Revista Encontro

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Conversamos com 10 heróis de Brumadinho

Eles são exemplos de coragem e determinação em meio à tragédia na cidade mineira

Marina Dias
Bombeiros atuam com ajuda de cães farejadores: esforço na procura de vítimas - Foto: Alexandre Rezende/Encontro
A piloto Karla Lessa, major do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, almoçava tranquilamente no Batalhão de Operações Aéreas da corporação, na Pampulha, no dia 25 de janeiro, às 12h40, quando escutou um sinal sonoro. Ao ouvir a campainha, os militares devem comparecer de imediato à sala de operações, pois há uma ocorrência a ser avaliada. Ela largou seu prato tal como estava e foi andando, a passos firmes, em direção à sala. Antes mesmo de saber detalhes do ocorrido, imaginou que era grave: a pessoa que fez contato com o batalhão informando da tragédia estava na linha e chorava copiosamente. Ela e os cinco tripulantes do helicóptero seguiram viagem direto para Brumadinho. Em seus 10 anos de aviação, a major nunca tinha deparado com tantas vítimas em um só caso e, ao sobrevoar a área tomada pela lama, teve certeza de que muitas vidas haviam sido perdidas - muito mais do que em Mariana, onde também atuou. "Para isso, meus anos de experiência não me prepararam", afirma.

Foi pouco antes desse sobrevoo, mais precisamente às 12h28 daquela sexta-feira, que a Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, pertencente à Vale, se rompeu e liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos na região - o equivalente a 4,8 mil piscinas olímpicas cheias. O mar de lama correu de forma avassaladora e atingiu em segundos o centro administrativo da empresa e o refeitório, onde, por causa do horário, estavam cerca de 300 empregados, segundo estimativas da Vale.
Também foram totalmente engolidas pelo lamaçal diversas casas, plantações, além da pousada Nova Estância, onde estavam os donos, funcionários e hóspedes. A última atualização de vítimas antes do fechamento desta edição contava, segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, 165 mortos resgatados, dos quais 156 identificados, e 160 pessoas ainda desaparecidas. Haviam sido localizadas com vida 393 pessoas.

Área invadida pela lama: profundidade de rejeitos pode chegar a 15 metros - Foto: Alexandre Rezende/EncontroSe o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, em 2015, causou o maior desastre ambiental do Brasil e o maior do mundo envolvendo barragens, além da perda de 19 vidas, especialistas indicam que a tragédia de Brumadinho deve ser o maior acidente de trabalho já registrado no país, caso seja assim enquadrado. A agonia das famílias à espera de encontrarem - ainda que sem vida - seus entes queridos tem sido mostrada dia após dia pela mídia. As vítimas são jovens trabalhadores, bebês, pais, avós, funcionários em último dia de serviço pela empresa, pessoas que substituíam colegas apenas naquele dia, turistas de outras partes do mundo, moradores que perderam a vida tentando salvar parentes, amigos, animais de estimação.

E é provável, em razão das características desse desastre, que muitos dos corpos nunca sejam localizados. O próprio porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara, que se emocionou em frente às câmeras no terceiro dia de buscas ao dizer que todos os seus colegas estavam trabalhando como se fossem as próprias mães e os próprios pais naquela lama, admitiu esse cenário no último dia 5.

Seja por se colocarem no lugar das famílias, seja por um senso de missão, seja mesmo por pura doação ao próximo, as centenas de pessoas envolvidas de alguma forma nos resgates trabalharam incansavelmente, dia e noite, desde o dia 25 de janeiro, no esforço de encontrar sobreviventes. Seguem empenhadas da mesma maneira para que amigos e familiares das vítimas que morreram tenham algum alento e possam se despedir de forma digna. Não é exagero dizer que todos os que estiveram e estão envolvidos nessas buscas, desde os bombeiros de solo até os pilotos, passando pelos voluntários que deixaram suas cidades e suas casas para lavar os uniformes dos militares, cozinhar, transportar pessoas e equipamentos em jipes 4x4 ou cuidar dos animais vitimados, são heróis.

