O som das marteladas e a presença de gruas e andaimes pela cidade anunciam a boa-nova: o mercado imobiliário saiu da inércia. Essa frase não é fruto apenas de uma sensação positiva de quem atua no setor, mas é referendada por números. Conforme o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado no final de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois de 20 trimestres consecutivos de queda - em relação a igual período do ano anterior - o segmento da construção cresceu 2% no segundo trimestre em 2019.
No país, registrou-se incremento de 11,8% nos lançamentos imobiliários. Em Belo Horizonte e região metropolitana, em junho, foram lançadas 256 unidades de apartamentos e vendidas 335, de acordo com o Sindicato da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). As vendas, portanto, estão superando os lançamentos, o que mostra que o estoque começa a abaixar. Como consequência, as construtoras já projetam mais lançamentos para os próximos meses.
Só o empresário Alexandre Lodi, que recentemente adquiriu a Construtora Caparaó, do segmento de alto luxo, sinalizou que a empresa vai investir cerca de 300 milhões de reais na compra de terrenos para novos empreendimentos em 2020 (confira perfil do investidor na página 50). Já a Construtora e Incorporadora Terrazzas projeta para este ano um crescimento de 60%, em relação a 2018. No primeiro semestre de 2019, a empresa lançou o edifício Inconfidentes 766, no Funcionários, com 72 apartamentos. De acordo com Bruno Magalhães, sócio da construtora, 70% das unidades já foram vendidas. Em outro empreendimento da Terrazas, no Vila da Serra, em Nova Lima, também lançado neste ano, dos 56 apartamentos quase metade já foi comercializada. "Belo Horizonte atingiu em agosto um dos índices mais baixos de estoque de imóveis, o que comprova o reaquecimento do mercado imobiliário que, entre outros fatores, torna-se uma excelente alternativa de investimento frente às constantes reduções da taxa Selic", diz Bruno Magalhães.
As construtoras Somattos e Patrimar também estão comemorando a volta do mercado imobiliário. Elas se uniram para erguer o Epic, empreendimento na Savassi que, no logo no lançamento, em agosto, registrou a venda de 80 de suas 100 unidades. "O residencial já representa o maior faturamento mensal da empresa", revela Humberto Mattos, diretor comercial da Somattos Engenharia. Ele espera o mesmo sucesso quando lançar, ainda neste ano, o Lumina, que será erguido na rua Aimorés, próximo ao DiamondMall. "O simples fato de colocarmos a marca do empreendimento no tapume já nos gerou grande procura", afirma Humberto. Diante dos recentes lançamentos da empresa, somados aos que estão por vir ainda em 2019, a Somattos calcula um VGV (potencial de vendas) de 410 milhões de reais.
No bairro Jaraguá, a Patrimar abriu as vendas de outro edifício residencial, com 300 unidades, e a procura tem sido significativa, com 70 apartamentos comercializados. Lucas Couto, diretor comercial e de marketing da empresa, está confiante que o setor vai manter os indicadores positivos, mas sem euforia. "Percebemos um crescimento mais cadenciado e sadio, o que é ótimo para o mercado", diz Lucas.
Quando o segmento imobiliário vai bem, é sinal de que a economia do país também está entrando nos rumos, já que a construção civil é responsável por 55% dos investimentos do país, de acordo com Daniel Furletti, economista e coordenador sindical do Sinduscon-MG. Ele afirma, ainda, que um conjunto de fatores conspiram para uma melhora dos ânimos desse nicho. É o caso, por exemplo, da inflação controlada e da taxa básica de juros (Selic), prevista para fechar o ano abaixo de 5%. Selic baixa significa juros menores para financiamentos. "Estamos vivendo o melhor momento da construção civil desde 2014", diz Daniel.
Para Rafael Menin, presidente da MRV Engenharia, o mercado imobiliário está em ascensão devido às reformas que estão sendo engatilhadas em Brasília. "A não aprovação delas pode gerar uma estagnação da economia", diz. Apenas no estado, a empresa espera lançar neste ano cerca de 1.400 unidades. "O público tem visitado mais os nossos estandes e a procura por imóveis novos e usados aumentou", diz Amarildo Oliveira, sócio-diretor da incorporadora Minas Brisa. Para 2019, ele espera crescimento de 30% nas vendas em relação a 2018. Em fevereiro, a Minas Brisa participou do lançamento de dois empreendimentos no Vila da Serra: Up Town (114 unidades) e Prime House (58 unidades), com mais de 40% das unidades já comercializadas.
Ricardo Pitchon, diretor da Pitchon Imóveis, vislumbra aumento de 15% nas vendas em relação a 2018. Nos próximos meses, ele prevê o lançamento de 1,2 mil unidades em BH e Nova Lima. "Estamos observando, agora, a volta do investidor, pois o imóvel passa a ser um ativo muito valioso", afirma Ricardo. Voltou à cena a pessoa que adquire imóveis para alugar. Marcos Paulo Alves de Souza, diretor da PHV Engenharia, compartilha da mesma opinião: "Pela primeira vez, sentimos um crescimento também porque o mercado da locação voltou, já que antes fazíamos apenas vendas pontuais para esse público", afirma. No segundo semestre deste ano e até junho de 2020, a PHV deve lançar oito empreendimentos na capital e em Nova Lima.
Diretor de novos negócios da Canopus, Paulo Araújo revela que em 2020 a empresa vai lançar dois empreendimentos com VGV total de 450 milhões de reais. Entre eles, um residencial no bairro Santo Antônio, que será erguido no mesmo terreno das famosas casinhas tombadas, sendo uma delas a que abrigou o escritor Guimarães Rosa. No segundo semestre, será lançado um empreendimento de uso misto, residencial e corporativo, em frente à Igreja da Boa Viagem. "Devemos lançar aproximadamente 2 bilhões de reais até dezembro de 2020, sendo metade em São Paulo e a outra metade entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte, principais praças de atuação da Canopus", diz Paulo.
Na Construtora EPO, os diretores esperam lançar empreendimentos com VGV de 500 milhões de reais. "Devemos entrar em um círculo virtuoso. Temos seis projetos iniciando neste ano e mais cinco no próximo", afirma Marcelo Carvalho, gestor de vendas do grupo. "Antes, não se lançava nada e os clientes estavam sem opção." Os especialistas e construtores, portanto, esperam um cenário bem mais ameno nos próximos meses. "Será um crescimento lento, mas consistente", afirma Flávia Vieira, vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi-MG). Que assim, seja!