"A primeira reação das pessoas, quando ficaram sabendo da transferência, foi mesmo uma comoção e um desejo de se manifestarem", diz Moninha Quintero, que acompanha padre Alexandre desde que entrou na paróquia e era coordenadora da rádio NS Rainha. "Teve até quem se oferecesse para conversar com dom Walmor." Henrique Klein, coordenador do Perseverança, parte do Fanuel, grupo de jovens que tem 1,2 mil integrantes e foi criado por padre Alexandre há 18 anos, disse que foi realmente um choque para a comunidade paroquial. "Os fiéis tinham uma ligação muito forte com a pessoa dele, o modo pastoral dele. Foi ele quem criou a maior parte dos grupos e basicamente o que a Nossa Senhora Rainha é, tanto em estrutura quanto (e especialmente) em termos espirituais", afirma. Ele conta que pais dos perseverantes - como são chamados os jovens de 10 a 15 anos - lhe telefonaram preocupados, querendo saber como seria o futuro do encontro.
"Eu chorei muito", conta padre Alexandre, sobre a homenagem. "Vi que valeu o trabalho que fizemos lá", completa ele, sentado em uma das mais de 500 cadeiras de plástico que enchem o salão principal da construção provisória da Bom Jesus do Vale. A igreja permanente, com projeto do arquiteto Gustavo Penna, está prevista para começar a ser construída em 2020, e terá lugar para 1,5 mil pessoas sentadas, além de uma praça com espaço para mais ou menos 5 mil pessoas. Enquanto isso, o galpão, feito de contêineres, vai ganhando anexos à medida que for sendo necessário.
Isso porque os fiéis que frequentavam a Nossa Senhora Rainha e moram nos condomínios de Nova Lima se transferiram para a Bom Jesus do Vale. Outros tantos, que saíam de outros bairros para ver as pregações de padre Alexandre, dispuseram-se a andar cerca de três quilômetros a mais para continuar com ele. A pediatra Filomena Camilo do Vale, a dra. Filó, cujo grupo de oração às terças-feiras já atraiu mais de mil pessoas em um único encontro no Belvedere, também passou a organizá-lo na Bom Jesus.
O Fanuel, em assembleia dos líderes do grupo, também decidiu se transferir. "Votamos e decidimos unanimamente pela mudança. Era o que para nós fazia mais sentido: mudamos para permanecer, para seguirmos o cuidado pastoral e espiritual dele", afirma Henrique, lembrando que o sacerdote deixou todos livres para decidirem por si. No grupo que ele coordena, 90% dos adolescentes mudaram para a nova igreja.
Apesar do sentimento de muitos fiéis pela saída de padre Alexandre, ele diz que na verdade não é comum que padres fiquem tanto tempo em uma mesma paróquia, como ele ficou. E que, ainda que tenha sofrido nas três primeiras noites após a notícia de sua transferência, encarou a nova missão e não olhou mais para trás. "A necessidade da Igreja é de discernimento do arcebispo", afirma. "Depois de algumas noites de angústia, pensei: se é lá que Jesus vai me encontrar, é para lá que eu vou."
A Nossa Senhora Rainha ficou sob cuidados de dois párocos, padre Arnaldo Cézar de Carvalho e padre Aureo Nogueira de Freitas, e grupos de oração, de jovens e demais atividades da agenda também já foram retomados, no intuito de não deixar desamparada a comunidade que chegou a ter mais de 7 mil fiéis por fim de semana, 800 voluntários e 40 funcionários.
A Arquidiocese de Belo Horizonte não comenta casos particulares, mas informou que 50 padres foram transferidos neste ano e que a transferência é comum no contexto da Igreja. "Cada mudança é definida pelo arcebispo metropolitano, em permanente diálogo e comunhão com os padres, e sempre atento à realidade global das aproximadamente 1,5 mil comunidades de fé, dos 28 municípios que integram a Arquidiocese de Belo Horizonte", informou em nota. Se a decisão de mudar em time que estava - há tantos anos - ganhando foi correta, só o tempo dirá. .