Helicópteros foram essenciais nos resgates: 12 aeronaves foram usadas pelos Bombeiros - Foto: Alexandre Rezende/EncontroOs 200 bombeiros militares empenhados em missão no desastre têm realizado um trabalho fisíca, emocional e psicologicamente extenuante. Alguns caíam em prantos ao fim da jornada de trabalho. A despeito disso, o subtenente Selmo de Andrade vai a campo todo dia com o objetivo de resgatar vítimas. Com o semblante visivelmente cansado, mas a voz firme de quem tem uma missão a ser cumprida, não sabe dizer quantos corpos já resgatou. "Eu não conto, não fico me lembrando de ontem, não penso no futuro. Preciso me concentrar no hoje", diz.
Após 27 anos de corporação e quatro missões em rompimentos de barragem - ficou 30 dias em Mariana -, ele afirma que está preparado, mas nunca acostumado com tragédias, e os olhos ficam marejados ao comentar que tem três filhas, com quem ainda não conseguiu comemorar o aniversário de 50 anos, completados três dias após o rompimento. "Eu pedi que, de presente, elas rezassem pelas vítimas."

As imagens de militares cobertos de lama, afundados no barro até o pescoço, usando placas de madeira para tentar avançar na área atingida, dão uma ideia dos entraves físicos para o trabalho. Sem a possibilidade de uso de máquinas como retroescavadeiras até mais ou menos uma semana após a tragédia - e por vários dias depois disso, devido ao revés causado pelas chuvas -, ficou apenas a cargo de pessoas (e, mais tarde, cães) adentrar no lamaçal, com apoio visual dos helicópteros. Bombeiros conseguiam se deslocar cerca de 10 metros na lama a cada hora e meia nos primeiros dias de trabalho.

Os uniformes, imundos, não ficariam limpos a tempo dos novos turnos não fosse pelo apoio de voluntários da Convenção Batista Mineira. Cerca de 30 pessoas se revezam em três turnos na lavanderia que eles mesmos montaram (com seis lavadoras, quatro tanquinhos, três secadoras) e que funciona 24 horas por dia. O supervisor de vendas Dredson Aldenys, que é de Ipatinga, chegou no quarto dia após o rompimento e trabalha como voluntário tanto na recepção e entrega dos uniformes quanto na lavagem em si, inclusive durante a madrugada. "Eu vim para trabalhar. Não sou especulador da tragédia, não tenho compartilhado nada disso nas redes sociais. Só quis ajudar de qualquer forma que fosse possível. Não sou enfermeiro, não sou médico.
Mas assim eu posso contribuir", afirma.

Também se prontificou a cozinheira Camila de Alcântara, dona de um restaurante na região. Assim que ficou sabendo do rompimento, na sexta-feira, recolheu o estoque que já tinha produzido e montou marmitas para entregar a voluntários e socorristas. Foram 250 só naquele dia. "Desde então nosso restaurante está fechado e trabalhando só para atender essa tragédia. Não vamos parar até que não seja mais necessário", diz.

A ajuda veio de diversos lugares de Minas e do Brasil - também do mundo, com uma delegação de Israel com 136 pessoas tendo atuado por quatro dias no local -, e as pessoas têm ajudado cada uma a sua maneira. Bombeiros civis, inclusive, atuaram na lama nos primeiros dias e foram importantes para resgatar pessoas presas em escombros, em regiões envoltas pela lama. Jorge Luiz de Faria veio de Congonhas e conseguiu ajudar a resgatar um homem de 91 anos com o filho, que estavam ilhados em casa. Não teve a mesma sorte com seu irmão, Carlos Eduardo de Faria. Motorista de caminhão, ele morava em Ibirité e trabalhava em uma prestadora de serviços da Vale. "Era seu último dia de trabalho", diz. A caminhonete do irmão de Jorge foi encontrada perto do refeitório. Sinal, explica o bombeiro civil, de que ele estava almoçando quando o rompimento aconteceu. "Sigo trabalhando, mas acho que minha ficha ainda não caiu."

