
Lineu Ruas, de 80 anos, lembra que brincou muito na rua Alfenas, antes de começar a trabalhar. Seu primeiro emprego foi na padaria Savassi, aos 14 anos. "Tinha até conta no banco", diz ele, que também vendia laranjas trazidas por tropeiros que vinham do município de Moeda, na região metropolitana. As frutas eram comercializadas de porta a porta na rua Montes Claros, que era "uma roça naquela época". "Cabritos corriam soltos por lá", afirma o senhor com uma memória invejável.

Boa parte dos moradores da região tem forte ligação com a igreja Nossa Senhora do Carmo. Os carmelitas foram convidados a criar uma paróquia em BH, a pedido do Dom Cabral. Escolheram uma região pobre, ainda chamada de bairro do Mendonça. Poucos sabem que a paróquia foi inaugurada no início da década de 1940, com entrada pela rua Grão Mogol. Nos anos 1960, a igreja passou por ampla reforma e ganhou a fachada atual, virada para a avenida com o nome em homenagem à santa.

Dona Alcina Garcia de Araújo, de 80 anos, ministra aulas de catequese desde 1950 na paróquia. "A igreja sempre movimentou o bairro, com festas, barraquinhas e os famosos casamentos", diz dona Alcina, ao lado da irmã, Wanda, de 83. Elas lembram que a vida dos noivos não era fácil na época em que a igreja tinha as portas viradas para a Grão Mogol, sobretudo, no período das chuvas. "Eles viviam perdendo as alianças, que eram levadas pela enxurrada. Sem contar que a rua era de pedra. Mas ninguém deixou de casar por isso", diz Alcina, que frequentou bastante o Cine do Carmo, também mantido pela igreja na Grão Mogol. "Era o cine poeirento", brinca dona Wanda.

Com a canalização do córrego Acaba Mundo e a inauguração da BR-3, rodovia BH-Rio de Janeiro, inaugurada pelo presidente Juscelino Kubitschek, os bairros cresceram. Se antes o comércio era repleto de armazéns que vendiam de tudo e a rua Alfenas era esburacada, hoje a região é uma das mais completas da cidade e perto de tudo.