![Rafaela Salgado estuda o desenvolvimento de medicamentos para enfermidades como a doença de Chagas: vencedora na categoria Química do Programa para Mulheres na Ciência(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro) Rafaela Salgado estuda o desenvolvimento de medicamentos para enfermidades como a doença de Chagas: vencedora na categoria Química do Programa para Mulheres na Ciência(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)](https://i.revistaencontro.com.br/4BNnVOXSAFiPhncdXcXpA9L4JkY=/332x/smart/imgsapp.revistaencontro.com.br/app/noticia_152466458717/2018/01/03/161185/20180103144649382798o.jpg)
Sem medo de desafios, na faculdade de farmácia da UFMG, Rafaela fez, de novo, uma escolha importante: iria se dedicar a pesquisas para o desenvolvimento de fármacos, um segmento de importância crucial para a sociedade, mas ao mesmo tempo muito complexo. Geralmente leva-se de 10 a 15 anos, da descoberta de uma molécula até um medicamento chegar ao mercado, além de milhões de dólares em investimentos. Os desafios do mundo da pesquisa nunca a desanimaram. Depois da formatura na UFMG, ela foi direto para um doutorado de cinco anos na Universidade da Califórnia e na sequência para um pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), centros onde desenvolveu e aprofundou sua pesquisa, com foco em fármacos para doenças negligenciadas. O nome é referência à quantidade de recursos que essas enfermidades recebem, ou melhor, não recebem para pesquisa. Por acometerem população de menor renda em países pobres, geralmente trata-se de um mercado menos lucrativo para a indústria. "Se desanimarmos diante das dificuldades, nunca chegaremos a uma descoberta", diz Rafaela. "Na pesquisa é importante ser persistente e trabalhar junto, ninguém faz ciência sozinho."
Por sua pesquisa no desenvolvimento de novos medicamentos para doenças como Chagas e a infecção pelo zika vírus, Rafaela levou o prêmio na categoria Química. "Utilizamos técnicas computacionais para desenvolver hipóteses de moléculas que poderiam se tornar fármacos." O Programa para Mulheres na Ciência foi criado há 20 anos e é realizado há 12 no Brasil. É uma iniciativa da multinacional de cosméticos L’Oréal em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Além de valorizar a pesquisa, um dos objetivos é incentivar a presença de mulheres no setor. No Brasil, a participação feminina chega a 50%, mas no mundo a média é desigual: 70% dos cientistas são do sexo masculino. "Percebo que no Brasil a participação de mulheres aumentou nos últimos 30 anos, mas ainda há desigualdade na progressão da carreira. Os pesquisadores com maior remuneração ainda são homens", afirma. O prêmio chegou em ótima hora. "Estamos em um período de cortes de recursos para a ciência e educação, serão 50 mil reais para serem investidos durante um ano."
Quando não está na universidade, Rafaela gosta de aproveitar o sol nas trilhas da Serra do Cipó. Mas suas aventuras no paraíso ecológico de Minas ficarão mais raras. Ela está de malas prontas para a cidade francesa de Montpellier, onde fará um novo pós-doutorado que poderá contribuir para a pesquisa de seu grupo. "Meu grande desejo seria participar do desenvolvimento de um fármaco e ver que a pesquisa desenvolvida por meu grupo contribuiu de alguma forma para colocar um medicamento no mercado."
- Rafaela Salgado Ferreira, 34 anos
- Nasceu em Belo Horizonte
- Casada
- Professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e doutora pela Universidade da Califórnia