Revista Encontro

Pet | Comportamento

Saiba como são treinados os cães que ajudam no resgate em Brumadinho

Além de salvar vidas, os cães farejadores, que ganharam as manchetes pela atuação no desastre da Vale são muito populares e adoram uma boa brincadeira

Daniela Costa
O sargento Edmar Carvalho e o tenente Lucas Costa, ao lado de alguns dos seus grandes aliados nas missões: o pastor belga malinois Chronos e os border collies Baruck e Thor - Foto: Alexandre Rezende/Encontro
Quem vê Thor, cão da raça border collie de 5 anos, se divertindo ao correr atrás de uma bolinha, nem imagina quantas pessoas ele já ajudou a resgatar. No Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, homens e animais trabalham em equipe. Cada cão possui um treinador e a dupla, chamada de binômio, atua em parceria nas ocorrências. Além de Thor, em Belo Horizonte há mais seis animais: os border collies Baruck, de 1 ano, Horus, de 1, e Bolt, de 4, e os pastores belga malinois Anúbis, de 3 anos, Chronos, de 1, e Zeus, de 4. No canil da corporação localizado em Uberaba, no Triângulo Mineiro, outros nove cães também foram treinados desde filhotes. Um deles atua exclusivamente na área de cinoterapia auxiliando crianças, idosos e deficientes em tratamentos de saúde.

Apesar da tarefa nada fácil de tentar salvar vidas, a rotina desses heróis de quatro patas não é nenhum tormento. O tenente Lucas Costa, comandante do pelotão de busca e salvamento com cães, conta que os treinos são realizados de acordo com o perfil de cada animal e sempre com estímulos de reforço positivo. "Eles agem no instinto de caça e recompensa.
Então, sempre que encontram o que procuramos, ganham o que gostam". Mordentes e bolinhas são os brinquedos favoritos dos peludos. Antes de irem para campo, os animais são treinados por até dois anos, sendo desafiados a superar obstáculos desde pequenos. Para não estressá-los ou exagerar na dose, os treinos são sempre curtos e realizados algumas vezes ao dia. Assim, o animal tem o tempo necessário para descansar e assimila o treino como um momento de descontração. Nas buscas realizadas na tragédia de Brumadinho, os cães na ativa trabalham cerca de 40 minutos e descansam por uma hora, em dias intercalados, e somente nos locais previamente avaliados pelos bombeiros. "Nas últimas semanas, 80% dos corpos foram localizados pelos cães. Considerando o pequeno efetivo canino, o desempenho deles é muito eficiente", diz o tenente.

Dotados de olfato apurado, os cães conseguem detectar odores inimagináveis para os seres humanos, tornando-se parceiros valiosos na busca de pessoas, substâncias, doenças, explosivos, entre outros. O nariz esponjoso e molhado dos animais é capaz de capturar facilmente os odores que a brisa traz, identificando rapidamente qual a sua origem. Eles têm ainda a incrível habilidade de cheirar separadamente com cada narina. Além de serem bons de fuça, os animais selecionados também têm de ser curiosos e perseverantes. Assim, não fazem corpo mole no serviço e não desistem facilmente da busca.

O sargento Edmar Carvalho se dedica ao treinamento dos cães militares, entre eles o pastor belga malinois Chronos: "Eles adoram ser desafiados e nós os estimulamos, sem incitar sua agressividade" - Foto: Alexandre Rezende/EncontroAlgumas raças são mais indicadas para o trabalho, mas os vira-latas também podem adaptar-se. "Já tivemos cães sem raça definida que eram um sucesso nas ocorrências", diz o tenente Lucas.
"Tudo vai depender da personalidade e desempenho do animal". De temperamento dócil, resistentes e extremamente ativos, os labradores estão entre os mais cotados. Assim como os border collies, tidos como a raça mais inteligente do mundo. Os pastores alemães e belgas malinois também se destacam, tanto pelo rápido aprendizado, quanto pela agilidade e força.

Experiente no assunto, o sargento Edmar Carvalho se dedica ao treinamento dos cães militares, entre eles o pastor belga Chronos. Com 1 ano de idade, Chronos responde rápido a seus comandos. "Eles adoram ser desafiados e nós os estimulamos, sem incitar sua agressividade e sem deixá-los na defesa se sentindo acuados", afirma. Os treinamentos para localização de cadáveres, por exemplo, são feitos com pequenas amostras inseridas dentro de tubos de PVC furado. Assim, é possível identificar odores, sem ter contato com os corpos. "Os cães nunca se aproximam da vítima. Quando as localizam mantêm-se a uma distância de um metro e avisam seus condutores dando sinais", explica o sargento.
Para conduzir um cão de busca e salvamento é preciso estar em sintonia com o animal e saber técnicas de adestramento.

O sargento Leonardo Costa Pereira e o border collie Thor são exemplo de parceria que dá certo. Há cinco anos eles atuam juntos e já salvaram muitas vidas. "Ele já foi para várias missões comigo. Estivemos em Mariana, Herculano, Sardoá, Brumadinho. É um grande herói", diz. Com alimentação de qualidade e os cuidados veterinários necessários, os pets chegam a trabalhar até os 8 anos de idade. Após a aposentadoria, permanecem com seus condutores ou são doados para alguém qualificado a garantir seu conforto e bem-estar.  A partir daí, nada de trampo. Só sombra, petiscos e água fresca..