Estado de Minas CIDADE | RELIGIÃO

Carismático padre Alexandre Fernandes assume igreja no Vale do Sereno

Após 20 anos, ele deixou a paróquia Nossa Senhora Rainha, no Belvedere


postado em 22/11/2018 16:20 / atualizado em 22/11/2018 16:55

Padre Alexandre no terreno da comunidade Bom Jesus do Vale, onde está desde outubro, após 20 anos no Belvedere:
Padre Alexandre no terreno da comunidade Bom Jesus do Vale, onde está desde outubro, após 20 anos no Belvedere: "Quando soube da transferência, pensei que, se é lá que Jesus vai me encontrar, é para lá que eu vou" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Foi em meio à comoção dos fiéis que o padre abre-campense Alexandre Fernandes saiu em outubro passado da paróquia Nossa Senhora Rainha, no Belvedere, onde ficou por 20 anos, para assumir a comunidade Bom Jesus do Vale, no Vale do Sereno. As últimas missas celebradas pelo sacerdote foram carregadas de emoção. Cerca de 4 mil pessoas estiveram presentes no abraço simbólico à igreja, faltando pouco menos de um mês para a saída de Alexandre, quando o quarteirão do prédio ficou fechado para o trânsito e os fiéis puderam cumprimentar o sacerdote. Havia faixas de agradecimento e blusas com a hashtag #somostodospadrealexandre.

"A primeira reação das pessoas, quando ficaram sabendo da transferência, foi mesmo uma comoção e um desejo de se manifestarem", diz Moninha Quintero, que acompanha padre Alexandre desde que entrou na paróquia e era coordenadora da rádio NS Rainha. "Teve até quem se oferecesse para conversar com dom Walmor." Henrique Klein, coordenador do Perseverança, parte do Fanuel, grupo de jovens que tem 1,2 mil integrantes e foi criado por padre Alexandre há 18 anos, disse que foi realmente um choque para a comunidade paroquial. "Os fiéis tinham uma ligação muito forte com a pessoa dele, o modo pastoral dele. Foi ele quem criou a maior parte dos grupos e basicamente o que a Nossa Senhora Rainha é, tanto em estrutura quanto (e especialmente) em termos espirituais", afirma. Ele conta que pais dos perseverantes - como são chamados os jovens de 10 a 15 anos - lhe telefonaram preocupados, querendo saber como seria o futuro do encontro. O próprio sacerdote, contudo, pediu que nenhum movimento fosse feito no sentido de pedir sua permanência. "Padre Alexandre pediu que não entrassem em contato com dom Walmor, que não protestassem, pois a orientação da Arquidiocese deveria ser respeitada", diz Moninha. Assim, conta, os fiéis decidiram homenagear o padre, manifestar agradecimento e carinho pelos 20 anos de trabalho na paróquia.

"Eu chorei muito", conta padre Alexandre, sobre a homenagem. "Vi que valeu o trabalho que fizemos lá", completa ele, sentado em uma das mais de 500 cadeiras de plástico que enchem o salão principal da construção provisória da Bom Jesus do Vale. A igreja permanente, com projeto do arquiteto Gustavo Penna, está prevista para começar a ser construída em 2020, e terá lugar para 1,5 mil pessoas sentadas, além de uma praça com espaço para mais ou menos 5 mil pessoas. Enquanto isso, o galpão, feito de contêineres, vai ganhando anexos à medida que for sendo necessário.

Dia de grupo de oração da dra. Filó, que agora acontece na igreja do Vale do Sereno: o salão provisório pode receber cerca de 500 pessoas(foto: Paróquia Nossa Senhora Rainha/Divulgação)
Dia de grupo de oração da dra. Filó, que agora acontece na igreja do Vale do Sereno: o salão provisório pode receber cerca de 500 pessoas (foto: Paróquia Nossa Senhora Rainha/Divulgação)
E necessidade não falta. Apesar de o cenário ainda ser provisório e de a missa de posse de padre Alexandre ter sido há pouco, no dia 21 de outubro, as atividades na comunidade já estão a todo vapor. Há uma missa por dia, de terça a sexta, e cinco no domingo. Catequese, confissão, grupo de jovens, grupo de oração, todos já têm data no calendário e estão acontecendo. Para 2019, o número de alunos de catequese vai mais que quadruplicar, e já há jovens inscritos para as vagas da crisma.

