Estado de Minas EDUCAÇÃO

Saiba como escolas de BH ensinam ecologia e sustentabilidade

Projetos interdisciplinares e mão na massa são ferramentas para instigar os alunos


postado em 17/06/2019 16:12 / atualizado em 17/06/2019 17:31

(foto: Violeta Andrada)
(foto: Violeta Andrada)
Sustentabilidade tem sido um termo cada vez mais em pauta e certas medidas em prol do meio ambiente estão até na moda, como a redução no uso de canudinhos e sacolas plásticas (essas duas questões, aliás, até discutidas pelo poder público e transformadas em leis ainda que controversas em algumas cidades). Também dentro das escolas, o assunto tem sido mais trabalhado nas últimas décadas. Segundo a professora assistente do curso de geografia da UFMG Valéria Roque, por força das legislações educacionais, a temática ambiental tornou-se mais frequente no últimos 20 anos. Contudo, diz, abordar esse assunto apenas sob a perspectiva de ações individuais não é suficiente para repensar o modo como vive grande parte da população mundial. Para Valéria, além de falar de mudança de hábitos, é preciso pensar de forma mais ampla sobre questões como consumo e modo de produção, e ter uma mentalidade crítica quanto ao tema. “Não se pode jogar a questão só para o indivíduo. É o repensar de um modo de vida, o que exige mudanças estruturais”, explica. “Sem o efetivo interesse de alteração do nosso modo de vida, concebido em larga escala e como ação política, a ideia de sustentabilidade se torna um clichê.”

A professora ressalta ainda que o assunto também envolve refletir sobre diversidade de povos e, dentro do nosso próprio país, sobre a questão das desigualdades. Em relação à forma como o tema é trabalhado pelas instituições, ela explica que o ensino nos três níveis (infantil, fundamental, médio) deve ocorrer por investigação. Os desafios são muitos e, dentro do que prevê a Base Nacional Comum Curricular, cada escola aborda conceitos relacionados à sustentabilidade de uma forma. Acompanhando uma tendência dos últimos anos no ensino, no geral, mais projetos no estilo “mão na massa” e que sejam transdisciplinares têm sido propostos. Ponto para os alunos, que aprendem questionando, procurando soluções, fazendo. Confira, abaixo, como algumas das instituições privadas de BH têm trabalhado esses temas:

Mudanças individuais e comunitárias

O colégio Santo Agostinho, unidade Contagem, criou há quase 10 anos uma plataforma chamada Terráqueos, em que se reúnem as propostas da instituição em relação à sustentabilidade. A partir da plataforma, várias ações começaram a ser feitas. Toda a comunidade se envolve, por exemplo, na coleta seletiva, para a qual os alunos levam bags para casa e trazem de volta com os lixos recicláveis, aos quais o colégio dá destino. Também puderam conversar com a catadora de papel que trabalha em conjunto com a escola, para compreender que o ciclo é mais amplo do que a ação de jogar o papel no lixo adequado. Uma vez ao ano, o mesmo é feito com lixos eletrônicos, e agora também com o recolhimento de óleo. A iniciativa da plataforma se expandiu para toda a rede agostiniana. A aluna Júlia Altoé, de 10 anos (na foto, com a bag que traz de casa cheia de lixo reciclável), fala sobre o tema na escola e em casa. “Minha mãe diz que aprendeu muita coisa na faculdade, mas que aprende mais conosco.”

Empreendedorismo sustentável

(foto: Violeta Andrada)
(foto: Violeta Andrada)
No Programa de Empreendedorismo Socioambiental (ProEsa), que faz parte do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo (iLO), os alunos do Loyola levantam problemas socioambientais e pensam em soluções via empreendedorismo, com mentoria da Fundação Dom Cabral. No ano passado, o grupo vencedor fez uma proposta de projeto de compostagem. Após quebrarem a cabeça, conversarem com empresas de reciclagem e calcularem quanto ganhariam pelo adubo produzido, conseguiram apresentar um projeto viável economicamente. “O que foi possível perceber é que não é simples, mas dá para fazer muito melhor do que fazemos hoje, em relação ao meio ambiente“, conta o líder do grupo, Gustavo Said (na foto, com a colega de projeto, Isabella Gonçalves).

Reciclagem no dia a dia

(foto: Violeta Andrada)
(foto: Violeta Andrada)
No Instituto Tarcísio Bisinotto, os pequenos trabalham quase exclusivamente com reciclados o ano todo, em todos os projetos. A comunidade escolar é envolvida, e já faz parte da rotina levar materiais recicláveis para a instituição, quando necessário. Até os 2 anos, os alunos recebem as embalagens já preparadas para o reúso, mas a partir dos 3 eles mesmos participam da limpeza e preparo. Para a festa junina deste ano, cujo tema é “Saberes da Roça”, alunos do infantil 3 trabalham com os “utensílios da roça”. Por isso, estão engajados na produção, com uso de latinhas, de réplicas de canecas esmaltadas, que serão os convites da festa. Na foto, Luiza Moraes (de laço no cabelo) e Isabela Costa pintam suas “canequinhas”.

De retalhos a roupinhas

(foto: Violeta Andrada)
(foto: Violeta Andrada)
Há 21 anos, o Edna Roriz realiza uma campanha do agasalho antes das férias de julho. Mas não apenas agasalhos são doados. Existe um trabalho longo, de meses, em que os alunos transformam peças de roupa adultas em roupinhas de criança, que entregam ao Hospital Sofia Feldman. “Uma camisa masculina tamanho M faz quatro bodies de neném”, explica a estudante Pietra Multari, da segunda série do ensino médio (na foto, com os colegas Artur Russo e Lucas Portugal, na confecção das roupas). “Usamos tudo, da manga da camisa ao bolso de uma calça jeans. O objetivo é fazer com que a peça possa ser usada o máximo possível. E com isso repensamos também o consumo, o ciclo todo”, diz.

Ecossistemas do mundo todo

(foto: Violeta Andrada)
(foto: Violeta Andrada)
Na Scuola Materna, a educação infantil da Fundação Torino, o tema do ano são as “Florestas pelo Mundo”. Os pequenos trabalharam projetos e temas para entender o que são as florestas e por que cuidar delas. Ao longo do ano letivo, fizeram desenhos de plantas exóticas, conheceram a técnica japonesa de jardinagem chamada kokedama e levaram suas plantas para casa. Para a Feira da Cultura, que aconteceu em maio passado, transformaram material reciclado em animais. “Usamos papelão e cola, e conseguimos fazer os animais ficarem com essa forma e duros assim”, explica Lucas Costa, de 5 anos (na foto, com os colegas, da esq. para a dir. Áurea Pourkhesaly, Valentina Mendes e Bernardo Martins).  

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