As vítimas e famílias atingidas pela tragédia foram homenageadas em uma cerimônia no dia 1º de fevereiro. No meio da lama, com placas de madeira permitindo a permanência de alguns bombeiros, policiais e militares de outros estados, foi afixada uma cruz e foram feitas orações e cânticos. Na véspera, o Corpo de Bombeiros pediu que as pessoas que quisessem prestar homenagem levassem rosas até o Batalhão de Operações Aéreas. Chegaram caixas e até vans com flores, e um mutirão foi montado para que elas fossem despetaladas, uma a uma. Capitão Gleber Penido, há 14 anos na aviação dos bombeiros e um dos militares empenhados nas buscas, pilotou um dos 10 helicópteros que participaram da homenagem, soltando as pétalas no local do desastre. "O pesar é de todos nós. É uma honra poder prestar meu respeito", afirma. Pessoas como capitão Penido, Jorge de Faria, Dredson Aldenys, major Karla Lessa, entre as centenas que se envolveram nos resgates, tornaram-se símbolos de um sentimento que tem alentado minimamente os brasileiros após essa tragédia tão desoladora: a coragem e a solidariedade que o nosso povo é capaz de demonstrar em momentos de tamanha dor para todo o país.

Karla Lessa - Major do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

- Foto: Rogério Sol/EncontroMajor Karla, de 36 anos, foi a primeira piloto dos bombeiros a chegar a Brumadinho. Ao ver a destruição abaixo de si, não conseguia distinguir nada em meio à lama. Foi com base em acenos de pessoas que estavam no solo, e gritos, que enxergou uma vítima atolada no lamaçal. O resgate da jovem Talita Cristina de Souza, de 15 anos, foi televisionado ao vivo.

O desempenho da piloto foi elogiado por especialistas e a população a adotou como um dos símbolos dessa rede de doação e coragem que tomou conta de Brumadinho após a tragédia. A primeira mulher comandante de helicóptero de bombeiros militares do Brasil tem recebido cartas, mensagens, ligações. Uma senhora de 82 anos ligou para agradecê-la, parabenizá-la e convidá-la para passar férias em Resende (RJ), onde mora. "Estresse pós-traumático é algo sério, e os agradecimentos certamente contribuem para nossa saúde mental, para conseguirmos absorver esse impacto emocional, psicológico, sem deixar que influencie nossa resposta na missão", diz.

Jorge Luiz de Faria - Bombeiro civil

- Foto: Alexandre Rezende/EncontroTrês dias após a tragédia, Jorge Luiz de Faria não tinha mais esperanças de encontrar o irmão, Eduardo de Faria, vivo. Motorista de caminhão em uma empresa prestadora de serviços da Vale, Eduardo estava na Mina Córrego do Feijão na hora da tragédia. Como seu carro foi encontrado perto do refeitório, conta o bombeiro civil, provavelmente ele estava lá almoçando. Jorge teve esperanças nos primeiros dias, pois um colega de trabalho do irmão disse que havia recebido chamadas do celular de Eduardo. Mas os militares não o localizaram, mesmo após rastrear seu celular. Apesar da perda, dias depois da tragédia, Jorge seguia atuando como voluntário, à procura de outras pessoas, com ou sem vida. "Acho que minha ficha ainda não caiu. Deve cair quando eu encontrar minha mãe", diz.

Pedro Aihara - Tenente do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais


- Foto: Alexandre Rezende/EncontroO semblante sério mas suave. A voz firme mas serena. Tenente Pedro Aihara, de 25 anos, tem sido a cara do Corpo de Bombeiros desde o dia em que ocorreu a tragédia. Diariamente, ele traz a público as notícias das buscas dos militares em Brumadinho. São atualizações de números de desaparecidos, de corpos encontrados, dos avanços e revezes. Em meio à dor e ao desespero dos familiares, desorientados, sem informações sobre as vítimas, ele se mostrou ao mesmo tempo profissional e humano. "O mais difícil é sem dúvida a angústia familiar. É a quantidade de desaparecidos e a incerteza que isso traz às famílias", diz. "Muitas vezes, a notícia de a pessoa ter sido encontrada, ainda que sem vida, é melhor, pois permite lidar de forma mais imediata com esse luto." Durante essa difícil missão, e com apenas sete anos de corporação, ganhou fãs e recebeu até propostas amorosas nas redes sociais. Quando perguntado sobre o que o move, cita uma frase de origem desconhecida, mas que é lema dos Capacetes Brancos, socorristas em zonas de guerra da Síria: "Quem salva uma vida, salva toda a humanidade."