Isso porque os fiéis que frequentavam a Nossa Senhora Rainha e moram nos condomínios de Nova Lima se transferiram para a Bom Jesus do Vale. Outros tantos, que saíam de outros bairros  para ver as pregações de padre Alexandre, dispuseram-se a andar cerca de três quilômetros a mais para continuar com ele. A pediatra Filomena Camilo do Vale, a dra. Filó, cujo grupo de oração às terças-feiras já atraiu mais de mil pessoas em um único encontro no Belvedere, também passou a organizá-lo na Bom Jesus. "Nós já tínhamos esse trabalho de evangelização há muitos anos e, como eu não conseguiria, por causa de minha agenda, estar nos dois lugares, decidi dar continuidade ao trabalho na igreja nova", diz.

O Fanuel, em assembleia dos líderes do grupo, também decidiu se transferir. "Votamos e decidimos unanimamente pela mudança. Era o que para nós fazia mais sentido: mudamos para permanecer, para seguirmos o cuidado pastoral e espiritual dele", afirma Henrique, lembrando que o sacerdote deixou todos livres para decidirem por si. No grupo que ele coordena, 90% dos adolescentes mudaram para a nova igreja.

Apesar do sentimento de muitos fiéis pela saída de padre Alexandre, ele diz que na verdade não é comum que padres fiquem tanto tempo em uma mesma paróquia, como ele ficou. E que, ainda que tenha sofrido nas três primeiras noites após a notícia de sua transferência, encarou a nova missão e não olhou mais para trás. "A necessidade da Igreja é de discernimento do arcebispo", afirma. "Depois de algumas noites de angústia, pensei: se é lá que Jesus vai me encontrar, é para lá que eu vou."

Projeto da igreja permanente, de Gustavo Penna, que está prevista para começar a ser construída em 2020: 1,5 mil lugares e praça para 5 mil pessoas(foto: GPA&A/Divulgação)
Projeto da igreja permanente, de Gustavo Penna, que está prevista para começar a ser construída em 2020: 1,5 mil lugares e praça para 5 mil pessoas (foto: GPA&A/Divulgação)
Padre Alexandre comenta que vê sabedoria na decisão de dom Walmor na sua escolha como responsável pela construção da nova igreja. Afinal, foi o próprio sacerdote quem vislumbrou, ainda em 2008, esse projeto. Ele conta que estava na casa de um fiel, na região do Vale do Sereno, quando olhou pela janela e percebeu que deveria chegar uma igreja aonde, em breve, haveria novos bairros. Então procurou empreendedores da região, que doaram o terreno, reuniu voluntários e, em agosto de 2014, foi rezada a primeira missa ali, no mesmo galpão. A comunidade era, inicialmente, parte da paróquia da Nossa Senhora Rainha. Hoje é uma área pastoral independente, em vias de se tornar paróquia.

A Nossa Senhora Rainha ficou sob cuidados de dois párocos, padre Arnaldo Cézar de Carvalho e padre Aureo Nogueira de Freitas, e grupos de oração, de jovens e demais atividades da agenda também já foram retomados, no intuito de não deixar desamparada a comunidade que chegou a ter mais de 7 mil fiéis por fim de semana, 800 voluntários e 40 funcionários.

A  Arquidiocese de Belo Horizonte não comenta casos particulares, mas informou que 50 padres foram transferidos neste ano e que a transferência é comum no contexto da Igreja. "Cada mudança é definida pelo arcebispo metropolitano, em permanente diálogo e comunhão com os padres, e sempre atento à realidade global das aproximadamente 1,5 mil comunidades de fé, dos 28 municípios que integram a Arquidiocese de Belo Horizonte", informou em nota. Se a decisão de mudar em time que estava - há tantos anos - ganhando foi correta, só o tempo dirá.

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