostei", diz. Estudou moda. No início, Eugenio torceu o nariz. Agora a vocação tem a bênção e entusiasmo do pai. E faz sucesso. Basta conferir os seguidores de Raquel no Instagram, que somam mais de 267 mil fãs. Para se ter uma ideia do que esse número significa, a Localiza tem 12,3 mil seguidores.

Em julho, a Localiza deu outro passo estratégico. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da subsidiária brasileira da americana Hertz, uma das maiores empresas de aluguel de carros do mundo, presente em mais de 155 países, por um valor estimado na época em 337 milhões de reais. Uma parceria de 20 anos vai abranger o uso da marca combinada - Localiza Hertz - na América Latina e a utilização, pela Hertz, da marca Localiza nos principais aeroportos que atendem viajantes brasileiros nos Estados Unidos e Europa. "A parceria nos permitirá ter acesso a informações de nossa indústria de uma maneira muito próxima", diz Eugenio. "Vamos colocar um radar em tudo que acontece no mundo em nosso segmento, como tecnologia e mobilidade."

Mas os bons resultados não decorrem apenas das estratégias agressivas de negócios. Os aplicativos de motoristas particulares, como Uber e Cabify, com seus preços mais competitivos que os dos táxis, revolucionaram o jeito de se deslocar na cidade. "Foi criado um novo mercado. Muitos consumidores passaram a levar a vida sem o veículo próprio", afirma Eugenio. E, quando chega o fim de semana, muitas famílias começaram a alugar veículos para passear. "Viramos um serviço complementar." Essa mudança de comportamento, diz, acontece em todas as classes sociais. "Ter carro custa caro, devido aos gastos com manutenção, impostos e seguro."

Seu primeiro carro foi um Fuscão 1.500, que ganhou do irmão Salim. Aliás, o modelo faz parte da história da Localiza. O grupo nasceu com seis Fuscas usados, comprados a crédito em financeiras diferentes. Para alavancar o negócio, os sócios chegaram a lavar carros, consertar defeitos, trabalhar como motorista e até dormir no sofá do escritório, para oferecer o serviço 24 horas. Eugenio lembra que para crescer foi preciso vender os seis Fuscas iniciais. "Não tínhamos recursos para mantê-los", diz. Anos depois, buscaram os carros para guardar de relíquia, mas não os encontraram.

Eugenio é analítico. Suas decisões são baseadas em dados, fatos e pesquisas de mercado. Mas essa estratégia não fez parte do início da história da Localiza. Salim lembra que descartou todos os conselhos e opiniões na época. Ousado, deixou um emprego bem remunerado para abrir uma locadora de veículos no período da primeira crise do petróleo. A ideia surgiu anos antes, quando era office boy de uma pequena empresa de engenharia. Ao conferir o recibo de uma locadora, vislumbrou que aquele era um negócio extremamente rentável. O plano não foi apoiado por praticamente ninguém, inclusive a namorada na época.

Salim não se fez pianista, mas ele e o irmão Eugenio se confirmaram como dois grandes maestros de uma orquestra que aluga carros como música. Por essa, o pai de ambos, José Salim, não esperava.
Minas é líder na locação
Quando o assunto é locação de veículos, Minas Gerais é líder nacional. Em 2016, a frota das locadoras no estado era de 328 mil veículos, a metade do total do país, de 660 mil unidades, segundo dados da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla). Do total de 12,1 bilhões de reais da receita gerada com a locação no Brasil no ano passado, cerca de 5 bilhões vieram de Minas. "Isso acontece principalmente pelo fato de a Localiza estar aqui", afirma Leonardo Soares Nogueira Silva, diretor regional da Abla, que atua na área há 24 anos.
Empreendedor e filantropo
A Localiza investe em vários programas culturais, esportivos e sociais, principalmente aqueles que estimulam o empreendedorismo. Em 2016, destinou 2,3 milhões de reais a esses projetos. Um deles é o Junior Achievement, do qual Eugenio é presidente do conselho consultivo de Minas Gerais e a Localiza é uma das 18 mantenedoras. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos que tem como principal objetivo levar práticas empreendedoras a escolas públicas para alunos do ensino fundamental e médio. Neste ano, o projeto deve atender cerca de 80 escolas em Belo Horizonte e 300 em Minas Gerais. "A ideia é estimular o espírito empreendedor e fortalecer o sistema de livre iniciativa entre os alunos", diz Catarina Lutero Mendes, diretora da Junior no estado. São 21 programas que incentivam jovens a abrir empresas-piloto em suas escolas. Lá eles aprendem sobre gestão, trabalho em equipe e tomada de decisões. "Administram os negócios como se fossem deles", afirma Catarina.
Eugenio faz parte de uma nova e crescente safra de empresários brasileiros que dedicam tempo, dinheiro e influência à filantropia. Foi um dos cofundadores do projeto, que começou na capital há 14 anos. "Ele enxergou há muito tempo a importância de se investir na educação empreendedora", diz Catarina. Eugenio costuma mobilizar outros empresários a investir no programa e incentivar os colaboradores da Localiza a serem voluntários.