Dredson Aldenys - Voluntário

- Foto: Rogério Sol/EncontroDepois de ter visto o que havia acontecido em Brumadinho, Dredson Aldenys não conseguiu ficar sem fazer nada. Nas redes sociais, viu a convocação de seu pastor para quem pudesse ir até o local e ajudar. Eram diferentes funções, algumas das quais mais especializadas, que ele não poderia realizar. Mas, quando leu que precisavam de pessoas na lavanderia, se prontificou. A Confederação Batista Mineira providenciou seis lavadoras, quatro tanquinhos, três secadoras, e cerca de 30 voluntários se alternam em três turnos, para que o serviço funcione 24 horas por dia. "Vi que assim poderia ser útil, um canal de bênção na vida do próximo", diz. "De maneira modesta, temos de saber nosso valor como cidadãos. É um ato patriótico mesmo." Em pé ao lado de uma mesa de plástico, enquanto recebe os uniformes dos bombeiros totalmente cobertos de lama, coloca-os em sacolas e etiqueta cada uma delas, ele conta que veio de Ipatinga, no Vale do Aço, e vai ficar pelo tempo necessário.

Selmo de Andrade - Subtenente do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

- Foto: Rogério Sol/Encontro"Não somos heróis. Somos humanos que vestem fardas. Temos CPF, endereço", diz o subtenente Selmo de Andrade, ignorando o esforço quase sobre-humano que ele e seus colegas fazem a cada vez que andam lama adentro à procura de vítimas. Chegou na madrugada de sábado para domingo, resgatou pessoas. Todas, porém, sem vida. "Ninguém se acostuma com uma situação dessas; com vidas interrompidas assim", afirma. O subtenente diz que sua missão é resgatar as vítimas e trazer algum conforto para os familiares. "Busco realizá-la da melhor forma e trazer os colegas por quem sou responsável a salvo para casa." Selmo completou 50 anos - dos quais mais da metade na corporação - no dia 28 de janeiro, três dias depois do rompimento da barragem. Se não teve a chance de comemorar o meio século de vida com a família, com as três filhas, não se lamenta. Agradece pelo fato de ainda tê-las ao seu lado e poder celebrar depois.

Gladys de Sousa - Voluntária

- Foto: Alexandre Rezende/EncontroA professora da Faculdade de Letras da UFMG Gladys de Sousa, de 59 anos, passava toda paramentada em uma rua próxima de onde estavam fazendo buscas, na terça-feira seguinte ao desastre. Com um cajado na mão, toda suja de lama, acabara de sair de uma missão. Estava com um grupo da brigada florestal voluntária de Casa Branca, da qual faz parte, marcando locais onde talvez houvesse vítimas. No dia anterior, tinha trabalhado com os militares de Israel, como intérprete. "Vocês não têm noção do que é essa lama. É traiçoeira. Às vezes parece que está firme, mas você afunda. É um trabalho minucioso, nas beiradas. É onde nós, voluntários, podemos contribuir muito", afirma ela, que também foi até o Batalhão de Operações Aéreas no dia 1º, quando estavam recolhendo rosas para serem jogadas de helicópteros em homenagem às vítimas. "É muito triste, uma coisa desoladora. Uma cachorrinha veio atrás de mim, fiz um carinho nela, e ela ficou nos acompanhando. Parecia que tinha casa de familiar por lá, porque foi nos acompanhando, procurando alguém", disse, antes de seguir seu caminho para descansar
para um novo dia de trabalho.

