Antes, com os seus 80 mil seguidores, Júlia, que já era uma influenciadora digital, viu bombar o seu perfil na rede social. Atualmente, mais de 330 mil pessoas acompanham diariamente sua frenética rotina de compromissos. Em outras palavras, agora, os súditos mineiros podem saber como é a preparação e a agenda de sua miss, em detalhes. A última vez em que o estado teve uma mulher nesse posto foi em 2010, quando Débora Moura Lyra (que, na verdade, é capixaba) venceu a disputa pelo estado. Naquele ano, o Instagram tinha acabado de surgir e ainda engatinhava essa tendência, tão forte, hoje, de exposição da vida pessoal.
Júlia ganha seguidores e fãs (e provavelmente, também haters) a passos largos, como é inevitável após a conquista do título de mulher mais bonita do Brasil. Os posts elogiosos à beleza da mineira são de todo tipo, mas chama a atenção a quantidade de mulheres de olho no seu corte de cabelo. É o caso de uma de suas fãs, que escreveu que a modelo havia dado início à “revolução dos curtinhos”.
Os fãs podem até falar que Júlia está dando início a uma “revolução dos curtinhos”, mas quem conhece ou segue a moça pelas redes sociais há mais tempo nota que ela está preocupada mesmo com outros tipos de batalha: contra o machismo, o feminicídio e pela igualdade entre os gêneros. Trata-se de uma miss que, a exemplo do que o próprio concurso apresentou na edição de 2019, faz questão de tocar em temas nada glamurosos.
Feminista de carteirinha, Júlia sempre lembra, em seus inúmeros posts nas redes sociais, nos vídeos de divulgação do Miss Brasil e em seu canal no YouTube, a importância do termo “sororidade”, que significa a união de mulheres em prol de objetivos comuns. “Nós temos o potencial de causar a maior revolução de sororidade desse mundo”, disse, em seu primeiro post de agradecimento. Ao destacar essa palavra, mostra ao Brasil e ao mundo que deseja distanciar-se daquele velho estereótipo de que as misses são apenas rostinhos bonitos e que querem puxar o tapete umas das outras. “Apesar de ainda ser um concurso de beleza, o objetivo não é eleger a menina que tem a cintura mais fina ou o rosto mais bonito”, explica ela, que falou a Encontro entre seus vários compromissos pós-título. Para Júlia, o Miss Brasil tem também o objetivo de empoderar mulheres e permitir que elas empoderem as demais. Ela garante que ser feminista não é incompatível com querer participar de concursos de beleza. “Espero que, durante esse reinado, mais do que me preparar para o Miss Universo, eu consiga ser uma voz ativa para influenciar as pessoas de maneira positiva”, diz. “Não ganhei esse título só para mim. Eu quero mesmo é fazer a diferença”.
Ela já fazia alguns trabalhos como modelo quando chamou a atenção de um coordenador do Minas Gerais – Concurso Nacional de Beleza (CNB). Aceitou seu convite para participar do evento, disputou e ganhou a faixa representando sua cidade-natal, em 2014. No ano seguinte, desfilou em novo concurso, o Miss Mundo CNB, mas ficou apenas em quinto lugar. “Naquela edição, senti que se tivesse me preparado teria me saído melhor”, lembra. Assim fez. Em 2017, no mesmo Miss Mundo CNB, ficou em terceiro, posto que lhe deu a oportunidade de disputar eventos fora do país, como o Reinado Internacional do Café, na Colômbia, em que foi vice-campeã, e o Miss Turismo Internacional, na Malásia, quando ficou em quinto lugar.
Depois do concurso em terras asiáticas, Júlia achou que sua missão nas passarelas havia se encerrado. Ledo engano. “Quando vi a Mayra Dias, que tem uma trajetória muito parecida com a minha, vencer o Miss Brasil 2018, fiquei motivada em participar”, afirma. Para isso, precisava da faixa de Miss Minas Gerais, que levou em 18 de fevereiro deste ano, menos de um mês antes da disputa nacional. A mãe de Júlia, a professora de gestão de pessoas Patrícia Horta diz que antes de a filha iniciar no universo dos concursos de beleza, achou prudente lhe fazer alguns alertas. “Disse a ela que a rotina poderia mudar de maneira drástica”, conta. “Mas eu quero que mude”, respondeu a filha, determinada. A partir daí, Patrícia diz que ela e toda a família passaram a apoiá-la 100%. “O sonho é dela, mas sonhamos juntos”, afirma.
O jornalista e roteirista Ricky Hiraoka foi um dos jurados da etapa nacional que se surpreenderam com a presença de Júlia na passarela. “Não a conhecia antes do concurso. De cara, confesso que não me chamou tanta atenção. Mas, logo no começo do desfile, minha opinião mudou”, conta. “Ela entrou com energia para ganhar. Tem um carisma muito grande”, diz Ricky, para quem a juiz-forana levou o título por atributos que ultrapassam o físico. “Não dá para ficar indiferente a ela.”
Logo após a final do Miss Brasil, Júlia se mudou para São Paulo, onde iniciou a preparação para o tão esperado Miss Universo, que ainda não tem data ou local confirmados. Natália Guimarães, que foi vice no concurso em 2007, destaca que a comunicação é item essencial na etapa mundial e isso Júlia tem de sobra. Entre os diversos compromissos para aprimorar-se o máximo possível até lá, Júlia diz que espera, principalmente, melhorar o desfile. “Quero que ele seja mais impactante.”
Com a juiz-forana, os súditos mineiros e brasileiros esperam que seja quebrado o jejum de 50 anos de brasileiras no posto mais alto da beleza mundial (as duas únicas vencedoras do país foram a gaúcha Iêda Maria Vargas, em 1963, e a baiana Martha Vasconcellos, em 1968) e torcem pela primeira mineira a ganhar o título. Em relação ao seu Instagram, se o tabu for dissipado, o número de seguidores também deve alcançar a casa dos milhões.
Mineiras coroadas
Conheça as três últimas Miss Minas Gerais a conquistar o título nacional antes de Júlia Horta
Débora Lyra
Miss Brasil 2010
Onde nasceu: Vila Velha (ES)
Idade: 29 anos
Natália Guimarães
Miss Brasil 2007
Onde nasceu: Juiz de Fora
Idade: 34 anos
Nayla Micherif
Miss Brasil 1997
Onde nasceu: Ubá
Idade: 42 anos