O sargento Edmar Carvalho e o tenente Lucas Costa, ao lado de alguns dos seus grandes aliados nas missões: o pastor belga malinois Chronos e os border collies Baruck e Thor - Foto: Alexandre Rezende/EncontroQuem vê Thor, cão da raça border collie de 5 anos, se divertindo ao correr atrás de uma bolinha, nem imagina quantas pessoas ele já ajudou a resgatar. No Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, homens e animais trabalham em equipe. Cada cão possui um treinador e a dupla, chamada de binômio, atua em parceria nas ocorrências. Além de Thor, em Belo Horizonte há mais seis animais: os border collies Baruck, de 1 ano, Horus, de 1, e Bolt, de 4, e os pastores belga malinois Anúbis, de 3 anos, Chronos, de 1, e Zeus, de 4. No canil da corporação localizado em Uberaba, no Triângulo Mineiro, outros nove cães também foram treinados desde filhotes. Um deles atua exclusivamente na área de cinoterapia auxiliando crianças, idosos e deficientes em tratamentos de saúde.
Apesar da tarefa nada fácil de tentar salvar vidas, a rotina desses heróis de quatro patas não é nenhum tormento. O tenente Lucas Costa, comandante do pelotão de busca e salvamento com cães, conta que os treinos são realizados de acordo com o perfil de cada animal e sempre com estímulos de reforço positivo. "Eles agem no instinto de caça e recompensa.
Então, sempre que encontram o que procuramos, ganham o que gostam". Mordentes e bolinhas são os brinquedos favoritos dos peludos. Antes de irem para campo, os animais são treinados por até dois anos, sendo desafiados a superar obstáculos desde pequenos. Para não estressá-los ou exagerar na dose, os treinos são sempre curtos e realizados algumas vezes ao dia. Assim, o animal tem o tempo necessário para descansar e assimila o treino como um momento de descontração. Nas buscas realizadas na tragédia de Brumadinho, os cães na ativa trabalham cerca de 40 minutos e descansam por uma hora, em dias intercalados, e somente nos locais previamente avaliados pelos bombeiros. "Nas últimas semanas, 80% dos corpos foram localizados pelos cães. Considerando o pequeno efetivo canino, o desempenho deles é muito eficiente", diz o tenente.
Dotados de olfato apurado, os cães conseguem detectar odores inimagináveis para os seres humanos, tornando-se parceiros valiosos na busca de pessoas, substâncias, doenças, explosivos, entre outros. O nariz esponjoso e molhado dos animais é capaz de capturar facilmente os odores que a brisa traz, identificando rapidamente qual a sua origem. Eles têm ainda a incrível habilidade de cheirar separadamente com cada narina. Além de serem bons de fuça, os animais selecionados também têm de ser curiosos e perseverantes. Assim, não fazem corpo mole no serviço e não desistem facilmente da busca.
O sargento Edmar Carvalho se dedica ao treinamento dos cães militares, entre eles o pastor belga malinois Chronos: "Eles adoram ser desafiados e nós os estimulamos, sem incitar sua agressividade" - Foto: Alexandre Rezende/EncontroAlgumas raças são mais indicadas para o trabalho, mas os vira-latas também podem adaptar-se. "Já tivemos cães sem raça definida que eram um sucesso nas ocorrências", diz o tenente Lucas.
"Tudo vai depender da personalidade e desempenho do animal". De temperamento dócil, resistentes e extremamente ativos, os labradores estão entre os mais cotados. Assim como os border collies, tidos como a raça mais inteligente do mundo. Os pastores alemães e belgas malinois também se destacam, tanto pelo rápido aprendizado, quanto pela agilidade e força.
Experiente no assunto, o sargento Edmar Carvalho se dedica ao treinamento dos cães militares, entre eles o pastor belga Chronos. Com 1 ano de idade, Chronos responde rápido a seus comandos. "Eles adoram ser desafiados e nós os estimulamos, sem incitar sua agressividade e sem deixá-los na defesa se sentindo acuados", afirma. Os treinamentos para localização de cadáveres, por exemplo, são feitos com pequenas amostras inseridas dentro de tubos de PVC furado. Assim, é possível identificar odores, sem ter contato com os corpos. "Os cães nunca se aproximam da vítima. Quando as localizam mantêm-se a uma distância de um metro e avisam seus condutores dando sinais", explica o sargento.
Para conduzir um cão de busca e salvamento é preciso estar em sintonia com o animal e saber técnicas de adestramento.
O sargento Leonardo Costa Pereira e o border collie Thor são exemplo de parceria que dá certo. Há cinco anos eles atuam juntos e já salvaram muitas vidas. "Ele já foi para várias missões comigo. Estivemos em Mariana, Herculano, Sardoá, Brumadinho. É um grande herói", diz. Com alimentação de qualidade e os cuidados veterinários necessários, os pets chegam a trabalhar até os 8 anos de idade. Após a aposentadoria, permanecem com seus condutores ou são doados para alguém qualificado a garantir seu conforto e bem-estar. A partir daí, nada de trampo. Só sombra, petiscos e água fresca..