Gleber Penido - Capitão Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

- Foto: Alexandre Rezende/EncontroO piloto Gleber Penido, de 38 anos, viu o desastre ao vivo pela primeira vez no dia seguinte ao rompimento da barragem. Já sabia que a área afetada tinha sido extensa e a quantidade de vítimas, enorme. Ainda assim se surpreendeu com o lamaçal. Como vários militares, não titubeia ao explicar as questões técnicas da aviação, das dificuldades dos resgates em Brumadinho - a região de montanha tem ventos que podem virar de uma hora para outra e, por ser um local urbanizado, há fios de média tensão. Foca na missão que tem a cumprir. Capitão Penido estava designado, no dia 1º de fevereiro, para levar de helicóptero as flores doadas por cidadãos até o espaço reservado para a homenagem às vítimas. "Primeiro, senti uma mistura de tristeza - por não termos conseguido salvar a vida de todos -, incapacidade e desesperança", diz. "Mas depois fiquei aliviado por ter prestado honras e ter chamado a atenção para a inocência das vítimas do desastre."

Gustavo Rodrigues Santos de Souza - Bombeiro civil

- Foto: Alexandre Rezende/EncontroO bombeiro civil Gustavo Rodrigues Santos de Souza, de 18 anos, coordenava o entra e sai das viaturas do campo onde pousavam os helicópteros vindos de missões. Chegou de Osasco (SP) no dia seguinte ao rompimento, com o Corpo de Bombeiros Civil Voluntários do Estado de São Paulo, e no primeiro dia já auxiliou em um resgate e passou a atuar no que lhe fosse designado.
 
Sempre quis ser bombeiro, desde criança, e aparentava estar seguro e bastante focado em meio ao caos. "Quando cheguei, devo admitir que fiquei impressionado, porque não é a mesma coisa de ver pela TV. Mas essa é a profissão que eu escolhi, tinha ciência de que eu me depararia com situações como essa", diz. Assim que ficou sabendo do rompimento da barragem, prontificou-se para deixar sua cidade e ir ajudar. "Não é difícil eu gastar um pouco do meu tempo para dar um apoio aqui em Minas. Vou ficar aqui o quanto precisar."

Ilma Cândida dos Reis - Voluntária

- Foto: Alexandre Rezende/EncontroFundadora e diretora do Grupo de Voluntários Acolhe, a moradora de Brumadinho Ilma Cândida dos Reis atuou em diversos desastres, inclusive no de Mariana. "Naquela época vimos a necessidade de fundar um grupo de pessoas capacitadas, técnicos em enfermagem, bombeiros civis, brigadistas prediais e florestais, salva-vidas, para atuar nessas situações", conta. Objetiva, descrevia com fala rápida as tarefas que estava realizando na Mina Córrego do Feijão - naquele momento, ajudava no transporte de corpos -, até comentar que o trabalho, dessa vez, era diferente, por se tratar de um desastre com tantas vítimas bem na sua cidade natal. Com a voz embargada, lembrou que em Mariana não conhecia ninguém. Em Brumadinho, muitas pessoas. Mencionou que uma colega do grupo de voluntários trabalhava no refeitório que foi soterrado. "Na hora em que eu estava carregando corpos, pensei: será que é ela?"

Wilson Júnior - Voluntário

- Foto: Rogério Sol/EncontroO descanso de Wilson Júnior, de 23 anos, foi interrompido pelo choro de uma vizinha. Ao sair de casa para verificar o que havia acontecido, olhou para um dos lados e observou, a alguns metros de sua rua, um verdadeiro rio caudaloso feito de lama carregando tudo o que encontrava pela frente. "Minha primeira reação foi correr o mais rápido possível", diz. Enquanto corria, fazia ligações para ter notícias de familiares. Todos bem, felizmente. Depois de se distanciar a ponto de não mais ouvir o barulho da lama, Wilson parou, virou-se e seguiu em direção ao caminho da destruição. Ouviu gritos. Eram os de uma mulher presa sob escombros de um imóvel. Ao se aproximar, disse à moça que ele buscaria ajuda. Com o auxílio de amigos, conseguiu resgatá-la e levá-la até o centro comunitário de Córrego do Feijão. "Hoje, só agradeço por estar vivo e ter forças para ajudar", afirma. O rapaz continua atuando na área da tragédia como voluntário, organizando donativos e oferecendo apoio aos que perderam amigos e parentes.

Colaborou Rafael Campos.