Revista Encontro

ESPECIAL

Mineiros do Ano 2019 | Dom Serafim

'Não custa nada fazer o bem'. Esse era o lema do cardeal ícone da igreja católica em Minas, que transformou a educação em Belo Horizonte

Daniela Costa
Dom Serafim, em foto de 2014: de perfil conciliador, ele foi fundador de vários projetos sociais em prol da educação e deixa um legado de amor e generosidade - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press
"Eu nasci, por graça de Deus, no Vale do Jequitinhonha...", dizia dom Serafim Fernandes de Araújo. Primogênito de 16 filhos, o cardeal mineiro sempre teve a caridade como principal bandeira e não se cansava de repetir: "Não custa nada fazer o bem".  Admirado por sua postura e erudição, o religioso, que morreu em outubro de 2019, aos 95 anos de idade, foi arcebispo emérito de Belo Horizonte e zelou ao longo de cinco décadas pela arquidiocese da capital.

> Leia mais: Saiba quem foram os mineiros que se destacaram em 2019, eleitos pela revista Encontro

Perfil:

Dom Serafim Fernandes de Araújo
  • Nasceu em Minas Novas (MG), Morreu aos 95 anos,em 8 de outubro de 2019

  • Arcebispo emérito de Belo Horizonte

  • Fundador da Fundação Dom Cabral e Fundação José Fernandes de Araújo

  • Autor do Projeto Pastoral Construir a Esperança
Dom Serafim foi o autor do Projeto Pastoral Construir a Esperança que, desde sua criação, em 1990, se destacou em todo o país. Criado por uma tia, a qual amava muito, sofria com as desavenças entre os pais biológicos e os adotivos. "Eu não sabia de quem eu era", declarava. Quando descobriu que queria ser padre, aos 7 anos de idade, percebeu que não seria de mais ninguém. Pertenceria a todos que dele necessitassem.

Em fevereiro de 1937, após três dias de viagem a cavalo sob chuva forte, ele e o pai venceram a distância entre as cidades de Itamarandiba e Diamantina. Aquele seria o primeiro dia do menino no seminário onde viveria por muitos anos. Chegou no dia da Purificação de Nossa Senhora.
Viu tanta beleza no ambiente iluminado por milhares de velas que se extasiou. O tempo passou e no seu aniversário de 21 anos recebeu um telegrama que mudaria mais uma vez seu destino. Havia sido escolhido pelo reitor para estudar em Roma, na Itália.

Desta vez foram 21 dias de viagem, em navio. Nem mesmo os mares revoltos e o terror da II Guerra tiraram o entusiasmo característico da juventude. "Nem pensávamos em perigo. E tive a satisfação de ser recebido pelo Papa Pio XII", contava. Em março de 1949 celebrou sua primeira missa. De volta ao Brasil, em setembro de 1951, retornou à pequena Itamarandiba. Foi aos conterrâneos do Vale do Jequitinhonha que levou suas primeiras palavras de alento, as percursoras de milhares de homilias que viriam nos próximos anos.

Em maio de 1959, aos 34 anos, foi o primeiro bispo brasileiro a ser escolhido pelo Papa João XXIII.  Até hoje, é o mais novo a ocupar a função. Em 1961 foi convidado pelo pontífice a participar como Padre Conciliar durante o Concílio Vaticano II. Nesse período, transferiu-se para BH, para atuar ao lado de dom João Resende Costa, ao qual sucedeu no governo da arquidiocese, em 1986, se tornando o terceiro arcebispo metropolitano da capital. Foi o reitor mais longevo da PUC Minas, no período de 1960 a 1981.Durante a ditadura, chegou a negociar com os militares em prol de estudantes presos.

Em 1976, criou a Fundação Dom Cabral, onde desenvolveu inúmeros projetos sociais. "Seu legado se estendeu por vários aspectos da educação, incluindo de maneira especial os estudantes carentes", diz Emerson de Almeida, cofundador e presidente da FDC.
A nomeação como cardeal veio em janeiro de 1998. Já o título de arcebispo emérito de BH foi conferido em 2004, quando dom Walmor Oliveira de Azevedo assumiu o governo da Arquidiocese. "Dom Serafim soube exercitar a compreensão, alargar horizontes e bem lidar com os desafios da sociedade", diz o arcebispo e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Acompanhado por uma multidão, o funeral de dom Serafim durou três dias e seu corpo foi sepultado na cripta da Igreja da Boa Viagem.
.