
No final da década de 1920, no entanto, os cursos d’água começaram a ser tampados. A cidade crescia e os casarões, muitos de dois andares, passaram a substituir os antigos casebres. No caso do Santo Agostinho, o grande culpado pela ocupação da área, delimitada pelas avenidas Amazonas, Contorno e Olegário Maciel, foi uma escola. Depois de funcionar por dois anos em um imóvel na avenida Olegário Maciel, com 75 alunos, o Colégio Santo Agostinho mudou de endereço, em 1936, e foi para a avenida Amazonas, na época chamada de São Francisco. "A instituição foi criada por padres que vieram da Espanha com o intuito de evangelizar e de financiar as atividades deles por aqui", afirma Clovis Oliveira, diretor da escola. Pode incluir na conta dos padres espanhóis o crescimento do bairro. Por muitos anos, a instituição de ensino era ponto até de lazer para as crianças. "Aos sábados, a escola abria as portas para as famílias. Vinha com os meus filhos para cá, onde passávamos a manhã inteira", diz Mariano Pereira Lopes, de 73, que trabalha no colégio há 35 anos. "A escola já era muito grande e o número de alunos bem menor do que hoje", afirma. Não por acaso, os filhos de Mariano, Christiane, de 38, Marcelo, de 40, e Luciano, de 43, passaram pelo Santo Agostinho e tiveram o pai como professor de português.

Elizabeth Eliazar, de 72, também está no seleto grupo dos mais antigos funcionários do colégio. Há 44 anos, Beth, como é mais conhecida, chegou à instituição para dar aulas de matemática e ciências. "Aqui perto da escola havia um barranco, onde as crianças subiam e desciam durante as aulas de educação física", afirma ela, que hoje é gestora pedagógica. Pela proximidade com o antigo estádio do Galo, a torcida passava em frente à portaria do colégio, o que, segundo Beth, gerava um maior cuidado com os alunos. "Mesmo assim era um bairro tranquilo. Muitos andavam de bicicleta para lá e para cá", diz a professora. Algo inconcebível diante do intenso trânsito de hoje. Homenageada por tantos anos prestados à instituição, Beth tenta traduzir o sentimento em relação ao colégio. "A vida foi sendo construída aqui e o trabalho foi dando resultado. Do contrário, não estaria mais aqui", diz Beth. "A escola fala alto dentro da gente", afirma.

Outra ação que está prestes a sair e que deve impactar o bairro é a restauração de quatro casarões históricos, hoje, desocupados. Os imóveis na avenida Amazonas, entre as ruas Mato Grosso e Aimorés, são da década de 1930 e pertencem à Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora do Colégio Santo Agostinho. "Nosso desejo é de iniciar o restauro o quanto antes, mas, como os imóveis são tombados pelo patrimônio, todas as licenças devem ser aprovadas para dar início aos trabalhos", afirma o diretor. A ideia é transformar os casarões em espaços culturais. Assim, valoriza-se a história.